Sabe aquela dificuldade que muitos pais tem de fazer com que a criança abandone a chupeta, largue aquele mesmo travesseirinho ou aquele cobertorzinho que carrega para todos os lados? Isso tem uma explicação!
Vamos falar sobre Objeto Transicional. Podemos dizer que se trata de um objeto que auxiliará a criança a experimentar as situações do mundo externo e a diferenciar aquilo que faz parte dela (o que é interno) e o que não faz.
Donald Woods Winnicott, psicanalista e pediatra inglês, traz este conceito e explica a relação da criança com o seio materno, onde, no princípio, o bebê tem a ilusão de que o seio da mãe é parte de seu próprio corpo. Assim, a mãe deve ir aos poucos estabelecendo uma distância da criança com o seio, onde ela passará a perceber que o seio pertence a ela, mas não é parte dela.
Diferentemente do seio materno, o objeto transicional – que pertence à criança – além de pertencer, é controlado por ela, ou seja, ela é quem decide quando quer ficar com ele, ou o quão distante quer ficar do tal objeto. Ela é quem escolhe este objeto para si. Então, este objeto transicionalocupa um papel de “ilusão” e fica situado em uma zona intermediária, onde a criança se utilizará dele para vivenciar experiências externas, mas sente como se o objeto fosse parte de si. (Bleichmar e Bleichmar, 1992). Faz parte, ao mesmo tempo, da “fantasia” da criança e também da realidade.
Há algumas experiências em comum entre as crianças e seus vínculos com o objeto transicional, como a dificuldade em se afastar dele (e em outros momentos o objeto é “esquecido” ou deixado de lado por um período), em determinados momentos o objeto é maltratado e em outros é tratado com afeto. Tudo isso é natural e é importante que a criança vivencie estas situações, direcionando o cuidado, o amor, o ódio e à agressão a este objeto e percebendo que ele é capaz de sobreviver a isso, sem ser destruído.
Como foi dito no início, este objeto poderá ser um cobertor ou um paninho, um travesseiro, um bichinho de pelúcia ou até mesmo a chupeta. O objeto transicional é escolhido pela criança e é por isso que muitas vezes a tentativa dos pais de substituir tal objeto por outro novo, é frustrada.
É possível também que a criança não tenha este objeto transicional como algo a quem deva se vincular com tanta intensidade ou recorrer sempre e, segundo Bleichmar e Bleichmar (1992), isto pode acontecer quando o objeto materno está “danificado” dentro da criança de alguma forma.
É verdade também que a experiência com o objeto transicional é diferente de indivíduo para indivíduo no que diz respeito aos efeitos que trará para cada um, já que no adulto ficará um espaço intermediário entre o seu mundo interior e o exterior, assim como o objeto.
Neste espaço é que as atividades criativas poderão ser desencadeadas, como é o caso das expressões artísticas, que são expressões do mundo interno para o externo. Este espaço recebeu de Winnicott o nome de “espaço transicional” (pois faz esta ‘transição’ do mundo interno e externo) ou “espaço potencial”, justamente por ser este espaço onde é possível desenvolver potencialidades, criatividade e produção cultural enraizadas na infância.
Referências:
– Bleichmar, N. M. e Bleichmar, C. L. A Psicanálise depois de Freud: teoria e clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
(Autora: Ane Caroline Janiro, Psicóloga clínica)
(Fonte: psicologiaacessivel)
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