Logo que a criança nasce, nas primeiras semanas depois do parto, a mãe deve evitar o uso de perfume. Para não confundir o filho. O cheiro do corpo materno será a maior ligação que o bebê terá com o mundo. Tanto que ele costuma chorar no colo de qualquer um, menos no colo da mãe, pois reconhecerá imediatamente o cheiro do pescoço. Só o olfato já o acalmará.
Pôr o pequeno no peito, ainda que não seja para mamar, trará o conforto da pele conhecida, o agrado de pertencer a um lugar definido depois do ventre.
É pela respiração que nos sentimos amados, antes das palavras, antes dos gestos.
O bebê mal pode enxergar, mas já sabe quem é quem pelo suor, pela química dos poros.
É uma conexão primitiva, quase inexplicável, de animal com o seu ninho.
Quando ele inspira a pele da mãe, estabelece um endereço de proteção. Talvez represente o momento oficial de seu nascimento: quando ele liga o wi-fi da personalidade. Todo perigo se apresentará fora daquele corpo, daqueles quadrantes, daquela bússola.
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A maior parte de suas lágrimas decorre de quando se vê distante do seu cheiro de existir, presente na mãe. É o seu primeiro cueiro, a sua primeira manta. É o seu esconderijo na luz, o seu ferrolho para entender o que está acontecendo e onde veio parar.
Suas lembranças primevas descendem do faro, o seu canal de comunicação com os outros. Não é por menos que, adultos, nos comovemos com um olor, sem fixar a origem da atração. Surgiu certamente do berço, da nossa fulminante e arrebatadora estreia. Eu, por exemplo, sou apaixonado por hortelã. Numa conversa à toa com a mãe, descobri que era o seu chá predileto nas minhas semanas iniciais de vida.
Dos 3 mil odores que um ser humano pode colecionar ao longo de sua trajetória, há um apenas que lhe dará segurança. Quando abraçamos a nossa mãe, refazemos a mágica da fragrância fundadora. Não há melhor abrigo para nascer de novo.
(Autor: Fabrício Carpinejar é poeta e jornalista)