Que sentimento é esse que insiste em nos visitar quando o silêncio se faz na nossa volta? Por que será que evitamos tanto a companhia dele?

É interessante como esse vácuo existencial, tão preconceituosamente chamado de vazio, sofre nossa rejeição. E bem naquela fatídica hora do silêncio que ele se manifesta. Aí cada um alavanca algum jeito de fazer essa coisa sumir!

Aquele momento em que todo mundo foi dar uma volta, a casa ficou vazia, o trabalho está pronto, a louça está lavada, o roupeiro está em ordem, não parece maravilhoso?

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Sim, quando estou meio “cheia” de todo mundo! Espera não voltar todo mundo, a casa não encher novamente, não haver mais trabalho, sem mais louças e quarto impecável..e mais nada prá fazer.

Não estamos educados para suportar por muito tempo isso. Quando o silêncio se instala de uma maneira mais insidiosa partimos para a busca compulsiva do “preenchimento”. E cada um sabe como fazê-lo. E como sabe!

Mas por que será que temos o costume de encher o que está vazio? Que compulsão é essa de preencher esse verdadeiro buraco negro com novos momentos, boas lembranças, sonhos de prosperidade, esperanças, expectativas, planejamentos, objetos, roupa nova, mais um sapato, fazer um bolo, assistir a um filme?

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O vazio existencial não é para abarrotar de coisas como se fosse um saco. Engana-se quem acha que ele precisa ser preenchido com planos, projetos e sonhos. Isso só serve para passar a ilusão de que somos pessoas altruístas, ocupadíssimas e que a solidão não tem lugar na nossa vida e aí não precisamos admitir nosso medo da dor.

Se soubéssemos da importância que esse vácuo provoca na nossa existência quando temos a coragem de aceitá-lo, não ficaríamos mais tão perturbados com sua presença e definitivamente pararíamos de lutar e fugir.

Assim como o rim, o pulmão, o coração, o vazio existencial é parte de nosso ser. Eu diria que faz parte da estrutura corporal (ainda que intangível) como um órgão visceral mesmo, e por isso é vital que ele sobreviva exatamente como é. Ou seja, como vazio.

E eu vou te mostrar por quê. Quando foi que você teve a ideia mais brilhante da sua vida? Quando teve aquele ‘insight’ que faltava para alavancar seu projeto? Em que momento a dor da perda e do luto passaram? Quando a criatividade aflorou? Certamente foi quando você se calou, aquietou a mente e aceitou o silêncio!

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A criatividade se expande na calada. O silêncio é a mais pura fonte de inspiração. Não é a mente que fica tagarelando sem parar a responsável pelas boas ideias. A genialidade precisa de mente quieta para brotar. Vem da intuição. E a intuição só se manifesta em quem se cala. Saber se calar é ter sabedoria, e sabedoria verte da serenidade. É um círculo virtuoso. Serenidade é silêncio, e o silêncio é o espaço do nada.

Ou seja, esse vazio que a gente tanto tem medo é apenas o silêncio amigo. E é justamente nesse lugar nenhum que está o tudo. É no vazio que reside a paz.

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Servidora Pública Federal, rastreadora incansável do desenvolvimento pessoal, e colunista do site Fãs da Psicanálise.

2 COMENTÁRIOS

  1. Ufa! O Dr. Fabio Vitória podia ler isto. Assim saberia, de plano , o que esta paciente sentia qdo falava do armário vazio. Rsrsrr. Parabéns Márcia Nyland. Você é fã da psicanálise e eu sou sua fã.

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