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O que leva uma mulher a se apaixonar por um serial killer?

Como explicar paixões como as que o assassino de Goiânia desperta. E que desafiam a razão.

Moreno, alto, bonito, sensual e suspeito de matar 39 pessoas, a maioria mulheres. Tiago Henrique Gomes da Rocha, o serial killer de Goiânia, é uma espécie de criminoso que deveria despertar apenas medo e repulsa, mas acaba se tornando o galã do presídio, vira campeão de cartas e arrebata paixões.

Uma das advogadas de Thiago, Brunna Moreno de Miranda, revelou que ela e as colegas que atuam no caso recebem e-mails e mensagens no celular de mulheres perguntando como podem fazer para conhecer o suspeito.

Pertencem ao mesmo clã estupradores e assassinos como Francisco de Assis Pereira, o maníaco do Parque, que foi condenado a 274 anos de prisão, acusado de 10 mortes e 11 ataques sexuais no final da década de 1990.

Ele é um dos detentos que mais receberam cartas de amor na prisão, no primeiro mês detido foram mais de mil. Casou-se com uma dessas admiradoras — Marisa Mendes Levy – pós-graduada em história. O sucesso do maníaco com as mulheres inspirou até o livro Loucas de Amor, de Gilmar Rodrigues.

Mulher X Serial Killer

Que mulheres são essas que amam matadores de mulheres? Como explicar um comportamento que desafia a razão? Segundo o psiquiatra Estevam Vaz, para entender essas situações, é preciso abrir mão da lógica que usamos para pensar sobre o ser humano.

— A natureza humana é muito diferente daquilo que comumente acreditamos. Também acho que não dá para julgar que essas mulheres sofrem de uma carência enorme e por isso são capazes de tudo. É muita simplificação.

Não há estudos sobre isso. Em minha opinião, as mulheres que se apaixonam por assassinos em série de algum modo acreditam que podem salvar estes homens de sua monstruosidade. Certamente sentem-se destemidas e diferentes das demais e, assim, se entregam a esta “missão”. Vão buscar força para isso “lá no fundo” da natureza feminina.

O que elas querem com um serial killer?

O psiquiatra forense Guido Palomba acrescenta que essas mulheres vêem nesses presidiários alguma coisa segura, elas sabem onde eles estão, não há outra mulher para trair, é como se eles ficassem à disposição delas. Quando estão soltos, isso não ocorre. A prisão seria um lugar seguro para elas, na medida em que o “seu homem” está lá, confinado.

— Uma das características principais desses romances é que os presos aceitam essas mulheres, porque, para eles, tudo é lucro. Eles não têm nada a perder, elas levam bolo, cartinha de amor. Mas é um romance que acaba no alvará de soltura. A maioria absoluta das vezes acontece isso. Assim que eles têm o alvará de soltura, elas levam um fora.

A psicanalista Tatiana Ades, especialista em questões de amor patológico, ressalta outros traços comuns às mulheres que se apaixonam por serial killers: elas sofrem de uma cegueira emocional.

— Essa “cegueira emocional” nos mostra um perfil feminino com uma autoestima extremamente baixa e um desejo irreal de modificar um criminoso, desejo esse que se torna um estimulo pra que ela se sinta poderosa e dominadora.

É como se ela tentasse tapar todas as dores e humilhações de sua vida fazendo contato com um indivíduo que é para ela a salvação para sua vida vazia e amarga.

Essas mulheres acreditam que têm superpoderes e são capazes de modificar qualquer perfil. E, mais do que isso: as que se sentem atraídas por psicopatas têm certeza de que, com elas, nada irá acontecer.

— Ela despreza tudo o que ele fez e acredita que um homem que odeia as mulheres pode amá-las. Há uma distorção da realidade, uma psicose. Tem uma adrenalina só de pensar em se envolver com o outro que mata e destrói. É algo químico.

Muitas são instruídas, têm formação, mas não possuem inteligência emocional, que é a capacidade de agir perante os obstáculos da vida e perceber quando alguém representa um perigo pra você.

Segundo Tatiana, quem é saudável, cai fora. Quando a pessoa percebe que é roubada, pula fora, por mais que sofra, a pessoa vai evitar essa destruição. A mulher que se coloca no papel de heroína está se auto sabotando, está trazendo para perto dela o perigo.

E a especialista alerta: o psicopata não vai melhorar, não tem recuperação.

— Eles não tem empatia pelo outro ser humano. Simplesmente usam essas mulheres para brincar. O psicopata adora a sensação de poder que tem sobre o outro. Quando eles percebem alguém que sente muito, se divertem mais. Eles estão morrendo de rir e se divertindo com isso tudo. Impossível que tenham qualquer afeto.

Fonte: resilienciamag.com

(Matéria publicada originalmente no Portal R7)

Foto: Wildes Barbosa/O Popular

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