Se algo em sua rotina te desconforta, te aperta o peito, te exige tantas adaptações que fazem você nem se reconhecer mais direito, talvez seja hora de desfrouxar a alma e mudar o roteiro.

Se há mais choros do que sorrisos, já é um grande motivo para repensar tudo. Se há mais discussões do que abraços, desate os laços. Se está mais complicado do que simples, não se preocupe em entender, deixe para trás, se há muita luta, desfaça tudo e sinta o alívio de seguir em frente.

Se você teve que engolir muitos sapos, conter os gritos, guardar as mágoas, esquecer das risadas, vomite tudo, despeje tudo, abandone, deixe as bagagens, desapegue-se dos velhos cartões postais de sua história e queira começar um novo livro.

Se pesa demais e sempre, dispa-se. Se a vida sempre está melhor nos momentos de solidão. Se fica mais leve quando você só tem que lidar consigo mesmo, se a dor que você anda sentindo não está fazendo ninguém evoluir, não traz conversas profundas, auto-observações, vontade de mudar pelo amor, daí pode ser que você está apenas repetindo um círculo vicioso.

Pode ser que sua vida tenha entrado num looping do eterno retorno que já não renova muito as energias, é um movimento estagnado. Aí, talvez você vá precisar de um tanto de coragem, sensatez e ousadia para colocar o corpo e a alma fora de um destino reprisado.

Ninguém é tão precioso assim para ser levado a tiracolo. Ninguém é tão importante assim que mereça um atraso no seu caminho existencial. Ninguém é tão dependente assim que não pode encontrar o próprio sustento emocional, ninguém é tão limitado assim que não pode achar as ferramentas para a própria evolução e maturidade.

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Não cabe mais ninguém nos seus ombros cansados, caberia sim alguém ao seu lado, de mãos dadas. Não cabem vozes duras ofuscando seus pensamentos livres, não cabem âncoras na sua vontade de navegar, não cabem verdades irrefutáveis e inflexíveis nos seus olhos cheios de amor à vida.

Não dá para carregar alguém no lombo e ainda ser guiado para um lado que você desconfia, por valores que você desacredita. Você é o senhor do seu destino, você já sabe como renovar suas energias, você se equilibra sozinho. E não dá mais para ficar tentando balancear pessoas que se acostumaram a viver acoplados e dependentes.

Perto de você, cabem pessoas que vêm para compartilhar, para dar e receber, para ensinar e ouvir, para entender, aceitar e respeitar. Não é sendo convencido, não é se desconstruindo inteiro para poder ficar ou entrar numa história que você encontrar amor e paz.

Bem no fundo (ou talvez já no raso), você bem que já sabe por onde quer voar.

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Clara Baccarin é paulista dos interiores, nascida nos anos 80. É escritora, poeta e agitadora cultural. Faz parte do grupo editorial Laranja Original. Publicou, pela editora Chiado, o romance poético Castelos Tropicais (2015) e a coletânea de poemas, pela editora Sempiterno (2016), Instruções para Lavar a Alma. Em 2017 lança, em parceria com músicos e compositores, o álbum Lavar a Alma, que reúne 13 de seus poemas musicados. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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