“O coração tem razões que a própria razão desconhece”
Muitos conhecem essa frase, de Blaise Pascal, um filósofo francês do século XVII que também era físico, matemático e teólogo. Parece ser apenas uma forma filosófica de ver as coisas. Mas não é. Pesquisas indicam que o coração é muito mais que uma simples bomba.
O coração é um centro complexo de processamento de informações e possui várias funções além de fazer o sangue circular. Estudos recentes sobre a neurofisiologia do coração, a neurocardiologia, sugerem que ele tem, sim, uma espécie de cérebro próprio, com células nervosas que se comunicam não só com o cérebro propriamente dito, como também com o sistema nervoso autônomo e o restante do corpo. Essa comunicação é feita de diversas formas, não só pelo impulso elétrico em si que trafega através de neurônios e se propaga pelo músculo cardíaco.
O coração produz também hormônios e neurotransmissores que antes se pensava que só o cérebro podia produzir. Descobriu-se recentemente que, além do cérebro, também o coração secreta ocitocina, um hormônio conhecido como o “hormônio do amor” ou da afeição. A ocitocina tem um papel conhecido na função do parto, na lactação e na ligação afetiva entre a mãe e a criança. A ocitocina também parece estar ligada a processos cognitivos, tolerância, adaptação, comportamento sexual de ambos os gêneros, comportamento materno e estabelecimento de vínculos afetivos de longa duração. Pesquisas indicam que as concentrações de ocitocina no coração são equivalentes à do cérebro.
O coração possui um sistema nervoso intrínseco que funciona de forma independente do cérebro e do sistema nervoso do organismo. Ele gera e distribui, através de seus tecidos, seu próprio estímulo nervoso de modo a contrair e cumprir a função de bombear o sangue. Se isso não ocorresse, não seria possível fazer transplante cardíaco. Mas suas capacidades e funções vão muito além. O sistema nervoso do coração tem milhares de neurônios que detectam hormônios e substâncias neuroquímicas, percebem a frequência cardíaca e recebem informações sobre a pressão arterial.
Essas informações são transmitidas do coração para o cérebro pela vias nervosas aferentes e exercem um papel regulador sobre os muitos sinais do sistema nervoso autônomo que partem do cérebro para o próprio coração, os vasos sanguíneos , glândulas e órgãos. Portanto é uma rede complexa de impulsos, estímulos, sensibilidades, percepções, respostas, feedbacks, que se conecta através de sinais elétricos e bioquímicos.
Que o coração tem uma atividade elétrica não é nenhuma novidade. O eletrocardiograma é um exame que capta os impulsos elétricos do coração através de eletrodos colocados sobre a pele do tórax. Esses sinais são decifrados pelo eletrocardiógrafo que os traduz em um traçado, uma linha cheia de picos e vales. Esse traçado é então interpretado pelo cardiologista, que percebe se o coração está batendo em um ritmo regular ou não, se o impulso elétrico está se originando da forma correta e no local correto, se está se difundindo de maneira adequada pelo músculo cardíaco ou se tem algum bloqueio, etc.
Mas é muito mais do que isso. O coração é o mais poderoso gerador de padrões rítmicos do corpo humano. O coração cria e mantém um intenso campo eletromagnético tridimensional cujas dimensões ultrapassam os limites do organismo.
O cérebro também emite sinais elétricos – captados pelo eletroencefalograma – e também cria um campo eletromagnético à sua volta. Esses dois campos eletromagnéticos, o do coração e o do cérebro, interagem entre si e podem fazê-lo de modo coerente ou não. Quando os dois campos agem de forma coerente, ou seja, quando há um estado de coerência psicofisiológica, existem harmonia e sincronização dos sistemas cognitivo, emocional e fisiológico.
A partir daí, os vários sistemas do organismo funcionam de forma mais eficiente e harmoniosa; o estresse, o cansaço, a ansiedade e a depressão diminuem; há maior equilíbrio hormonal e imunológico; os processos regenerativos do corpo ficam facilitados; há mais estabilidade mental e emocional. Ocorre a promoção da saúde como um todo.
Autor: Dra. Karen Câmara, médica, especialista em Saúde Ocupacional, pós-graduação em Psicanálise, experiência em Toxicologia.
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Muito interessante.