O medo de não ter algo para fazer, assim o psicólogo espanhol Rafael Sandreu definiu a ociofobia, um dilema atual que ganha cada vez mais espaço.
Natthalia Paccola, psicanalista e fundadora do Fãs da Psicanálise, explica que nas clínicas de psicoterapia em que atende, é cada vez maior o número de pacientes obcecados por trabalhar, mas que na realidade transformam a vida laboral numa fuga de seus reais conflitos interiores. “Esses clientes chegam ao setting com o grande dilema de que não conseguem se desligar, que para eles o tempo livre é um tormento”, explica.
Atualmente o que se percebe no mundo todo é uma crescente personalidade de dependentes de trabalho, que podem entrar em pânico quando estão com todas as tarefas da agenda executadas e nada planejado para os horários vazios.
“No tempo dos meus avós, ter tempo livre era algo para ser celebrado, era o momento de repouso, de receber os netos, os filhos, fazer uma grande macarronada para todos, falar alto e se divertir”, conta a psicanalista.
Acontece que a atualidade aparenta não ter espaço para esses tempo de repouso, deve-se inventar algo para preencher a falta de tarefas cotidianas ligadas a ter o que fazer, seria um novo status pejorativo para o homem moderno: o tédio.
Pessoas com ociofobia sentem pavor diante da possibilidade de ficarem entediadas – daí a ligação que Rafael Sandreu fez com o ócio – um sentimento que gera medo de estar perdendo tempo, sem fazer nada, sem ter o que executar.
As pessoas que se sentem dessa forma simplesmente não toleram ficar sem fazer algo e entram em desespero. O tempo livre é uma ameaça. “Imagine aqueles portais descritos em filmes que te levam para um buraco negro, que te engolem e você fica flutuando no espaço, é desta maneira que eles se sentem, no meio de um abismo que poderá engoli-los”, explica Natthalia.
Para as pessoas com esse conflito, o ócio é para ser temido pois estabelece que algo de muito ruim pode acontecer, algo desconhecido, sem precedentes e assustador.
O terror da ociofobia tem um sinônimo que é a ansiedade. O sintoma aparece com mais intensidade quando há um final de semana prolongado ou férias, em que esse tempo livre não esteja planejado, em que não haja algo programado.
Segundo a psicanalista, uma vida evolutiva deveria priorizar momentos felizes e o trabalho trazer a paz das realizações pessoais, mas não ser a prioridade absoluta. “Em tempos modernos se priorizou o ter e não o ser, desta maneira a eficácia de uma pessoa é medida pela sua capacidade de produção e conquistas”, diz.
O sucesso de uma vida passou a ser medido pelo tanto de coisas que se acumula e não pelas alegrias que se vive. Metas e objetivos são as palavras de ordem no mundo corporativo e também fora dele, hoje se vê a quantidade do que se realizou e não o que essas realizações trouxeram de benfeitoria para quem as fez.
O problema se agrava pois pais com agorafobia cobram produtividade dos filhos, transformando-os em crianças ansiosas que necessitam fazer algo e de forma perfeita antes da juventude ter início. Se a criança gostar de jogar futebol, ela é iniciada em uma escola de treinos intensos, para que aos 14 anos já esteja infiltrado em um grande clube esportivo e tenha a carreira profissional traçada.
Rafael Santandreu, afirma que não há nada de errado em termos tempos ociosos, pelo contrário: se faz necessário aprender a ficarmos mais entediados. Esse tempo ocioso traria o equilíbrio preciso para que após o trabalho da mente houvesse o descanso.
Pesquisadoras do departamento de psicologia da Universidade Central de Lancashire, no Reino Unido, por exemplo, publicaram um artigo em 2014 no qual verificaram, em dois estudos, que pessoas entediadas se tornavam mais criativas.
Momentos de desocupação, incluindo aquele tempo ocioso no sofá de casa,beneficiam a criatividade, promovem reflexões sobre a vida e favorecem o aparecimento de soluções para o dia a dia.
O ideal seria desfrutar dos momentos de tédio, dirigir um carro admirando a paisagem, ler um livro sobre coisas banais. “O tédio não faz com que a pessoa perca seu tempo e sim que experimente coisas novas que contribuirão com as suas realizações pessoais, desbravando novos sentidos e vivenciando emoções verdadeiras”, conclui Natthalia Paccola.
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