Eu sei, o tema é bem sugestivo, e sim, a ideia aqui é falar abertamente sobre um problema universal chamado obrigatoriedade em permanecer em um relacionamento (não necessariamente amoroso) por conta da pressão exercida pelo social.
Começa na infância.
Você PRECISA dançar quadrilha com o Zézinho porque ele é filho da melhor amiga da sua mãe e elas acham que vocês ficam tão bem juntos. E a menina da rua de trás DEVE ser convidada para sua festinha de 5 anos porque seus pais são amigos há tanto tempo, já trabalharam juntos e tudo mais, então é chato não convidar a menina.
Nos tempos de colégio, quase na adolescência já estamos acostumados a abraçar aquele tio não muito legal, e dar a mão com um coleguinha que por questões éticas é chamado de amiguinho, a beijar o rosto da professora mais chata, e a fazer tantas outras coisas pelo simples fato de que se não as fazemos, somos taxados de arrogantes, ingratos, chatos e metidos.
A bomba começa a explodir na adolescência.
Os primeiros namoricos que para nós são coisa séria nem sempre são simples de acontecer e muito menos de acabar. Por vezes os relacionamentos acontecem ás escondidas e são altamente abusivos, ferindo os sentimentos e em casos mais extremos o corpo de quem o está vivendo. A vontade de se ver livre dessa situação é grande, mas a coragem é pequena, quase nenhuma. Além disso, há as muitas perguntas internas rondando nossos pensamentos: “mas como essa pessoa vai se sentir após o término?” ou “estamos juntos há tanto tempo, é chato romper agora”.
Percebe a semelhança entre essas questões e a pressão sofrida na infância para ter como amigo determinada pessoa? Freud diz que os traumas da infância interferem na vida adulta do indivíduo. Bem, conversamos tão pouco e já percebemos como isso é verdade. Mas, falando-se de relacionamentos, não para por aqui.
Na juventude e também na vida adulta somos cercados por inúmeros relacionamentos: na faculdade participamos de ao menos 3 grupos onde no mínimo 1 integrante se diferencia em cada um; no trabalho, passamos o dia ao lado de uma pessoa ou de uma equipe; no lar, convivemos com familiares ou colegas de república; além disso, temos nossos amigos próximos, parentes, vizinhos, companheiros do transporte público e mais uma porrada de gente que nos cerca e se faz necessária para o desenvolvimento de nossas vidas.
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A questão é: quantas dessas pessoas nos fazem bem e quantas permanecem ali por pura educação, costume e cordialidade?
Infelizmente boa parte de nossos relacionamentos não são uma experiência de sucesso. E isso não acontece porque eu e você somos pessoas ruins, não, isso acontece porque somos pessoas, simples assim. Sendo pessoas, como diria Descartes “penso, logo existo”. Você pensa, têm suas próprias opiniões, ideias e conclusões, da mesma forma as demais pessoas tem sua maneira de enxergar e viver a vida, e às vezes, só às vezes, damos a sorte de encontrar alguém que vive praticamente igual a nós.
Porém, a tendência é não encontrar, e as coisas – de vez em quando – começam a ficar difíceis, até insuportáveis, mas insistimos em permanecer ali, porque “é chato” deixar o outro na mão.
É chato não aceitar o pedido de casamento vindo de uma pessoa que não te trata bem todos os dias. O pedido foi feito em público, então, tem que aceitar né?
É chato trocar de grupo na faculdade e dar a si próprio um descanso ao invés de continuar carregando nas costas quem está ‘cagando’ para as notas. Você faz parte desse grupo há 2 semestres… O que o pessoal vai pensar?
É chato não pedir em namoro o seu rolinho. Vocês estão saindo há 3 meses, e no próximo mês essa pessoa faz aniversário, ela está esperando por isso.
É chato dizer aos seus pais que você não vai convidar os vizinhos para o seu casamento porque eles nem te dão bom dia quando vocês se esbarram no supermercado. Seus pais moram nessa rua há 20 anos, todo mundo conhece sua família.
É chato…
Chato mesmo é conviver com uma relação tóxica onde você se obriga a acreditar na fantasia de que tudo está indo bem quando na verdade não está. Chato é permanecer engolindo sapos e sorrindo amarelo para uma situação que cada dia te mata um pouquinho mais.
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Não é sua obrigação permanecer em nenhum relacionamento. Você não precisa agradar aos outros e não merece carregar nas costas o peso do fardo que é viver a vida que querem que você viva. É claro que em algumas situações você vai acabar cedendo, isso é inevitável, mas o que não pode acontecer é todos os dias dizer sim à vontade dos outros e fingir não ter vontade própria.
Você não precisa namorar, noivar e casar com uma pessoa que não ama pelo simples fato de essa pessoa te amar. Você não precisa seguir determinada religião porque querem que você faça parte daquele movimento. Você não precisa participar de um grupo porque seus pais participam. Você não precisa deixar de ser você porque outra pessoa idealizou uma vida diferente e te enfiou nos planos dela.
Liberte-se das amarras que lhe prendem a um relacionamento que não está lhe trazendo benefício nenhum. Sim, é uma decisão difícil que exige muito esforço e vontade, porém, por doloroso que seja o processo de abrir mão, com certeza doerá menos do que continuar segurando uma corda que está arrancando a carne das suas mãos.
Seja sincero consigo mesmo e pense se está valendo à pena ser uma pessoa que não é você. Pássaros foram feitos para voar, porém, após anos dentro de uma gaiola, eles passam a acreditar que aquele espaço é tudo o que tem. Saia de sua gaiola e ganhe o mundo de asas abertas.
Converse com você, com o seu Deus, com o universo, com seu psicólogo ou com qualquer outra figura que lhe traga paz. Busque as respostas dentro de você e use toda a coragem do mundo para ser feliz. Você pode, você consegue, você merece. Tenha certeza: o sorriso mais bonito do mundo é aquele que se abre involuntariamente, após ser aberto de maneira forçada durante anos.
A mudança que você precisa começa no seu interior, por isso, dê espaço às suas emoções e não às reprima. Se precisar chorar, chore, se precisar rir, ria. Se for preciso, comece tudo de novo, só não deixe de fazer por você o esforço necessário para ser feliz.