“Não se acha a paz evitando a vida”. A famosa frase é de Virginia Woolf. Uma escritora que, engolindo sua fragilidade emocional consequente de abusos sexuais e traumáticos, conseguiu deixar mensagens de coragem, força e esperança para seus leitores.
Virginia era complexa. Suas obras mais ainda. Não tive o prazer de conhecer alguém que conseguisse ler Virgínia, sem antes, estudar sua personalidade. A forma como a autora via a vida e encarava seus traumas formavam a base de toda sua criação literária. Por isso, a necessidade de conhecer Virginia minuciosamente.
Como a própria autora dizia: “cada um tem o seu passado fechado em si, tal como um livro que se conhece de cor, livro de que os amigos apenas levam o título”.
Colocando a autora nos sites de busca, provavelmente, os resultados serão voltados para o suicídio cometido pela autora em 1941. Porém, limitar-se a essa informação como condição de conhecer as obras de Virgínia é como comer o chocolate granulado sem tocar no brigadeiro.
As obras de Virginia carregam algo intrigante: apesar de escritas há anos, os temas continuam sendo atuais e marcantes. O grande problema é que, por possuir recursos narrativos complexos com mudanças rápidas de ponto de vista, muitos leitores desistem das obras por considerarem “incoerentes e cansativas”. Temos aqui duas linhas de pensamento: os que consideram Virginia “entediante” e os que a consideram atemporal diante dos temas abordados em suas obras.
Um exemplo disso é “Um Teto Todo Seu (1929)” onde a autora revela seus pensamentos e ideias sobre o feminismo, através de questionamentos feitos para o próprio leitor: “Por que os homens bebem vinho e as mulheres água?” “Por que um sexo é tão próspero e o outro, tão pobre?” “Que efeito tem a pobreza sobre a ficção?” “Quais as condições necessárias para a criação de obras de arte?” “Vocês têm noção de quantos livros sobre mulheres são escritos no decorrer de um ano?” “Vocês têm noção de quantos são escritos por homens?” “Têm ciência de que vocês são talvez o animal mais debatido no universo?” (p. 41 e 43).
Virginia fugia do estereótipo de submissa e doce (como era o “aceito” pela sociedade da época). Os temas de suas obras eram gritos de liberdade femininos em forma de versos: ““Não há barreira, fechadura ou ferrolho que possas impor à liberdade da minha mente”.
Em Orlando de 1972, obra que descreve a história de um nobre rapaz que, um dia, acorda e se vê mulher, fica explícito a inconformidade de Virginia diante da crueldade a que as pessoas são expostas: “não imaginavam que o que chamamos “vida” e “realidade” estivesse relacionado com ignorância e brutalidade.” (p.207).
Audaciosa, bipolar e corajosa. Essa seria a definição perfeita de Virginia se não fosse por um detalhe: a escritora não limitava-se. Sua coragem não permitia que as críticas a abalassem ou que mudassem sua forma de pensar. A verdade é que, considerada ou não uma boa escritora, para ela, pouco importava, afinal:” escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial”.