Não se passa uma semana sem que um maluco apareça na rede social, ou na televisão, com alguma solução mágica para qualquer problema que desafie a mente humana. É um fenômeno que precisa ser estudado.

Isso é tão recorrente que já é possível identificar três classes de malucos: o maluco anticientífico puro ou cândido; o maluco pseudocientífico impuro ou ignorante; e o maluco impróprio ou vigarista.

O que mais impressiona não é o tamanho da ignorância ou da cara de pau de quem surge com certas propostas, mas a quantidade de outros malucos que conseguem arregimentar.

O maluco anticientífico puro (cândido)

Em uma alusão ao personagem da famosa obra de Voltaire, esse maluco tem como característica marcante uma enorme e insuperável inocência. Ele adora coisas como homeopatia, chakras e frequentemente é pego encarnando um tipo de militante anticientífico. Para ele, médicos, dentistas, indústria farmacêutica e quase todo tipo de profissional está envolvido em um grande complô para nos envenenar e tirar nosso dinheiro com seus tratamentos e produtos que não funcionam, podendo ser simplesmente substituídos pela sabedoria que ele encontrou na internet, ou por algum guru em qualquer canto.

Exemplos mais recentes

Graviola: a moça que fez um vídeo garantindo que a graviola é melhor que a quimioterapia. Segundo ela (não se identifica), o fruto tem o poder de mais de 10.000 quimioterapias, baseou-se em estudos publicados no Facebook. Impressionante. Estranhamente, a moça não tinha cabelo, em claro sinal de que apesar da campanha pela substituição do tratamento, ela preferiu cobrir todas as frentes. O vídeo já alcançava quase 15 milhões de visualizações no momento em que eu escrevia o artigo.

Cúrcuma: Isabela Gil (Bela Gil), apresentadora de um programa de culinária em um canal de TV a cabo, resolveu dividir com todos a sua descoberta: escovar os dentes com creme dental é para bobocas, o jeito certo é utilizar cúrcuma (açafrão). A Sociedade Brasileira de Odontologia respondeu dizendo que não há comprovações científicas que corroborem com a alegação da apresentadora, e que a substituição do creme dental com flúor pelo tempero pode ser uma escolha perigosa para a saúde. Em tréplica, a apresentadora respondeu que “cientistas não podem ter a cabeça quadrada”. Como não se render a um argumento desses?

O maluco pseudocientífico impuro (charlatão)

Esse maluco se diferencia do anterior pela crença de que, de alguma forma, a sua proposta tem amparo científico. Frequentemente, ignoram preceitos básicos da física, termodinâmica (os famosos moto-perpétuos), da medicina, da farmacologia e outras ciências. Em um primeiro momento, qualquer um se encanta, porque as ideias são sempre muito úteis e excelentes. Parecem pessoas bem intencionadas, tentando acrescentar algo ao mundo, mas tão logo a proposta passe por um observador mais cauteloso e a bobagem fica clara como sol de verão. São pessoas carentes.

Exemplos não tão recentes

O motor movido a água: é tão convincente para alguns, que uma emissora de TV acabou comprando a ideia de que por R$600,00, uma oficina de Vitória – ES, poderia instalar em qualquer veículo um adaptador que o faria funcionar com água, que através de um processo de eletrólise faria a decomposição da água em hidrogênio e oxigênio.

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O motor funcionaria com o hidrogênio e os resíduos seriam oxigênio e água pura. A autonomia do carro seria de 2.000 km/L de água. Uma tecnologia barata que, segundo eles, está disponível, mas não é divulgada porque não é do interesse das montadoras de veículos e petrolíferas.

Só se esqueceram de contar para essas pessoas que a BMW, Honda, Chrysler, Ford, GM, Hyunday, Mazda, Nissan, Volkswagen, Ferrari e Toyota já fabricam carros movidos a hidrogênio, só que a eficiência do motor é bem mais realista, uma média de 700 km por tanque de hidrogênio, não de água. São Paulo já possui alguns ônibus movidos a hidrogênio.

Anti-vacinação: esse é o tipo de baboseira pseudocientífica que pode causar danos severos à população em geral, mesmo para quem não cai na charlatanice. Em resumo, são grupos de pessoas que se organizam para convencer outras pessoas de que as vacinas foram concebidas pela indústria farmacêutica para extorquir governos e a população, ou de que as doenças não existem, ou ainda, alegam que as vacinas não funcionam, ou que podem fazer mais mal do que bem, e que os médicos que defendem a vacinação são estelionatários da cura a serviço da indústria farmacêutica.

A verdade é que o movimento anti-vacinação está colocando as vidas de muitos em risco, especialmente crianças e pessoas que estão com a saúde muito ruim para serem vacinadas. Enquanto esse movimento avança, a população não imunizada aumenta e doenças que praticamente deixaram de existir após o advento das vacinas, podem voltar a nos assombrar. Uma matéria recente do Business Insider explicou detalhadamente a consequências da não vacinação.

O maluco impróprio (vigarista)

Ele não é bem um maluco. É uma pessoa muito sã que quer o seu dinheiro e vai entregar um monte de nada em troca. Os vigaristas são excelentes vendedores, bons de papo e estão frequentemente envolvidos em qualquer tipo de solução milagrosa para problemas financeiros, de saúde e até afetivos. O produto muda, mas o formato da apresentação é sempre o mesmo: “segredos que os figurões de Wall Street não querem que você saiba”; “sucesso e independência financeira”; “a cura natural que você precisa, mas os médicos e a indústria farmacêutica não querem que você conheça”; “este método natural de aumento de pênis vai te surpreender”.

Exemplos recorrentes

Marketing multinível: é um novo nome para uma velha “amiga”: a pirâmide financeira. Embora o formato de negócio em si exista de forma legítima nos EUA, no Brasil, TelexFree, BBOM e outras promessas de rendimentos surreais arrasaram com a economia de cidades inteiras e deixaram uma trilha de processos judiciais.

Você livre de óculos: essa é para quem tem algum problema de vista. Existem sites em todas as línguas com uma proposta simples: médicos se uniram à indústria de óculos, lentes e cirurgias a laser para te extorquir e fazer sua visão piorar. Tudo é dito por um ator que se apresenta como médico e adepto das técnicas do Dr. William Bates, um oftalmologista do séc. XIX que estudava exercícios que supostamente restaurariam a visão. Então eles vendem um kit com DVD’s, livros e material gráfico para que o paciente aprenda a técnica e pratique sozinho.

Seja qual for a sua proposta ou intenção, os malucos da internet existem e não vão embora. Sabem usar a ferramenta e a polêmica para se auto promover. Não passaremos outra semana das nossas vidas sem nos esbarrarmos com um. Então, é melhor conhecê-los, identificar seu padrão de comportamento para assim, quem sabe, evitar eventuais gafes e prejuízos.

(Autor: Lucas Santana de Campos)

(Fonte: meucerebro)

*Texto publicado com autorização da administração da página original.

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