Você já experimentou uma paixão arrebatadora? Já sentiu uma profunda antipatia por alguém que acabou de conhecer? Ou teve um sonho estranho, assustador e, aparentemente, sem pé nem cabeça?
Pois a noção teórica do inconsciente nasceu justamente da percepção de que, em alguns casos, nossas ações e sentimentos não são guiados apenas pela razão, ou pelo consciente.
“Todos nós temos desejos, temores, ideias preconcebidas que não sabemos exatamente de onde vêm, que não foram escolhas nossas e que simplesmente se manifestam”, afirma o psiquiatra e psicanalista Oswaldo Ferreira Leite Netto, diretor do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Netto explica que fatores inconscientes atuando sobre nossa vida psíquica o tempo todo, quer estejamos dormindo, quer acordados.
Boa parte dos nossos hábitos do dia a dia são inconscientes, ainda que sejam iniciados de maneira voluntária. Assim, uma vez que tenhamos aprendido a andar, guardamos aquele conhecimento e não precisamos mais pensar sobre ele a cada vez que caminhamos. Outras lembranças ficam no nível do inconsciente simplesmente porque não julgamos que sejam tão relevantes. Por último, residem no inconsciente memórias de experiências que vivemos, mas que, por algum motivo, insistimos em reprimir.
Uma das principais funções do inconsciente é manter o equilíbrio da nossa psique. “É simplesmente impossível guardar todas as nossas experiências e ainda ter plena consciência delas. Para isso, existe o inconsciente”, explica a psiquiatra e psicoterapeuta Fernanda Gonçalves Moreira, professora da Universidade Federal de São Paulo.
Logo, o inconsciente é a nossa bagagem de memórias, um repositório que nos alimenta continuamente de imagens e símbolos. De vez em quando, o inconsciente interage com a consciência, o que pode ser bom ou ruim, dependendo de como lidamos com os resultados que essa ação nos traz. Sidarta Ribeiro explica que quando uma associação entre memórias é muito forte, mas reprimida conscientemente, ela pode escapar ou vazar por meio de um ato falho ou mesmo de um sonho que expressa aquele conteúdo de forma direta ou indireta.
Esse mecanismo explicaria, por exemplo, o fato de alguém dizer “tchau” em vez de “oi” a uma pessoa que acabou de encontrar e da qual não gosta muito. Isto também pode acontecer por pura distração. Se for recorrente, entretanto, merece ser analisado com cuidado. “O inconsciente pode nos colocar em contato com sentimentos viscerais ou com o que algumas pessoas chamam de intuição. Prestar atenção nesses sinais pode nos ajudar a tomar decisões mais acertadas no dia a dia”, diz Callegaro.
Conhecer e interpretar os sinais que o inconsciente nos dá nem sempre é tarefa fácil. E diversas técnicas da psicanálise podem ajudar a desvendá-los. “O inconsciente é a fonte da criatividade dos artistas, mas também dos sintomas neuróticos”, alerta Ribeiro.
Deste modo, perceber e analisar o inconsciente pode ser um caminho para minimizar distúrbios emocionais. Fernanda Gonçalves Moreira, da Unifesp, diz que é comum uma pessoa enfrentar um problema por anos, sem entender seu motivo, e a explicação estar em algo que ficou guardado no inconsciente. “A pessoa chega a desenvolver depressão e até pânico sem se dar conta desse processo”, diz.
Além da terapia, a arte também é um atalho para o inconsciente. E, quanto mais acessado, maior a chance de ampliar a consciência e a criatividade. Quem produz qualquer tipo de arte pode transmitir sentimentos até então ocultos por meio de suas obras. E mesmo quem apenas aprecia uma expressão artística finalizada pode ter insights interessantes. “Os filmes que marcam a vida, que emocionam, são os que acessam algo no nosso inconsciente, trazendo essa informação para a consciência e nos fazendo enxergar um mesmo tema sob um novo ponto de vista. Isso pode acontecer também diante de um livro, de um quadro, uma música ou qualquer outra obra de arte”, finaliza a especialista.
As teorias do neurologista austríaco Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, ainda são referenciais importantes para os estudos do inconsciente. Freud já defendia que apenas uma pequena fração das nossas memórias encontra-se ativada, demarcando os limites da consciência. Todas as demais estão em estado latente, ou seja, escondidas. “Freud representa essa ideia usando a metáfora do iceberg como um modelo da mente, onde a maior parte está submersa. A atividade mental consciente corresponderia apenas ao topo visível”, explica o psicólogo Marco Callegaro, mestre em neurociências e comportamento pela Universidade Federal de Santa Catarina e autor do livro “O Novo Inconsciente” (Editora Artmed).
Com o avanço da neurociência, algumas ideias de Freud foram revistas e, na concepção contemporânea, o inconsciente é nada mais do que a soma de nossas memórias, é um depósito infinito de experiências de vida. Porém, muito além de arquivá-las, ele ainda as associa, num processo que foge à nossa compreensão.
“Num sentido mais profundo, existem memórias que não sabemos que temos e que podem emergir, chegando à consciência, sem que saibamos exatamente o porquê”, diz o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
(Fonte:mulher.uol.com.br)
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Matéria excelente, gosto demais do assunto. Apesar de saber pouco sobre...
Mas bateu muito com o q já entendia.
Obrigada!