Essas histórias de poliamor, relacionamento aberto e amor livre estão sendo cada vez mais discutidas (não praticadas, porque isso sempre existiu).

Eu tenho uma opinião singela de que o relacionamento aberto é algo bem importante principalmente para as mulheres.

Sei que vocês vão falar que isso não tem nada a ver, mas pensa bem: sempre foi ok para os homens terem mais de uma mulher. Homem, quando trai, ouve apenas um “ah, homem não presta”, mas quando mulher trai ela é piranha, vadia e aqueles adjetivos que a gente já tá cansada de ouvir.

Talvez o relacionamento aberto seja uma abertura para as mulheres fazerem o que os homens sempre fizerem, só que dessa vez existe um acordo mútuo de que os dois podem se envolver com outras pessoas. Justo, né?

Muita gente me pergunta como é ter um relacionamento aberto, como funciona, se dá certo, onde vivem, do que se alimentam. Sempre respondo uma coisa óbvia, mas ninguém parece entender.

Cada relacionamento é diferente. Um namoro tradicional não é igual para todos os casais. Cada um tem suas regrinhas. Cada um sabe o que pode magoar o outro, cada um sabe qual é o limite do seu próprio relacionamento. Acho que é aquela coisa: o combinado não sai caro.

Se vocês chegaram a um acordo de que funcionam de tal maneira, então continuem agindo de tal maneira. Não existe uma receita certa. No relacionamento aberto é a mesma coisa. Para mim, o principal é o respeito e a lealdade, então sempre vou priorizar isso em um relacionamento.

Mas a questão é que um namoro aberto não é solução para tudo. Ele ainda tem problemas, o ciúmes ainda existe, a insegurança existe e tudo mais. Mas a questão é que você se sente mais livre e mais aberto para encarar qualquer coisa dentro desse relacionamento.

Eu já tive um relacionamento aberto, mas hoje tenho um relacionamento monogâmico. Eu me perguntava se eu teria um relacionamento monogâmico depois de ter vivido um relacionamento tão sincero, mas descobri que tem como ser livre e sincero sem precisar ficar com outras pessoas.

E é um relacionamento tão valioso quanto. Acho legal falar sobre isso, porque hoje consigo ter uma visão dos dois tipos. Não tem como eu afirmar qual deles funciona melhor, porque cada pessoa é diferente.

Muita gente pensa que um relacionamento aberto funciona mais ou menos como uma amizade colorida. Um dos dois não gosta muito um do outro e não quer ter nada “sério” ou nenhum dos dois quer se relacionar, por isso colocam o rotulo de namoro aberto.

A amizade colorida também é muito divertida e válida em vários aspectos, mas ela é bem diferente de um namoro onde duas pessoas são apaixonadas e querem estar juntas, mas não sentem a necessidade de fidelidade.

Mas acho engraçado quando as pessoas assumem (como se tivessem feito parte do meu namoro) que meu relacionamento era uma amizade colorida só porque eu podia ficar com outras pessoas. O que define um namoro, para mim, não é simplesmente o tratado de fidelidade. O namoro não acontece quando você pede o outro em namoro.

Ele acontece aos poucos. Sem você perceber, começa a dividir tudo da sua vida com essa pessoa, seus planos, seus sonhos, suas vontades e sente uma vontade enorme de estar com ela 24h do seu dia, por mais que você saiba que isso não é algo saudável. É a cumplicidade, o respeito, a admiração, o tesão e o fato de a gente estar completamente apaixonado.

Em um relacionamento aberto é a mesma coisa, só que você tem a liberdade de se envolver com outras pessoas. É claro que isso demanda tempo e muita, mas muita conversa. Se você é o tipo de pessoa que não gosta muito de discutir o relacionamento (vale frisar que discutir não quer dizer brigar, mas sim conversar), é melhor pensar duas vezes antes de se aventurar por esse caminho.

A maior insegurança nesse tipo de relacionamento é pensar que seu parceiro pode se apaixonar por outras pessoas. Mas isso pode acontecer em um relacionamento aberto ou fechado! É uma falsa ilusão a gente imaginar que o selo de “namoro” nos protege dos deslocamentos da vida.

Eu também não sou muito fã da palavra namoro, porque acho que ela vem cheia de significados embutidos, que muitas vezes, nada têm a ver com o meu relacionamento. As pessoas não são joguinhos de montar.

Elas são muito mais complexas e as suas relações mais complexas ainda! Não adianta querer enquadrar os relacionamentos em uma simples palavra como “amizade, namoro, namoro aberto”. Todos os relacionamentos são completamente variáveis e não cabem em verbetes. Às vezes, é melhor sentir do que ficar explicando. Mas isso é assunto pra outro texto…

Como em toda relação, eu e meu ex definimos algumas regras para o nosso relacionamento funcionar da melhor forma possível. Por exemplo, a gente não poderia ficar com ninguém na frente um do outro.

Primeiro porque seria realmente incômodo ver a pessoa que você ama pegando outra, segundo porque a gente sempre preferia estar um com o outro quando estávamos em qualquer lugar juntos. Pensando friamente, o fato dele ficar com outra pessoa (até mesmo na minha frente) não deveria ser um problema, afinal, se seu amado está se sentindo feliz e satisfeito, não tem porque você se sentir mal.

Mas, infelizmente, o ciúme foi muito bem incutido na nossa cabeça e desde que somos pequenos, aprendemos que temos que ser sempre o melhor, o preferido, o número um da vida de todo mundo. A gente cresce achando que estar em um relacionamento significa pertencer ao outro, mas isso não é verdade.

Essa parte do ciúme teve que ser muito trabalhada por nós, porque por mais que fossemos cabeça aberta, uma hora ou outra um sentia ciúme e aquele enorme medo de perder o outro. A gente sentava e conversava, sem joguinho ou cara feia. Era “Tô me sentindo mal, tô morrendo de ciúmes, me ajuda?” e um ajudava o outro e sempre ficava tudo bem.

A outra regra era que a gente tinha que contar um para o outro quando alguém ficava com outa pessoa. Essa regra é muito discutida entre os casais que têm esse tipo de relação. É bem melhor não saber, porque o que os olhos não veem o coração não sente.

Ele sempre preferiu que eu contasse para ele, mas no começo eu falei que não queria saber. Depois eu mudei de ideia, porque sempre que eu não encontrava com ele, pensava que ele podia estar com alguém e teria que inventar uma desculpa. Insegurança minha.

Mas eu queria que ele pudesse ser aberto comigo o suficiente para dizer “estou indo encontrar fulana” e eu ia me sentir menos trapaceada. Até hoje não sei se foi uma boa, mas na época pareceu funcionar.

Essas foram as regras que estabelecemos e foram seguidas (acredito eu!) até o final. Não terminou por nenhuma crise de ciúmes ou por alguém ter se apaixonado por outra pessoa.

A gente terminou porque eu fiz uma viagem de um mês e quando voltei, percebi que eu tinha mudado bastante e nossas ideias não combinavam mais. A gente ficou junto por um ano e foi incrível. Aprendi coisas que nunca teria aprendido em um relacionamento tradicional, principalmente essa questão de respeitar o espaço e a vida do outro.

Antes de você, ele tem uma vida pra cuidar e você também. Então é muito importante estabelecer os limites e as vontades de cada um. Acho que isso funciona com qualquer pessoa.

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Talvez eu seja todas as palavras que eu já escrevi. Talvez eu seja todos os personagens que eu já criei e vivi. Acho difícil falar de mim, já que, quem eu sou agora, já é diferente de quem eu era um minuto atrás. Colunista do site Fãs da Psicanálise.

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