Categories: Literatura

O jardim das borboletas

Era noite e ventava muito. Giuliano queria encontrar o pai, mas estava com medo de sair.

O vento era realmente muito forte e o barulho das árvores amedrontador. Melhor ficar em casa, esperando o desabafo da natureza passar.

Mas, ao olhar pela janela lateral, viu um céu estrelado, maravilhosamente belo, que destoava de toda aquela ventania. O cheiro das flores era convidativo e, então, surgiu a dúvida. A dúvida entre o permanecer e o descobrir. A dúvida entre o continuar enclausurado, sentado em seu conforto perene, sem sofrer riscos, e o outro caminho. Ah, o outro caminho… uma nova rota tão irracional quanto louca, que lhe fazia ver as estrelas e sentir o frescor das rosas do campo.

Giuliano hesitava sem saber ao certo que rumo tomar. Se saísse, desbravando campos e enfrentado a tempestade que se aproximava, muito provável que iria sucumbir, desolado, na escuridão da noite solitária. Mais sensato e prudente esperar o vendaval passar. Mas, por outra via, as estrelas o esperavam, o caminhar poderia ser tão prazeroso, em meio à noite escura e orvalhada, na expectativa do reencontro tão almejado. Melhor ir, pois não sabia se teria nova oportunidade de seguir. Às vezes, o telefona toca, arrolando inúmeras atribuições, que o fariam esquecer aquilo que tanto buscava.

Entre o ir e o ficar, Giuliano arriscou-se frente ao vendaval que anunciava tempestade devastadora. E, enquanto caminhava, o vento sussurrou um segredo que jamais pôde esquecer. As estrelas brilharam de tal forma que sentia sua energia atrelada às forças do universo. A chuva não veio, o vento passou e Giuliano reencontrou o pai. Em meio às borboletas fulgurantes que encantavam o jardim. Lindas, verdejantes, douradas e azuis. E em grande quantidade. Eram tantas que seus braços, pernas e ombros se tornaram o pouso seguro para cada uma delas. E, em meio às borboletas, abraçou aquele de quem tinha tantas saudades… Um abraço mágico e inesquecível que fez pulular centelhas de esperança.

Contudo, algo o chamava a voltar. Era o telefone, que tocava insistente, despertando-o de uma realidade vivenciada em um lindo sonho que ficara guardado para sempre na memória interna de seu inconsciente.

Regiane Reis

Mestre em Direito Constitucional. Autora do livro "O empregado portador do vírus HIV/Aids". Criadora do site pausa virtual. "Buscando o autoconhecimento, entendi que precisava escrever sobre temas universais como a vida, o amor e a fé". É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Regiane Reis

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