Terapia

O Sujeito na Psicose

As discussões empreendidas nesse texto, são pautadas na investigação do sujeito na psicose, com objetivo de fomentar discussões tanto de ordem teorica quanto prática na clínica psicológica, do ponto de vista psicanalítico, bem como a partir das reflexões que abrangem esse tema. Entendendo que a psicose pode se moldar como resultado de um emaranhado de sintomas, e conflitos no seu ápice.

Dada a complexidade do tema, foi somente um pequeno vislumbre de questões imensamente complexas vinculadas ao universo psíquico do sujeito, bem como os dinamismos e conflitos do psiquismo. Visto que, a leitura e reflexão sobre a psicose aumenta o senso clínico e contribui para a construção do saber acerca da “loucura” e suas características.

Considerada uma anormalidade no funcionamento do psiquismo humano, a psicose ainda suscita muitas discussões. Quais seriam suas verdadeiras causas? Muitos pesquisadores argumentam ser de ordem hereditária ou genética, diretamente influenciada no meio em que se vive entre outros, mas o assunto está longe de ser pacificado.

O diagnóstico envolve um profissional qualificado, médico psiquiatra e psicólogo, devem observar principalmente o estado de consciência do paciente: se há concentração, qual a qualidade desta, também a memória, fatores como o tempo e espaço, se apresenta reações afetivas, importantíssimo saber da rede de apoio. Se tem juízo de valores, percepção da realidade entre outros fatores. Contudo, estar ciente ou ao menos ter noção da realidade, se mostra uma característica bem marcante para o diagnóstico.

Lacan sustenta que diante da psicose na clínica, não há que se esquecer do sujeito quando da escuta, ou seja, ainda que haja patologia, jamais se trata de outra coisa que não de sujeito. Indicando-nos que o sujeito com o qual opera é, por base, o sujeito da ciência, só que de forma subvertida. Esse sujeito a que se refere, vem do conceito cartesiano “penso, logo sou” nasceu com a ciência moderna, entretanto, é excluído pela própria ciência de seu campo de atuação.

Interessante pontuar que Lacan ao se referir a subversão do sujeito cartesiano, diz que o sujeito não é concebido da razão, mas das falhas do discurso, nos tropeços destas falas, ele é onde não diz estar. Não no pensamento mas naquilo que ele não pensa. Neste sentido está ancorado no “Ser”.

Podemos dizer então que um indivíduo com psicose, sofre certa perda de contato com a realidade, ainda, uma inadequação entre o pensamento e a afetividade. Não elabora discursos concretos, mas desconexos dependendo do grau de anormalidade que se instalar na mente psicótica.

O psicótico vive em seu universo, interage com seres e objetos que não são reais, permanecendo a margem da realidade que cerca a todos nós. O psicótico propriamente dito, pode apresentar alucinações, delírios, modificações na maneira de se comportar, tornando quase que impossível se relacionar com as outras pessoas e desenvolver atividades rotineiras essenciais a uma vida como a concebemos, dentro deste padrão a que chamamos de “ normalidade”.

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Dentre os transtornos a que mais se apresenta nestes moldes é a esquizofrenia. Nestes, o indivíduo apresenta uma grande desordem dos processos mentais sinais e sintomas na área do pensamento, percepção e emoção. Comprometendo o indivíduo em todas suas esferas sociais, inclusive as laborais, se não medicado e estabilizado.

Não há que esquecer que dentro da esquizofrenia existem cinco subtipos:

· Paranóide: predominando os delírios e alucinações;

· Hebefrenica: preponderam alterações da afetividade e pensamentos, com ênfase na desordem destes;

· Catatônica: marcado por sintomas que envolvem sua motricidade;

· Simples: há diminuição da vontade, da afetividade , empobrecimento do pensamento e isolamento social. O transtorno bipolar é o principal representante das afetivas.

· Residual: os sintomas são severos, marcado por um estado crônico da doença com grave deterioração do estado mental do paciente.

Razão pela qual se torna importantíssimo saber diagnosticá-la, para definir seu subtipo, só assim poderá o paciente receber auxílio e tratamentos adequados.

O aspecto principal a ser observado, diz respeito a perda de contato com a realidade, a perda pode se apresentar com maior ou menor intensidade, conforme já referenciado.

A psicose está relacionada com a percepção pelo sujeito de objetos e coisas que não existam no aspecto real, isto é, podem mudar seus pensamentos, atitudes, convicções, a partir ideias descabidas, se mostrando conflituosas com a lógica do mundo e a realidade com a qual a concebemos clara e patente significando pouco ou nada para o paciente. Assim, é o delírio uma convicção incompreensível diante de alguma situação rotineira ampliada ou distorcida de acordo com a visão do psicótico, combinada com discursos e comportamentos desorganizados.

Quando falamos sobre psicose vinculadas aos delírios e alucinações, devemos pensar que estão ligadas, tanto quanto as estruturas ditas normais e com as mesmas funções na psicose estão o sonho no mais comum dos mortais. Na clínica com um paciente psicótico, devemos inicialmente acolher seus delírios, abrir mão da censura, pois por mais confuso que o delírio possa ser, ele é uma tentativa de cura, uma reconstrução psíquica de si mesmo.

No delírio a realidade é encoberta, a mesma realidade rejeitada, de algum modo, é a realização de um desejo, que não pode ser substituído. Na clínica o psicoterapeuta deverá investigar o que desencadeou essa rejeição, uma vez que imprescindível preencher estas lacunas, a fim de possibilitar a pacificação ou aceitação interna desta vivencia e a consequente construção de novos significados e explicações. Ou nas palavras de Freud, esse processo de reconstrução delirante, um reinvestimento libidinal progressivo, ou seja, é dar novo sentido à uma experiência que se mostrara insuportável.

Em outras palavras, toda psicose é uma doença de defesa, é uma luta interna, longe dos olhos alheios, de forma persistente e contínua onde o sujeito constrói seus delírios e alucinações com a finalidade de se proteger desta dor insuportável que certos dados da realidade lhe impõem sem possibilidades de troca. O sujeito enrijece, estaguina, rejeitando, fragmentando estes fatos da realidade.

Só a título de comentário relacionado a compreensão do funcionamento da vida psíquica. O narcisismo concentra a libido no eu, privando o psicótico de vínculos com o mundo. Ou seja, A energia libidinal superinveste, não mais empregada para produzir uma fantasia, como no caso do neurótico, mas a precipitar um delírio de grandeza.

Na clínica com o sujeito psicótico analisar o discurso e o posicionamento subjetivo desse paciente é fundamental, só assim será possível compreender a angústia do paciente e entender qual a sua posição diante das questões essenciais da sua existência.

Leciona Freud, que a neurose se caracteriza pelo conflito entre o ego e o id, a psicose por sua vez,o resultado de um distúrbio entre o ego e o mundo externo. Nessa perspectiva, acolhe-se esse sujeito e através da escuta, entre outros processos investigativos, formula-se uma hipótese diagnóstica, até que se localize a estrutura desse indivíduo, seja ela neurótica, psicótica ou perversa. Só então, será possível traçar uma linha de abordagem e de árduo trabalho com esse paciente. A clínica dentro da psicologia com psicóticos é muito complexa. Todavia, simplificando seria fornecer a este sujeito, um lugar onde ele possa falar, um processo de reconhecimento, onde um sujeito poderá advir.

Fato é que a loucura, por assim dizer, pode acometer diferentes pessoas em quaisquer momentos da sua história de vida ou jornada diante de um profundo abalo existindo predisposição e ambiente ensejador da patologia. Tal fator, realiza como que uma cisão do contato com a realidade em que o sujeito está inserido. Na dicotomia de preservar o afeto das situações conflituosas. Esta foi a proposta deste pequeno estudo, cujo objetivo foi uma singela contribuição de aspectos tidos como relevantes para o conhecimento e consolidação da psicologia enquanto ciência do comportamento humano.

Laila Wahab

Advogada, psicóloga clínica e escolar.

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