Comportamento

O vazio que me inunda

“Conhecer os próprios sentimentos não é tarefa fácil, nem simples. Às vezes, é preciso o esforço de uma vida inteira”. Carl Rogers

Quantas vezes passamos a vida nos sentindo incompletos, perdidos em um labirinto de questionamentos? Você abre os olhos pela manhã, senta na cama, e faz um esforço sobre-humano para se levantar. Mas levanta, faz as coisas automaticamente porque precisa fazer, pode até parece bem externamente, mas quando vai sentar para tomar seu café da manhã, seus pensamentos são dúbios e a sensação de insegurança torna o desjejum amargo?

Você se questiona do porquê você tem que passar por isto? Sente que o Mundo é um lugar ao qual não se encaixa? Se preocupa com questões que ainda nem ocorreram e assume postura de defensiva perante às adversidades? Se você respondeu afirmativamente a uma ou a todas estas perguntas, você está em busca por saber quem é você e não qual o sentido da sua existência no mundo. E esta é a razão pela qual se sente vazio.

Geralmente, as pessoas que se sentem vazias são aquelas que se se preocupam demais e são as mais sensíveis .Sempre em busca de serem aceitas e amadas. Procurando justificativas para a falta de atenção que os outros a dispensam e, por fim, se culpando e se martirizando antecipadamente quando algo não sai conforme o planejado.

Quando as pessoas, principalmente aquelas com quem possui vínculo afetivo não correspondem às suas expectativas, o sentimento de perda é extremamente dolorido, passando à dor física. O aperto no peito que vem acompanhado do corpo todo “gelado”, o incômodo bater de asas das borboletas no estômago, acompanhado de uma imensa sensação de tristeza, dor e abandono.

Essa horrível sensação faz parte de todos nós, você não está sozinho. Pessoas profundas costumam mesmo mergulhar nas profundezas de seus sentimentos de cabeça. Se são amigas, são amigas demais. Se são amantes, são amantes demais. Se são responsáveis, são responsáveis demais.

Tudo é demais.Esse emaranhado de emoções à flor da pele acaba, por vezes, se tornando paralisante. Basta algo não andar bem, mudar o rumo, que os pensamentos, outrora positivos, transformam- se em idéias altamente pessimistas que, senão domadas, podem ser altamente letais.

Manifestação pura e simples de carência. Os cientistas comumente a associam à depressão, que é uma desconexão do sistema pré-frontal com o límbico e se apresenta com a hipótese neurobiológica. Sentir-se vazio, se dá pelas altas expectativas que temos com o outro e por carência afetiva na infância. Um fator determinante que poderia justificar encontra-se na primeira infância, com a relação com nosso primeiro amor: a mãe.

Já foi comprovado que, tanto para o menino ou a menina, o peso do tratamento que obtivemos da nossa mãe quando pequenos, tornam-se espinhos ou um jardim florido em nossas almas, carregando estas lembranças vivas na alma até a vida adulta. Por isto é tão importante o afeto, zelo e encorajamento de nossa mãe nos anos primários de nossa existência, uma vez que, estas impressões, ficam impressas no inconsciente e irão dar as caras ao longo de nossa jornada.

Mas como posso me ajudar a amenizar este vazio? Através do mergulho em si mesmo. Externar o que é sentido no famoso desabafo. Buscar, lá no fundo, a causa da nossa carência. Do silêncio ao grito, nota-se o famoso pêndulo emocional. Há pessoas que surtam, há pessoas que se isolam. Como sentir menos as emoções? Como domá-las? Tenha em mente que, sua angústia, não é você. Ela apenas é uma parte de você.

Ramana Maharshi tem um ensino muito eficaz que diz que “é preciso aquietar a mente”.

Indagar sempre os pensamentos não insistindo neles e perguntar “para quem surgem esses pensamentos?” Cada um deles. Ele ensina que, cada resposta seria “para mim” .Se logo depois se fizer a pergunta “Quem sou eu?”, a mente retorna à sua fonte e o pensamento se aquieta. A repetição das perguntas a cada sentimento ruim deve se tornar uma prática intermitentemente, a fim de que a mente desenvolva, através do exercício de busca, a habilidade de controlar as emoções.

Permitir que a mente saia do Coração é conhecido como exteriorização (bahir-mukha). Assim, quando a mente permanece no Coração, o “Eu” que é a fonte de todos os pensamentos desaparece e o Eu superior que sempre existiu dá as respostas. “Não existem meios adequados afora a indagação.

Com outros meios, a mente mostra-se aparentemente controlada, mas acabará por manifestar-se. Também através do controle da respiração a mente se aquieta; mas só permanece assim enquanto a respiração está controlada, e quando esta volta ao habitual, a mente também voltará a agitar-se e a vaguear, compelida por impressões residuais. A fonte é a mesma para a mente e para a respiração. O pensamento é a natureza da mente. “Ramana Maharshi. Finalizo o texto com um poema de uma amiga psicóloga muito querida, que elucida. .

“Vazio é falta. Incompletude… Fome, sede, necessidade… Cada vazio pede uma determinada coisa pra se completar.

E só se sacia com ela. Por isso a relevância de conhecer cada vazio. Por isso a importância de saber o que completa cada vazio. Pois não saber é manter o vazio. E completar com as coisas erradas não preenche o vazio. É sofrer sem saber o porquê. E um vazio não sabido causa outros vazios desnecessários, doentios… E um preenchimento equivocado também. Conhecer cada vazio também é sofrer. Saber que está incompleto e não saber se conseguirá se completar… Mas se preencher o vazio de ser quem é, de se pertencer… Irá ter coragem e força pra preencher os demais…”

Marta Mieko

Silencie-se. Então, ouça-se.

Daniele Abrantes

Sou jornalista de espírito vintage, que ama compor músicas ,pintar, e escrever sobre assuntos voltados à compreensão das relações humanas e da profundidade da alma. Acredito que as duas maiores forças que possuem o poder de mudar o nosso dia a dia são o Amor e a Empatia. Grata por compartilhar com vocês esta jornada.

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