Quando já se viveu um bocado de tempo é praticamente impossível ver graça em tudo. As desilusões da vida tem esse poder: elas podem até não roubar nossa felicidade, mas fazem uma parte do colorido dos dias se tornar um preto e branco respingado de cinza, e bem, nem mesmo um chá de camomila com raspas de limão é capaz de espantar a chuva.
A gente cresce e então começa. O primeiro amor que deveria ser eterno decide gostar de sorvete de limão ao invés de flocos e isso faz as coisas durarem um ano ou dois, mas não para sempre. O estágio que deveria ser a porta de entrada para o mercado de trabalho torna-se um peso nos ombros, e com certeza, faculdade, estágio e sanidade mental não andam de mãos dadas. Os hambúrgueres começam a fazer mal ao estômago, e a gente até tenta entrar para a tal vida fitness, mas convenhamos: nem todo mundo nasceu para comer aveia às 8 da manhã.
A juventude é como uma florzinha: quando desabrocha enche os olhos de todos, mas com a mesma rapidez da chegada começa a se despedir, e de repente ao invés de dormir oito horas por noite, dormimos 8 por mês enquanto decidimos se é melhor lavar o cabelo, secá-lo e ir dormir com dor de cabeça ou lavá-lo no outro dia de manhã, ir trabalhar com ele molhado (e) ter dor de cabeça.
Estamos vivendo dias difíceis onde o tempo é muito mais que dinheiro… Ele é praticamente o banco mundial, e isso está nos tornando descartáveis a tudo. Se você fala inglês, já passou da hora de cantar em alemão; se está na graduação, precisa começar a pensar na tese do doutorado; se está solteiro, precisa decidir a cor das madrinhas de casamento. Há quanto tempo não vivemos, não é mesmo? Hoje em dia, apenas sonhamos.
Queremos mais e mais e mais um pouco para receber aquele salário de encher os olhos (e os bolsos) e ostentar uma Pandora em cada braço. E após a Pandora queremos um diamante, e uma Lamborghini para combinar, e também um sobrado à beira mar para acordar vendo o sol da manhã entrar pela janela, e…
E nessa de querer nos conformamos com nós, e que bom seria que esse ‘nós’ fosse ao sentido de pessoas juntas, aproveitando a vida. Não, aqui, o ‘nós’, fala de coisas que apertam, que sangram, que nos forçam a permanecer em situações que ao invés de nos acrescentar, diminuem.
Permanecemos naquele emprego fajuto fazendo muito menos que nossa capacidade, porque não podemos deixar de ganhar aquela quantia e sustentar nossos luxos. Permanecemos no curso porque é preciso ter um diploma, passar pelos sufocos da universidade, agradar os pais e qualquer outra coisa, e não porque simplesmente gostamos da área estudada. Permanecemos no relacionamento que já não tem mais olho no olho, beijo na boca nem abraço apertado porque não temos tempo de sentar e pôr um fim à situação. Estamos ocupados demais correndo atrás do vento e acumulando bens materiais para parar por ao menos 1 hora, e conversar como alguém normal sobre que rumo nossas vidas estão tomando.
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E assim, dia pós dia, sem perceber, estamos sufocados em nós mesmos e nas situações que nos permitimos viver. Estamos infelizes, à procura de respostas, mas quem nos vê na rua nem imagina que isso esteja acontecendo, pois sustentamos um sorriso alinhado, um cabelo bem arrumado, e enormes doses de café para aguentar a pressão do dia.
Não se prenda em nós. Não se amarre em situações que tiram seu chão e fazem parecer que nada está valendo à pena. Não se proíba de viver suas próprias experiências. Não feche seus ouvidos para o que diz seu coração; pode até parecer que não, mas ele sabe exatamente quando você está prestes a explodir com todos os sufocos enfrentados.
Se você está em um lugar e interiormente não sabe o real porquê de estar ali, esse lugar não faz parte de você. Se há uma mão lhe segurando, mas na verdade você gostaria de andar só, é porque é hora de enfrentar o mundo sozinho, em sua própria companhia. Se parece que as horas não estão passando, é porque você não está vivendo, mas apenas executando as tarefas que a sociedade lhe impôs.
Quando um sapato aperta os pés, é impossível caminhar. Da mesma forma, quando uma roupa está nos apertando, o corpo fica ferido, e por vezes a roupa até se rasga, pois não está adequada ao corpo que lhe vestiu. Nada que causa aperto traz benefício; nada mesmo.
Viva seus dias e pouco a pouco, solte as cordas que têm ferido suas mãos. Pense um pouco em você e na sua estabilidade emocional. Dê à sua mente a chance de voltar a dormir todas as noites sem ajuda de medicamentos, bebidas e até mesmo sem contar carneirinhos. Você só tem essa vida, então, faça o possível para vivê-la. E se parecer difícil demais, busque ajuda. Você não precisa carregar o peso de suas situações num enorme saco dentro de sua cabeça. Não é vergonha alguma partilhar seus problemas com quem se dispõe a ouvi-los. Esteja atento a você mesmo e permita-se tentar fazer diferente. Quando você se sentir confortável para caminhar em outro caminho, a própria vida lhe abrirá novas portas. Apenas tente, e eu garanto: você conseguirá.
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Muito obrigado pelo texto, Raquel.
Muito obrigada pela leitura, Gabriel! ?