Em tempos nos quais a medicina tem atribuído muitos casos de câncer à obesidade, decidi escrever a vocês sobre algo muito visto e falado dentro dos nossos consultórios: a ligação entre obesidade e a sensação emocional de falta, de incompletude que sentimos em alguns momentos da vida.
Quem nunca comeu para suprir uma carência? E por que nunca se come alface nesses casos? A escolha pelo alimento é questão de prazer e está ligada à produção de serotonina. Está comprovado que o chocolate, por exemplo, provoca sim uma sensação de muito bem estar depois de ingerido, já a alface, não. Muitas, talvez a maioria das causas da obesidade esteja ligada à compulsão, ao comer por impulso para suprir um buraco no estômago que não é físico.
Alguns psicoterapeutas acreditam que as dietas para emagrecer acabam fracassando porque levam o indivíduo a pensar muito no assunto, a pensar muito em comida e como consequência, acabarem comendo mais. Pessoas magras não contam calorias, não ficam o tempo todo falando em dietas e não comem para satisfazer carências. Elas têm outros prazeres e por isso não precisam busca-lo na comida.
Quer a prova? Apaixone-se! Por algo ou por alguém. Os apaixonados, quando antes acima do peso, emagrecem pelo simples fato de voltarem a comer apenas para saciar a fome física e passarem a buscar prazer no lugar certo. A paixão nos motiva. Pode ser paixão pela vida, por outro indivíduo, por uma arte ou mesmo pelo trabalho.
Em um mondo paradoxal, no qual somos cobrados o tempo todo sermos perfeitos esteticamente, chegando a sacrificar dinheiro e saúde, a população engorda a cada dia. O número de pessoas cujos comportamentos são de compulsão alimentar cresceu nos últimos vinte anos e cresceu muito também, paralelo a isso, o número de pessoas solitárias.
O individualismo e as dificuldades de relacionamento interpessoal crescem a cada dia e provocam um “vazio no nosso estômago” e em todo o resto. Confesso a vocês que isso não é só visto em grandes cidades não.
É cada um por si e a busca pelo convívio tem sido cada vez mais ligada ao interesse. Desaprendemos de como conviver, de como trocar as energias ao relacionar-se pelo simples fato de que nossa natureza é assim. Sentimos o tempo todo esse vazio, e não culpem apenas os smartphones; eu, sendo bem sincera, acredito que eles sejam mais consequência do que causa do nosso distanciamento uns dos outros.
Uns compram, outros se drogam, e muitos comem. Enfiam a cara no bolo de chocolate porque somos carentes sim, e trocar afeto está cada dia mais difícil. Já repararam que, sozinhos, comemos muito mais? E a melhor: que comer em boa companhia e em um momento de bate papo prazeroso não engorda? Todos nós conhecemos pessoas que cozinham maravilhosamente bem, que adoram comer e que são magras. Vejam bem, são magras, saudáveis, mas não “androides” esquisitos, cujos corpos parecem ter sido fabricados em laboratórios.
Não acredito em prazer, nem tampouco em magreza alguma fabricada pela ingestão restrita de frango e batata doce. Como não é minha área, deixo aos médicos endocrinologistas o papel de esclarecer as doenças que isso pode causar.
Sempre brinco com as minhas amigas dizendo que “quem fica murchando a barriga na hora de transar, não goza”, porque essa neurose pelo corpo perfeito também é compulsão. Se comer ou fizer sexo com esses padrões compulsivos de comportamento, não vai funcionar; por outro lado, ao saborear um alimento, qualquer um, com e por prazer, acredite, não vai engordar. A comida não tapa o buraco e o vazio provocado pela falta de afeto que sentimos, e afeto, como disse o sábio São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”.
Ame mais e emagreça.
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