Não emagreci, não troquei de carro, não viajei como gostaria e nem vivi um grande amor.
A lista de ano novo, feita sobre as maiores expectativas, foi cancelada por um motivo óbvio: a vida não segue uma programação previamente agendada. Ela acontece do jeito que tem que acontecer e aceitar isso, de forma natural, é sinônimo de liberdade.
No ano novo, percebi que meus erros não ficaram no ano passado. Eles tiveram consequências e me fizeram lembrar que toda ação tem uma reação.
Justo! O meu peso se deve ao excesso de guloseimas do ano anterior; a viagem que não saiu do papel e o carro que não foi trocado, foram consequências de um dinheiro mal gasto com futilidades não programadas. E o amor? Ah…. esse é bom nem comentar.
Escolhas erradas, trazem consequências piores. Mas, apesar de tudo, consigo ver o lado bom disso. Aprendi que não preciso de uma lista para continuar a vida, preciso de disposição. Aprendi que as minhas listas têm sido vazias demais para o tanto que a vida me proporciona.
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Na construção dos projetos futuros, buscava resposta para tudo e, diariamente, fazia escolhas que me rotulam como sensata ou insana. Hoje me pergunto: para quê e para quem? Não preciso de uma prévia de quem será o amor da minha vida, preciso saber se seremos felizes e companheiros. Só isso!
Não preciso perder as contas de quantos amigos faço na estrada, até porque, nunca terei mais que três ou quatro mesmo. As pessoas vão indo, se afastando e só fica quem deve ficar. Acredito que esses “afastamentos” são propositais e servem mais como um livramento do que como um abandono. E, sabe de uma coisa? Fazem um bem danado à gente.
Não tenho tempo mais para segundas chances. Acredito e respeito o arrependimento das pessoas, mas não tenho tempo para comprovar a veracidade de cada um. Quero viver! E o que passou, passou! Quero outros vinhos, outros sorrisos, outra forma de encarar os fatos. A vida é uma só e eu não sei quanto tempo me resta.
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Clarice Lispector, in ¨Um Sopro de Vida¨, escreveu sobre o tempo de forma tão objetiva e tão sábia que leva o leitor a refletir sobre sua própria existência: “O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie.
Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia.”
O tempo ( e a falta dele) também foi tema para a poesia de Mário Quintana. Em “Seiscentos e Sessenta e Seis” (Poesia Completa, Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 200), o poeta retrata o tempo como efêmero: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
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É necessário parar de viver e de sofrer pelo futuro. É preciso colocar os pés no chão e entender que o que se tem em mãos, é o agora e só o agora! O depois, fica para depois… se ele existir!
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