As pessoas ansiosas ou deprimidas estão mais propensas a usar a internet? Elas também são mais propensas a serem viciadas nisso? Neste artigo, discuto a psicologia do controverso tópico do vício em internet.
Deixe-me começar falando sobre o que torna a internet atraente e talvez viciante. Por um lado, a internet é facilmente acessível. Hoje em dia, você pode acessar a internet de praticamente qualquer lugar (no ônibus, em casa, no trabalho, em férias, etc) e usando qualquer um dos vários dispositivos disponíveis.
Em segundo lugar, a internet é anônima. Isso significa é que você pode fingir ser quem quer que você quer ser online. Você pode ser exatamente o oposto de si mesmo. Você pode ser a melhor versão de si mesmo. Você pode até ser duas pessoas ou cinco ou vinte.
Em terceiro lugar, a internet pode servir como uma fuga do mundo real. Fuga das questões do trabalho, problemas familiares, da rotina diária, dos muitos aspectos insatisfatórios da vida. As pessoas podem se perder no mundo dos jogos, apostas, compras, socialização anônima e sexo virtual.
Mas o uso excessivo da internet é um vício?
A Sociedade Americana de Medicina do Vício define o vício como uma doença associada a uma “incapacidade de se abster de forma consistente, comprometimento do controle comportamental, desejo, diminuição do reconhecimento de problemas significativos com seus comportamentos e relacionamentos interpessoais e uma resposta emocional disfuncional”.
Mas o uso excessivo da internet não pode ser considerado um vício típico. De fato, o vício em internet é frequentemente categorizado como um vício comportamental. São vícios que não envolvem o uso de uma substância química externa. Outros exemplos incluem vício em trabalho ou compras.
Há muito debate sobre se os vícios comportamentais são vícios verdadeiros.
Alguns pesquisadores acreditam que um vício deve envolver o uso de uma substância. Outros acreditam que, enquanto pudermos observar certas reações, como a tolerância (que se refere à adaptação do corpo a níveis anteriores de comportamento aditivo, tornando os níveis mais altos desse comportamento necessários para experimentar o mesmo grau de prazer que antes), ou a retirada (desconforto experimentado quando de repente paramos de fazer o comportamento viciante), então é um vício.
Vício em internet
Então, o que é o Vício em Internet (VI)? Vício em Internet refere-se a uma preocupação excessiva com o acesso e uso da internet. De acordo com um artigo influente publicado em 2008, o VI tem quatro componentes:
1- Uso excessivo (por exemplo, ao ponto de negligenciar comer ou dormir)
2- Retirada (por exemplo, sentir raiva / depressão se não puder usar a internet)
3- Tolerância (por exemplo, gastar mais e mais tempo na internet)
4- Repercussões negativas (por exemplo, fadiga, ansiedade, isolamento social, etc)
Não há consenso, no entanto, sobre os critérios exatos que devem ser usados para diagnosticar VI.
Como os pesquisadores usam critérios diferentes para definir VI, também é difícil determinar o quanto a VI é realmente prevalente. Eu olhei dezenas de estudos e, como esperado, as estimativas variam significativamente. Kuss e colaboradores, analisando 27 estudos envolvendo crianças/adolescentes, observaram que a prevalência de VI variou de 0,8% (na Itália) a 26,7% (em Hong Kong) .
VI e doença mental
O VI tem sido associado à baixa autoestima e estabilidade emocional. Também tem sido associado a transtornos depressivos e ansiosos e, em particular, à ansiedade social.
Por que pessoas socialmente ansiosas preferem o ambiente online? Talvez porque elas tenham maior controle sobre como parecem ser para os outros, especialmente durante uma comunicação baseada em texto (porque os outros não serão capazes de observar/julgar a aparência e a linguagem corporal da pessoa).
A boa notícia é que as pesquisas mostram que tanto os tratamentos psicológicos (por exemplo, terapia cognitiva comportamental) como os tratamentos farmacológicos (por exemplo, antidepressivos) são eficazes para melhorar o VI e reduzir os sintomas depressivos e de ansiedade associados.
Conclusão
O vício em internet refere-se ao uso e à preocupação com a internet, uso excessivo que interfere nas atividades diárias e resulta em vários problemas na vida pessoal, profissional e social.
Há uma discussão sobre se o VI é um vício verdadeiro e uma verdadeira doença mental. Ainda assim, ele está associado a várias condições de saúde mental, como depressão e ansiedade. Medicamentos e psicoterapia parecem ser eficazes no tratamento de VI e a ansiedade e depressão relacionadas.
Referências:
1. American Society of Addiction Medicine (2011, April 19). Public policy statement: Definition of addiction. Retrieved from www.asam.org
2. Block, J. J. (2008). Issues for DSM-V: Internet addiction. American Journal of Psychiatry, 165, 306–307.
3. Kuss, D. J., Griffiths, M. D., Karila, L., & Billieux, J. (2014). Internet addiction: A systematic review of epidemiological research for the last decade. Current Pharmaceutical Design, 20, 4026–4052.
4. Prizant-Passal, S., Shechner, T., & Aderka, I. M. (2016). Social anxiety and internet use—A meta-analysis: What do we know? What are we missing? Computers in Human Behavior, 62, 221-229.
5. Winkler, A., Dörsing, B., Rief, W., Shen, Y., & Glombiewski, J. A. (2013). Treatment of internet addiction: A meta-analysis. Clinical Psychology Review, 33, 317–329.
(Fonte: psychcentral)
*Traduzido e adaptado por Marcela Jahjah, da equipe Fãs da Psicanálise
*Texto traduzido e adaptado com exclusividade para o site Fãs da Psicanálise. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos.
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