“Tudo que eu gosto é ilegal, imoral, engorda ou visualiza e não responde”. Piadinhas como esta, sobre o desconforto de ter uma mensagem visualizada e não respondida, tem sido cada vez mais comum nas redes sociais.
Engana-se quem acha que o incômodo é referente apenas ao jogo da paquera e relacionamentos amorosos. Já vi situações de trabalho se complicarem absurdamente por conta desse hábito que algumas pessoas cultivam, bem como amizades estremecerem.
Ok, antes de qualquer coisa é preciso reconhecer que o outro não está no mundo para atender nossas expectativas e que não tem a obrigação de responder algo no tempo que esperamos/precisamos. Que nossa ansiedade é problema nosso – e no máximo do nosso terapeuta. Qualquer pessoa de bom senso concorda com isso, certo?
Se fossemos responder de pronto a todas as mensagens que recebemos diariamente não faríamos outra coisa da vida. Ok, creio que estamos de acordo com relação a isso. Adiante.
A pergunta que me faço quando me vejo nesse tipo de situação é: por que o ser humano visualiza se ele SABE que não terá tempo de responder naquele momento? Se ele SABE que não tem uma resposta satisfatória para dar e que não vai responder nada?
Visualizar uma mensagem de uma pessoa próxima e não respondê-la em 24 horas é, sim, falta de respeito. É tratar o outro como se fosse desimportante. No mínimo é deselegante.
Salvo raras exceções, como de pessoas que perseguem, enchem o saco, perturbam, cobram, solicitam nossa atenção em momentos inapropriados, enviam milhões de mensagens repetitivas, pessoas que sequer conhecemos direito. Essas, convenhamos, já deviam estar bloqueadas.
Às vezes acontece de não termos tempo, mesmo, de responder. De deixarmos para mais tarde e acabarmos esquecendo quando nos damos conta de que o assunto não era urgente. Ou de querermos refletir sobre a mensagem que recebemos para responder com calma e propriedade. Mas algumas pessoas fazem disso uma prática diária, um hábito.
Sobre essas pessoas que fazem disso um hábito, uma prática diária, enfim, um estilo de vida, tenho uma teoria de botequim – ou melhor, várias:
1. Elas podem ser pessoas curiosas: não conseguem controlar o impulso de saber qual o conteúdo da mensagem que receberam, mesmo quando não têm intenção de responder ou de se relacionar com o remetente;
2. Elas podem ser pessoas individualistas: acreditam que o seu tempo e a sua necessidade estão acima das necessidades dos outros;
3. Elas podem ser pessoas autocentradas: acreditam que o outro deve respeitar/aceitar o seu tempo, mas não respeitam o tempo do outro. Ou seja, o outro está no mundo para aceitá-las como elas são, mas a recíproca não é verdadeira;
4. Elas podem ser pessoas vaidosas: nutrem um certo prazer em saber que estão sendo solicitadas, além da ilusão de que estão exercendo um falso poder ao controlar a situação deixando o outro esperar;
5. Elas podem ser pessoas sadomasoquistas: esse seria o grau máximo de neurose. São os que agem assim por prazer, de caso pensado, porque gostam de torturar.
6. Elas podem ser pessoas demasiadamente ocupadas que simplesmente não conseguem administrar o próprio tempo;
7. Elas podem ser pessoas desligadas, do tipo que esquece a chave do carro dentro da geladeira.
8. Elas podem ser pessoas que acreditam que um silêncio vale mais que mil palavras e que o delas significa: não perturbe.
Eu, particularmente, não visualizo nenhuma mensagem que não tenha a intenção (ou tempo) de responder. Prefiro engolir minha curiosidade a tratar o outro com desimportância ou deselegância. Porque não visualizar é dar ao outro o benefício da dúvida, é não deixá-lo alimentando minhocas na cabeça sobre o motivo do silêncio. Se não visualizou é porque ainda não viu, quando tiver tempo, verá. Simples assim.
Caso a curiosidade se instale, existe a opção de dizer: “respondo com calma depois, agora não posso”.
Todavia, visualizar uma mensagem de uma pessoa próxima e não responder em 24 horas, caso você não tenha sido sequestrado por uma tribo aborígene, quer dizer, sim: não me importo com você. E se esse for o caso, “não se importar”, o que diabos a pessoa que escreveu ainda está fazendo em sua lista de contatos? E se esse for o caso, “não se importar”, para quê visualizar?
E para o remetente que recebeu a subliminar “não me importo com você” fica a dica: não se importe com quem não se importa com você.
Sabemos que a advento dos smartphones (e o avanço da tecnologia) mudou nossa relação com o tempo; que estamos todos mais acelerados do que devíamos; que infelizmente perdemos a noção de ritmo que a mãe natureza sempre nos ensinou: plantar, cultivar, adubar, regar, colher. Sabemos que nos tornamos seres estressados e ansiosos; que a sociedade de consumo nos tornou menos aptos a lidar com frustrações, que a cultura da comida instantânea, por exemplo, nos fez desejar que tudo seja como as sopas de saquinho: pronto em três minutos.
É fato, também, que devemos aprender a lidar com nossas ansiedades e paranoias. Se todo e qualquer silêncio referente ao outro mexe demais conosco, ao ponto de nos roubar noites de sono, é hora de investigar de onde vem essa incapacidade de lidar com o silêncio alheio. É hora de investigar nossa capacidade de lidar com a rejeição e tentar resolvê-la (alô terapia!).
Mas para quê deixar o coleguinha de trabalho esperando um retorno, sem saber como deve proceder diante de um problema? Para quê deixar um amigo que pede socorro agonizando? Para quê deixar possíveis novos amores (e ex-amores) com a indigesta sensação de que fizeram papel de otários? Para quê deixar pai e mãe preocupados, se podemos responder carinhosamente “não peguei a chuva na estrada, cheguei bem”?
O mundo anda tão complicado! Se podemos não levar algum tipo de desconforto ao outro, por que escolher o contrário? E aquele papo de que gentileza gera gentileza?…
(Autor(a): Mônica Montone)
(Fonte: lounge.obviousmag.org)
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