Família

O mito da mãe perfeita e a culpa. Como podemos minimizar esse sentimento tão enraizado?

Semana passada escutei de algumas coaches:

“Poxa não tenho sido uma boa mãe”.

Também ouvi isso de uma grande amiga que acabou de ter seu lindo bebê e o mais velho, que tem só 4 aninhos, na opinião dela, esta sendo “negligenciado”:

“Não tenho conseguido dar atenção nenhuma para o meu menino, estou me sentindo mal, não sou uma boa mãe”.

Isso me fez refletir o quanto nós mamães somos criticas e poucas generosas com nós mesmas. Você também sente isso?

O que é ser uma boa mãe para você? Já pensou sobre isso?

Venho refletindo e pesquisando sobre já faz algum tempo e resolvi vir aqui compartilhar contigo essa minha reflexão e também as minhas experiências. Continue lendo o texto.

Eu tenho duas filhas, Bá e Mimi (13 e 7 anos) meus tesouros. Nunca coloquei peso na maternidade e sempre trouxe para mim a responsabilidade das minhas filhas. Contei com muita ajuda por algum tempo, mas nunca deleguei os principais cuidados e a educação e isso nunca foi um problema, muito pelo contrário, eu sempre gostei de ser mãe.

Fui mãe cedo, aos 19 anos já estava grávida da Barbara, mas lembro bem o que ouvi da maioria das pessoas naquela época, e por favor, aqui não há julgamento, são apenas fatos:

  • Você não pode ficar nervosa na gravidez, passa para o bebê.
  • Você não pode ficar nervosa nesse momento (os primeiros quatro meses de um bebê) passa para o bebê.
  • Você não pode ficar triste ou com raiva, assim não conseguirá cuidar do seu bebê.
  • Medo? Não! Mãe não tem medo, assim que sua filha nascer você aprende tudo.
  • Mãe não cansa.
  • Mãe dá conta.
  • Mãe sempre acha um jeito.
  • Mãe sempre sabe de tudo.
  • Mãe sabe tudo o que acontece com sua criança.
  • Mãe não fica doente.
  • Mãe não chora.
  • Mãe não reclama.
  • Sua filha não pode chorar tanto assim, você não está passando tranquilidade e confiança para ela.
  • Você não pode mostrar fraqueza para sua filha.
  • Você é o exemplo.
  • Você tem que ensinar.
  • Você é a base.
  • Você é o porto seguro.
  • Você tem que saber, entender e ajudar.
  • Se algo sair errado, saiba, a culpa será sua, acredite.

Ufa!!!

Você também já ouviu isso?

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Essas são só algumas das coisas que ouvimos quando nos tornamos mães, só as que eu lembro, existem muito mais.

E o que eu quero dizer com isso?

Não há como não se culpar, quando por toda uma vida, ouvimos que mãe é a PERFEIÇÃO do Universo, a SUPER HEROÍNA que pode com tudo, com todos e consigo.

Eu, enquanto filha pequena, também acreditava em tudo isso e realmente achava que minha mamãe sabia e podia tudo, e ela fez o melhor que pode, com os recursos que tinha para ser essa mãe que todos idealizaram, inclusive eu e ela.

A que custo? Aí é muito particular, mas garanto que não foi fácil e nem “barato”. E ela conseguiu ser essa perfeição toda? Claro que não! E o que aconteceu? Culpa…

Vamos refletir? Você acredita que uma mãe pode tudo isso e muito mais? Sempre e para sempre?

  • É possível não ficar nervosa na gravidez?
  • É possível não surtar nessa fase tão delicada de adaptação (tanto sua quanto do seu bebê)?
  • É possível saber tudo?
  • É possível não ficar doente?
  • É possível não reclamar? Não chorar?

E as emoções? Sabia que elas são inatas? Emoções são biológicas, não há como acabar com elas, elas são sentidas e do ponto de vista evolutivo, são necessárias. Como não sentir medo? Tristeza? Raiva? Quem não sente isso? As mães “super-heroínas-mega-blaster-power”? E quem nos ensinou a lidar com elas (emoções)? Aprendemos no colégio ou na faculdade? Na boa, isso é muito desumano.

A nossa cultura e a sociedade em que vivemos – Da qual eu e você fazemos parte e, portanto, contribuímos para isso – criou um papel materno que NÃO existe. E é exatamente por isso que existe tanto sentimento de culpa enraizado em nós mamães.

E a culpa… Ah a culpa… eu sei, você sabe, nós sabemos… Acaba com a gente e com a nossa auto estima.

E do fundo do meu coração, nós não merecemos isso.

Sentimo-nos culpadas porquê não nos foi ensinado que mães choram, sofrem, ficam nervosa, com raiva, muito cansadas e tristes. Sentimo-nos culpadas porquê ninguém nos disse que podíamos SIM sentir todas essas emoções e mesmo assim continuar amando nossos filhos e sendo boas mães.

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Sentimo-nos culpadas porquê não nos foi ensinado que SIM, podemos dizer aos nossos filhos o que está acontecendo e pedir a eles que nos deixem sozinhas, que não é nada com eles, somos nós que não estamos bem. Estamos cansada, nervosa, triste, mas que isso vai passar, só precisamos de um tempinho

Sentimo-nos culpadas porquê não ficamos a vontade para pedir ajuda quando tudo parece desesperador e confuso. Quando nossos bebês choram e temos vontade de chorar também. Sentimo-nos culpadas porquê gostaríamos de dizer que tá tudo muito difícil, mas sabemos que vamos ser “tachadas” de má mãe, que só reclama dos cuidados com seus filhos e que mãe que é mãe não faz isso.

E por nos sentir culpadas por tudo isso e mais um pouco, internalizamos todas essas emoções, sentimentos e pensamentos e passamos a nos diminuir dia após dia, imaginando que somos péssimas mães e que nossas amigas ou qualquer outra mãe jamais fariam isso com suas filhas, afinal, mães são perfeitas, só nós que somos “desajustadas, erradas, desalinhadas, inadequadas…”

Na boa, isso é muito injusto!

As nossas emoções e sentimentos nada tem a ver com o amor que sentimos pelos nossos filhos, nada tem a ver com a nossa dedicação a eles, nada tem a ver com a nossa entrega, nada tem a ver com a nossa relação com eles.

Essas emoções e as dificuldades maternas são reais e complicadas de serem administradas, e ninguém nos ensinou como lidar com cada uma delas. O que aprendemos foi que precisamos ser mães perfeitas, e sendo perfeitas, não podemos ter raiva, tristeza, cansaço, medo, nervosismo… Não podemos ser nós mesmas e isso é surreal. Não somos assim! Não existe nenhum ser assim, isso é MENTIRA!

Aí sabe o que acontece com a maiorias das mães? Elas têm suas necessidades, sentem suas emoções, têm dificuldades em lidar com isso, alimentam maus pensamentos que geram mais emoções negativas, entram em um ciclo vicioso que tende a diminuir cada vez mais sua auto estima, sua autoconfiança, seu poder pessoal… Se anulam. Algumas retomam após alguns anos, outras jamais e o mundo perde com isso.

Esse é um ciclo vicioso, real e muito injusto. Por que precisamos perder nossa essência feminina, nossa autoconfiança, auto estima e poder pessoal quando nos tornamos mães? Não faz sentido, concorda?

Eu sou uma mãe louca e perdidamente apaixonada pelas minhas crias, sou uma leoa e movo o mundo por elas, porém eu, assim como você mãe, não sou só exclusivamente amor, carinho e compaixão. Sou uma mulher que sofre, que chora, que reclama, reclama muitoooo. Que me tranco no banheiro por minutos livres para manter a minha sanidade.

Sou uma mãe que sente vontade de ter nascido homem, que se exclui em algumas noites de família, por estar a ponto de explodir, que me irrito com as 3.227 perguntas (por minuto) da minha pequena e peço aos Deuses muita paciência, sou uma mãe que se arrepende, e SIM, de ter se tornado mãe, pelo menos por um segundo, e depois me arrependo de ter me arrependido. Sou uma mãe que me sinto sozinha, ás vezes triste, nervosa, maluca…

Já quis que a licença maternidade acabasse logo e depois desejei que não acabasse nunca, porque dói demais ficar em casa 100% do tempo com um bebê, mas também dói, e até mais, sair de casa sem ele.

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Eu sou SIM, contradição e insegurança pura em vários momentos da vida, e não apenas na maternidade, sem ela eu também seria contradição e insegurança pura, em momentos diferentes claro, mas seria, até porque, mulheres que não são mães não estão isentas de dor, tristeza, sofrimento, raiva, reclamação, nervosismo, insegurança e etc.

Ser mãe dói? Dói! Mas vale cada pedacinho dessa dor, eu não acho difícil ser mãe, eu acho que é fluído, o que eu acho difícil é desassociar o meu EU com o EU materno, não dá! Essa é minha totalidade, e sendo assim, não há como não ter tristezas, raivas, medos e nervosismos. Eu sou um ser completo e por ser completo sinto tudo isso, inclusive sendo mãe, e aprendi que isso não me faz menos mãe ou uma mãe negligente.

É preciso desconstruir esse papel fantasioso da mãe, é preciso acabar com essa crença, com o repasse dessa crença. Não existe perfeição nenhuma nas mães, não deixe seu filho acreditar nisso, não acredite você nisso. Eles não merecem isso, você não merece isso, eu não mereço isso, nós não merecemos isso.

Eu sou totalmente a favor da maternagem, e hoje vejo o quanto isso faz diferença na vida de uma criança, acredito demais na importância do amor, do cuidado e do toque afetuoso na formação da personalidade da criança, descobri que cuidar é muito mais que alimentar, vestir e proteger das doenças e perigos. Vivo isso com minhas filhas e sou grata por essa percepção e por ter mudado a tempo, mas também sou a favor de uma maternagem real e sincera, crianças entendem mais do que imaginamos e o pensamento contrário a isso pode ser só mais uma forma de confirmar, inconscientemente, essa crença da “mãe perfeita”.

Hoje minhas duas filhas já estão maiores e confesso que, do ponto de vista emocional, as coisas estão mais tranquilas, ás vezes penso que se eu tivesse me conscientizado de algumas coisas no passado, quando elas ainda eram bebês, eu teria sofrido menos. Mas o passado já foi, pego o aprendizado e as milhares de coisas boas e levo comigo afim de melhorar o nosso futuro e ajudar outras mães com esses conflitos e sentimentos de culpa.

E foi pensando nessa minha experiência, nas minhas reflexões e nos meus estudos sobre o comportamento humano e as nossas emoções que eu resolvi, mesmo sem ser uma especialista no assunto, sugerir a uma das minhas coaches, que estava se sentindo muito culpada e triste, a conversar com seu filho mais velho (5 anos) e explicar a ele que ela estava passando por um momento difícil e que isso estava deixando ela muito nervosa, que não era nada com ele, que o problema era dela, mas como ela estava muito triste e preocupada com isso, o nervosismo surgia e ela poderia, em algum momento, ser grossa com ele, mas que ela não queria que isso acontecesse e por isso gostaria muito da ajuda dele.

Ela relutou no inicio, pois imaginava que ele não entenderia, disse que não queria envolver o filho, tão pequeno, em seus problemas (justo), porém eu considerei essa relutância uma forma de, inconscientemente, confirmar a perfeição materna, não por ela desejar isso, mas por realmente acreditar. Assim como eu e você, ela ouviu isso a vida toda e sendo assim, não se sentia confortável em simplesmente ser honesta com o filho.

Após alguns questionamentos e reflexões ela resolveu tentar.

O resultado foi muito positivo e ela me disse que nunca havia se sentido tão livre e leve.

A comunicação com seu filho a libertou. E melhor que isso, libertou o filho da culpa também, ela desassociou o problema e a sua irritação, do amor e carinho que tem pelo filho, isso é uma libertação para a criança que passa a entender que o problema da mamãe está nervosa não é com ele. E mesmo que o nervosismo dela fosse com o filho, quando você fala com sinceridade e amor, você gera a oportunidade de dizer, que o problema está no comportamento ou atitude da criança, e não nela, e assim minimiza o sentimento de culpa em ambos.

Segundo Bibianna Teodori, autora do livro “Coaching para pais e mães – Saiba como fazer a diferença no desenvolvimento de seus filhos”, quando se estabelece uma comunicação assertiva com as crianças, cria-se, consequentemente, uma profunda conexão com elas. “Somente com esse elo podemos transmitir a nossos filhos as mensagens afetivas. Essa é a melhor forma para educar, pois comunicar alimenta a alma, constitui valores e expressa emoções”.

Parece simples e óbvio quando lemos ou quando ouvimos, parece fácil quando é com o outro, mas não é tão simples assim… Se pararmos para pensar, perceberemos que não usamos dessa simplicidade no nosso dia a dia. Reflita.

Vivemos em uma prisão mental por não pensar, por não utilizar da comunicação sincera, nos disseram que era assim, acreditamos e não questionamos, seguimos padrões e sofremos com aquilo que não dá certo, estamos tão “ocupadas” que não paramos para refletir sobre coisas simples que poderão ter efeitos mágicos e compensadores em nossas relações maternas.

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Entendo que quando nossos filhos são ainda bebês pareça mais complicado essa comunicação, mas ainda assim é possível reverter esse cenário. A comunicação, na minha opinião, é a chave para minimizar esses impactos. Seu filho é um bebê ainda? Comunique-se com você mesma primeiramente. Entenda suas necessidades, pare, respire, de um passo para trás, pergunte a si mesma o que você precisa, tome seu folego e retome o controle, depois converse com seu bebê, essa interação fará uma diferença enorme na relação de vocês. Não é tão difícil quanto parece, você só precisa tentar.

Quando tomamos atitudes que minimizam a culpa, começamos a nos sentir mais capazes, como consequência agimos mais, temos mais resultados positivos, alimentamos mais crenças e atitudes positivas a nosso próprio respeito e nos sentimos mais e mais capazes, e cada vez menos culpadas, e assim entramos em um ciclo virtuoso e abandonamos o ciclo vicioso, gerando auto estima, autoconfiança e poder pessoal.

O mundo precisa de cada uma de nós em nossa totalidade. Então por que não tentar?

Que tal tomar atitudes como:

  • Conversar com seus filhos.
  • Conversar com sua família.
  • Ser franca consigo e com o outro.
  • Entender suas próprias necessidades.
  • Se permitir respirar, descansar, desopilar.
  • Dizer não ao “eu dou conta de tudo”.
  • Abraçar sua vulnerabilidade.
  • Delegar.
  • Procurar ajuda.
  • Ser generosa com você….

O autoconhecimento é algo que pode te ajudar com o reconhecimento das suas necessidades e gerenciamento das suas emoções. Só gerenciamos aquilo que podemos mensurar, não há como gerenciar VOCÊ, seu íntimo, se não souber com o que está lidando.

Permita-se se conhecer para assim VIVER MELHOR.

Considere o autoconhecimento como alternativa de melhorar a sua relação consigo e com seus filhos.

O que acha disso?

Bethania Albuquerque

Coach formada pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC). Idealizadora do Projeto Viver e Melhor. Autora do livro digital O Poder do Otimismo Diário. Life Coach com foco no Positive Coaching e no desenvolvimento pessoal, profissional e emocional da mulher. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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