São 15 anos ouvindo pessoas e diagnosticando pacientes com depressão. Médico psiquiatra, Kleber Vargas é enfático ao dizer que depressão é doença e que para ela o tratamento é acompanhamento médico e medicamentos. Longe de ser frescura, no consultório chegam mais mulheres do que homens, com causas e pré-disposições ou não.
O diagnóstico é o de doença e não de fraqueza.
“A depressão é uma doença no cérebro em que, na verdade, tem que ter uma pré-disposição genética. É muito difícil um paciente que não tenha no histórico familiar alguém com o mesmo diagnóstico”, explica o médico.
E o que ela faz? A depressão age fazendo com que o cérebro trabalhe de maneira diferente. Onde não se consegue produzir substâncias que levam a uma sequência de eventos intracerebrais. “Essas alterações ocorrem principalmente em áreas que controlam o humor, o pensamento, a tomada de decisões, o apetite, sono”, traduz o psiquiatra.
Os medicamentos entram, segundo o médico, como necessidade para controlar tais alterações. O que na maioria dos casos, reflete na prescrição do uso de antidepressivos associado à terapias. “Tem depressão que não tem um componente de interferência genética e sim fatores estressantes que podem desencadear, são os gatilhos. E fazendo terapia você vai tratar isso também, vai ajudar a pessoa a entender melhor e lidar com os conflitos e problemas”, completa o médico.
Como auxiliares e só assim, é que entram atividade física e a espiritualidade. “Não como tratamento, mas como coadjuvantes, a atividade física e a espiritualidade, para quem tem fé, ajuda. Agora, em casos mais graves, o tratamento é fundamental”, reforça Kleber.
Não que a escrita sagrada seja o parâmetro, mas para se ter noção de quão antigo é a doença da alma e que afeta o cérebro. “Tem exemplos na própria Bíblia, de que o Rei Saul era acometido por períodos de melancolia intensa, que traduzindo, era depressão. Nos relatos da Grécia Antiga, o próprio Hipócrates têm descrições precisas de quadros depressivos”, exemplifica Kleber.
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Ainda que menor, mas presente, o preconceito ao redor do diagnóstico e do próprio médico psiquiatra é o que leva a menosprezar a doença e levar a interpretação equivocada de que depressão é falta de caráter, fraqueza e frescura. “Não é. Ninguém deprime porque quer. A gente vê profissionais no auge e você acha que a pessoa vai deixar de trabalhar, de conviver com familiares? Uma pessoa que, por vezes, pensa em se matar, como que vai se pensar que isso é frescura?” questiona o especialista. Outro mito em torno da doença, também cai. O de que a depressão só afeta “ricos”.
“É uma doença que, entre aspas, é democrática, vai do humilde ao rico”. As mulheres entram num número maior de pacientes, segundo o médico, devido à própria questão hormonal, a pressão social – de ainda ter de trabalhar, ficar bonita e cuidar da casa – e também por ser as que mais procuram ajuda médica.
Falando abertamente, Kleber explica que a doença pode ou não ter uma causa e os primeiros episódios estarem ligados à uma delas, como briga, namoro, casamento, desemprego ou luto. “Mas com o passar do tempo e quando não é tratado, pode sim ter um episódio depressivo independente de fator externo. Tem os pacientes que tem uma prevalência genética muita alta para desenvolver”, descreve.
Tendo uma causa ou não, os sinais de uma depressão podem ser notados nas mudanças de comportamento.
Quando a vontade de ficar mais quieta ou mais crítica com o mundo e consigo mesma predomina. “Quando começam as indagações, além do filosófico, de qual é o sentido de estar viva, quando não se vê sentido nas coisas, começa a ficar irritada no trânsito, com filhos, familiares e perder o prazer em fazer coisas que normalmente se fazia”, elenca o médico.
A tristeza, ainda que não seja doença, deve ser encarada como um sintoma, quando se faz presente por um tempo prolongado. E a cura? Os trabalhos e estudos de dentro e fora do País é que dizem que cura não há, mas a chance de um novo episódio depressivo pode ser maior se o tratamento adequado não for feito. “Entre nove meses e um ano, tomando medicação, tem-se mais chance de não ter um novo episódio”, diz Kleber.
No consultório, não há um divã como da psicanálise. Mas para quem se sente mais à vontade, é no sofá que se abre para o médico. Ao lado, a mesinha de apoio traz uma caixa de lenços, que quando necessária, é o alento para um choro sem julgamento.
Autor(a): Paula Maciulevicius
Fonte Original: Campo Grande News
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