Vivemos numa era em que as informações, a necessidade de expressão e comunicação enchem e esvaziam nossos peitos na velocidade da luz.

Não apenas pela imersão nas redes sociais que nos exige exposição, ‘ativismo’ e estar on-line (ou seja estar disponível) 24 horas por dia, mas na vida ‘real’ também me parece que as pessoas nunca foram tão ávidas para falar, para expressar, para ser, famintas de viver, com sede de novas histórias, acontecimentos fresquinhos, paixões rápidas e avassaladoras, enredos para as mesas de bar. Parece que pra gente existir no mundo, temos que preencher cada minuto com conteúdo dito alto, com pensamentos transbordantes, com risadas rasgadas, dramas mexicanos, problemas aterrorizantes, transas acrobáticas.

Me peguei analisando as pessoas, as convivências em grupos sociais e parece que quando duas ou mais pessoas ocupam um mesmo espaço há de haver comunicação em tempo integral. Ou estamos falando um com o outro ou nos ambientes digitais. Mas nunca estamos sós com nossos pensamentos.

E ai de você se se isolar num canto, se abrir um livro no meio de uma festa, se ficar olhando o mar em silêncio, enquanto seus amigos aproveitam o dia na praia tomando cerveja e dando risada. Você deve ter algum problema sério se não quer postar uma foto daquele lugar paradisíaco em que passou, se prefere escrever algumas linhas de pensamento à comparar as vidas numa roda de amigos, se não quer contar todos os detalhes da última fofoca quentíssima. Deve ser depressão passar um dia inteirinho em silêncio, não querendo nem escutar música. Parece autismo ficar por horas olhando um gato brincar com uma bolinha de papel no quintal.

Nesse mundo que não sei se cada vez mais se abre ou se fecha para as diferenças, para a diversidade, para manifestações e todo o tipo de opinião, parece que ainda não há aceitação com quem quer viver agindo menos e sentindo mais. Movimentando menos e observando mais. Pessoas que preferem as substâncias do que as superfícies. Que deixam as coisas surtirem efeito mais tempo na pele para que adentrem os poros e alcancem um profundo.

Parece que é feio e esquisito ser introspectivo, ser contemplativo, viver num ritmo menos intensivo. Você pode ser tudo o que quiser, mas tem que ser alguma coisa, tem que colocar seus universos pra fora num imediatismo ditador. As falas abundantes parecem enxotar o silêncio. E as trocas interpessoais parecem ser muito mais importantes do que outros tipo de conexão, como por exemplo, com a natureza. A sabedoria das bocas parece ser bem maior do que a do vento.

Os introspectivos cabem neste mundo?

Talvez eles ficam vagando em seus profundos, morando num poema, fluindo num momento meditativo.

Talvez essas pessoas sensíveis se fecham por perceberem que a vida da forma como se explicita, vai passando rápida e aflita, atropelando a si mesma em avalanches emocionais, cheia de tudo e desnutrida de paz.

Talvez os introspectivos saibam que dessas constantes viagens ao infinito de si mesmos, desenvolvem a habilidade de trazer para este mundo, diamantes de luz que têm o poder de curar as mentes sobrecarregadas de excessos e estímulos.

(Autora: Clara Baccarin)
(Fonte: clarabaccarin.com )
*Texto publicado com autorização da autora

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Clara Baccarin é paulista dos interiores, nascida nos anos 80. É escritora, poeta e agitadora cultural. Faz parte do grupo editorial Laranja Original. Publicou, pela editora Chiado, o romance poético Castelos Tropicais (2015) e a coletânea de poemas, pela editora Sempiterno (2016), Instruções para Lavar a Alma. Em 2017 lança, em parceria com músicos e compositores, o álbum Lavar a Alma, que reúne 13 de seus poemas musicados. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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