Sempre preferi o conceito de alegria ao de felicidade. Felicidade me parece um estado muito difícil de atingir. Uma condição perene de satisfação que dificilmente será experimentada. Sempre haveria uma dor, um desconforto corporal por conta de uma noite mal dormida, uma unha encravada ou um coração um pouco machucado que nos impediria de estar feliz… esse sentimento de plenitude.

Já o estado de alegria é bem mais palpável, possível de atingir. Entendo a alegria como uma boa gargalhada por conta de uma piada suja, uma sensação gostosa na pele causada pelo clima do início do outono ou aquela satisfação de poder deitar depois de um dia de muito trabalho. Alegria tinha, para mim, a ver com a Nona Sinfonia de Beethoven ou com o comportamento de São Francisco de Assis.

Não é obrigatório que tudo se encontre em lugares exatos, que tudo esteja em condição ótima para se ter alegria por um breve momento. Posso ficar alegre mesmo contra todas as condições de uma dada situação. Posso gargalhar na cara do perigo ou ter uma pequena sensação de bem estar ao perceber que, mesmo na merda, dá para ficar quentinho.

A tristeza, assim como sentimento de vazio, é uma emoção contagiosa. Observe como, ao sentir um pequeno ponto de tristeza, ela é capaz de sair infectando e dominando vários outros pontos de vista próximos. Se fico triste por um relacionamento posso passar a ficar triste, também, por várias outras situações que não possuem, necessariamente, ligação direta.

A atitude alegre é um dos mais interessantes antídotos que percebo, frente ao doloroso percurso de certos momentos que somos obrigados a viver. Quantas vezes vi meus clientes surpresos em serem capazes de rir de uma história engraçada ou alguma ironia que solto sem querer [ou talvez querendo] durante a sessão, sendo que minutos antes quase morriam de pena de si mesmos.

Nesse pequeno ato de rebeldia sugerimos a possibilidade de não ser dominado pelo sofrimento. Por isso não é tão interessante buscarmos por felicidade ou plenitude, mas, ao invés disso, aceitar que coisas boas podem aparecer de qualquer canto aparentemente árido… como aquelas flores que teimam em surgir no meio do asfalto.

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Marcelo Marchiori é psicólogo clínico, especialista em interpretação de sonhos e imaginação ativa. Escreve [quase] diariamente sobre psicologia, comportamento e sociedade. Pode ser seguido por seu perfil no Facebook. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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