Caro leitor, certamente, você já tenha tido acesso aos mais variados conteúdos sobre esse tema, provavelmente, com uma linguagem específica do universo da psiquiatria e psicanálise.
Visando uma melhor compreensão, escrevi esse artigo utilizando uma linguagem bem cotidiana para que você possa, ao mesmo tempo que ler essa matéria, traçar “links” com pessoas com as quais tenha se relacionado de alguma forma, ou mesmo identificar alguns personagens da ficção.
Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa da Silva, autora do livro “Corações descontrolados”, o Transtorno de Personalidade Bordeline afeta cerca de 1% a 6% da população mundial e sua prevalência é maior em mulheres.
O termo “Borderline” sugere que o portador desse transtorno vive às margens ou no limite das emoções, ou seja, são emoções que transbordam. O sujeito “borderline” tem como principal característica as dificuldades nos contatos afetivos e íntimos, pois a sua instabilidade de humor torna qualquer relacionamento praticamente insustentável.
As alternâncias de humor são muito rápidas, ou seja, acontecem num intervalo de tempo muito curto. Por exemplo, a pessoa acorda feliz da vida e super otimista, mas um acontecimento corriqueiro que a desagrada, como por exemplo, um objeto que cai, coloca tudo a perder, levando-a a experimentar os mais profundos sentimentos de fúria e irritabilidade.
É possível que o Bordeline seja confundido com o bipolar, porém, algo os difere: o bipolar vive fases de euforia e tristeza, contudo, há um espaço de tempo considerável entre as duas fases, já o Borderline vive as duas fases praticamente misturadas, o espaço de tempo entre elas praticamente não existe, de um instante para o outro, o humor pode despencar ou elevar.
O carro chefe do comportamento instável do Borderline é o medo do abandono e da rejeição, ele sofre de forma visceral com a ideia do abandono real ou imaginário. Ele precisa estar “grudado” em outro para validar a sua existência. Ele sempre se projeta no outro, praticamente assumindo a personalidade alheia. Isso pode ser percebido, por exemplo, nos casos em que uma mulher namora um roqueiro, e, mesmo sem interessar-se por rock, investe em aprender o máximo possível sobre esse gênero musical, assumindo uma personalidade que não é dela. O borderline possui, essencialmente, uma personalidade muito fluida, uma espécie de vazio existencial, por isso, ele acaba assumindo a personalidade das pessoas com as quais se relaciona.
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Os portadores desse transtorno se dividem em dois perfis: os explosivos e os implosivos. Os primeiros são aquelas pessoas que extravasam tudo o que sentem no ambiente externo, seja agredindo as pessoas verbal ou fisicamente, ou quebrando objetos. Já os implosivos, não externam as suas emoções destrutivas, porém, elas implodem por dentro e costumam adotar comportamentos autodestrutivos como ferir o próprio corpo, e em casos mais extremos, o suicídio.
Os “borderlines” são o oposto dos psicopatas, pois eles sofrem e fazem os outros sofrerem por excesso de sentimento, o oposto dos psicopatas que causam o sofrimento alheio sem ser afetado por isso, uma vez que não experimentam nenhum sentimento. O borderline é 100/% emoção e 0% razão enquanto o psicopata é 100% razão e 0% emoção, conforme afirma a Psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva.
Nos contatos superficiais, os borderlines são excelentes companhias, pois são extrovertidos, intensos e divertidos, porém se a convivência ganha um caráter mais íntimo, começam a aparecer as dificuldades e os conflitos. É na intimidade que o Borderline revela-se como inseguro, controlador e ciumento. Ele, por ter muito receio de ser rejeitado, sufoca a pessoa (amigo ou namorado) e acaba atraindo a tão temida rejeição por incomodar demais o outro.
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Ainda de acordo com a Psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, as mães Borderlines são aquelas que cobram demais dos filhos e nunca se doam a eles, pois estão focadas demais em controlar a vida do parceiro amoroso. São mulheres extremamente dramáticas e inseguras, percebendo ameaça de abandono e rejeição mesmo nos contextos em que não há motivos para isso.
Os Borderlines possuem uma péssima imagem de si próprios, tanto do ponto de vista físico, intelectual ou patrimonial. Eles estão sempre se avaliando de forma muito negativa, sempre aquém do que realmente são.
Há ainda a predisposição ao apego a tudo o que for negativo e vinculado ao sofrimento, por exemplo, uma mulher que levou um fora na adolescência irá lembrar disso vinte anos depois com tanto sofrimento como se tivesse ocorrido na semana passada.
De acordo com a psiquiatra e neurologista Maria Fernanda Caliani, o diagnóstico só será possível no final da adolescência ou na fase adulta, uma vez que os primeiros traços do transtorno costumam manifestar-se com as primeiras decepções amorosas.
Quanto às causas desse transtorno, não há um fator desencadeador específico, e sim uma conjunção de fatores que podem estar relacionados ao abuso sexual na infância, abandono, negligências, vivências traumáticas, separações abruptas etc.
Sobre o tratamento, não é possível falar em cura, mas o controle é plenamente possível. Para isso é necessário que o indivíduo faça uso de medicamentos para o controle da ansiedade, e psicoterapias para que ele tenha acesso às questões que lhe causam conflitos e encontrar a melhor forma de administrá-las.
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