Rubem Alves dizia que todos nós queremos falar, mas ninguém quer ouvir. Percebo que essa incapacidade de escutar tem piorado com o passar do tempo.
Temos vivido de forma completamente individualista, de maneira que pouco importa o que o outro acha ou pensa sobre o que quer que seja, pois só conseguimos ouvir a nossa própria voz.
Tornamo-nos, assim, autofalantes, pois na medida em que nos preocupamos em tão somente falar, deixamos de escutar uns aos outros e, portanto, nos transformamos em falantes e “ouvintes” de um único som, o qual ecoa de dentro do nosso vazio.
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Sendo assim, o individualismo tem retirado toda a nossa capacidade de olhar as situações em perspectiva, uma vez que não vivemos sozinhos, mas antes, em comunidade, de tal maneira que passamos a coordenar o mundo a partir das nossas vontades, nossos desejos, nossas análises, nossas compreensões.
Ou seja, tudo passa a girar em torno de nós mesmos, posto que acreditamos ser a última bolacha do pacote e que, portanto, nada que venha do olhar do outro deve ser considerado.
Essa cosmovisão individualista e egocêntrica apenas faz com que nos afastemos mais ainda, formando verdadeiras ilhas afetivas, isoladas em seus mundos.
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Essa cegueira cria uma resistência perante tudo aquilo que é diferente, por todas as coisas que não se coadunam com o que pensamos, como se fôssemos incapazes de dialogar, de imergir no mundo de idiossincrasias que forma o outro.
Por isso estamos tão tristes e solitários, presos em nossos muros de indiferença, mergulhados em depressões e afogados pela ansiedade.
Estamos doentes porque preferimos cegar e nos isolar dentro da nossa zona de conforto a enxergar que existem outras vidas além das nossas, que as pessoas possuem sonhos diferentes, preferências políticas distintas, sexualidades diferentes, mas todos somos, acima de qualquer coisa, humanos e, portanto, devíamos buscar o que há de gente em nós, o que há de ser nesse “animalzinho” que somos.
No entanto, preferimos ser rotuladores, preferimos ficar com os nossos conceitos fechados, axiomas indiscutíveis, a tentar buscar novas perspectivas, novas visões, novos caminhos, uma ressignificação de nós mesmos, do outro e do universo.
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Preferimos nos fechar, ficar doentes e morrer desnutridos de amor, a abrir mão de um egoísmo mesquinho que nos transforma em escravos da nossa própria condição miserável.
Será que acreditamos que estamos no caminho certo? Um caminho de mudez no olhar, secura na alma e lágrimas na boca? Um caminho em que é preciso defender o óbvio, lembrando Bertolt Brecht.
Talvez, porque apesar de tudo, é difícil ser a mudança que desejamos no mundo. É difícil, sobretudo, nos despimos do véu de ignorância, preconceito, intolerância, individualismo e em seu lugar sermos capazes de perceber o óbvio: que não estamos sozinhos, nem precisamos estar, porque na estrada da vida, para quem procura, há sempre lugares em que podemos nos encontrar, silêncios para que possamos ouvir e doçura para perceber a poesia presente nas singularidades de cada um.
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Podemos ser a cura do outro, o outro pode ser a nossa cura, para isso é preciso sair da ilha, a fim de que enxerguemos que nessa luta que nos encontramos, estamos todos afundando em um mar de individualismo doentio, triste e silencioso, pois na medida em que deixamos de escutar o outro, as nossas vozes já não significam nada, além da demonstração da nossa cegueira, pois como disse Gandhi: “Olho por olho e acabaremos todos cegos”.
GHANDI, DISSE ESTÁ EXPRESSÃO. AS VEZES TEMOS QUE OBRIGATORIAMENTE, FURAR ALGUNS OLHOS, PORQUE ENXERGAM , MAIS DO QUE DEVIAM. BEM FURADOS. MESTRE DA MALDADE