Por que razão tendemos a acreditar que as pessoas devem explicações por serem assim ou assado? Da onde é que tiramos que temos o direito de “achar” coisas sobre elas? Que mania é essa que temos de julgar os outros o tempo inteiro?
Cada um pode ter o bumbum do tamanho que quiser. A barriga também. O cabelo, a unha, a roupa e o que mais for. O que nós temos a ver se fulano engordou ou se sicrano ficou “desleixado”? No que nos influencia se aquela celebridade está “uma tábua de tão magra” ou se aquela outra resolver usar cabelo “Black Power”?
Além disso, cada pessoa se relaciona com quem melhor lhe aprouver: homem, mulher ou que gênero for. Se nos der “nojinho”, problema é nosso, unicamente. Guardemos tal sentimento bem guardadinho.
Se alguém quiser largar tudo para o alto e se aventurar pelo mundo, é uma questão da pessoa, e só dela. Se tal fulano decidir mandar a carreira às favas e virar artista, mesmo ganhando muito menos, isso não nos diz respeito. Se aquela conhecida resolver largar o marido – ainda que este seja maravilhoso -, ou mesmo traí-lo, não é problema nosso. E se alguém resolver que quer virar “natureba”, ativista, político, “da vida” ou um “nada”, nada disso, definitivamente, nos importa.
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Vamos cair na real e deixar nosso moralismo de lado. Tudo bem que pode ser uma questão cultural tentar ficar enquadrando todo mundo, mas isso está mais que ultrapassado.
Temos que largar de mão ficar emitindo juízos de valor acerca das ações dos outros. Cada um leva a sua vida do jeito que quiser e nós não precisamos “compreender” as suas questões. Sem questionamentos, sem justificativas. Mesmo que se trate de alguém mais próximo, que a gente ame, se a pessoa é maior e capaz, temos que nos colocar no nosso papel – que é o de nos responsabilizar pela NOSSA vida – e deixar que ela viva a dela do jeito que melhor lhe aprouver. Que quebre a cara e que se arrependa, se for o caso, mas que faça suas escolhas e arque com as consequências, inclusive com a possibilidade de ser imensamente feliz, ainda que não do jeito que nós imaginávamos ser o “mais apropriado”.
Não percebemos que gastamos muito do NOSSO tempo e da NOSSA energia cuidado da vida dos outros, da vida do mundo. Sim, porque ficar analisando as escolhas dos vizinhos, dos parentes, dos colegas, dos artistas, dos conhecidos e dos desconhecidos demanda muito de nós.
Vamos parar de nos atordoar com questões alheias e começar a olhar para dentro de nós mesmos: pode haver paraísos – ou escuridões – dos quais estamos fugindo, ainda que inconscientemente, ao olharmos tanto para fora. E, lembremos: talvez o que mais nos incomoda nos outros seja o reflexo do que há em nós mesmos – desejos ou defeitos -, tal como num espelho.
E então, com quem devemos nos preocupar mesmo?!
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