O assunto psicopatia no trabalho merece destaque, em grande parte porque esse é um local em que a pessoa passa grande parte da vida. Para muitos, uma segunda casa.
Por outro lado, nem todo psicopata é um serial killer, daqueles que vemos em filmes (e também na realidade, infelizmente). Eles estão por aí, em toda parte, na padaria, no seu prédio, no parque onde você corre, nas baladas… e no trabalho não seria diferente.
O principal objetivo do artigo não é aprofundar a descrição do transtorno em si, dada sua complexidade e controvérsias mesmo quando especialistas analisam o assunto. Aqui pretende-se informar o leitor para que as atenções possam ser redobradas também no ambiente corporativo. Assim ele poderá reconhecer a psicopatia e buscar ajuda o quanto antes.
Segundo Amalia Sina, autora do livro “Psicopata Corporativo – identifique-o e lide com ele”, a psicopatia é considerada um dos mais sérios distúrbios de personalidade”, sendo descrita como transtorno na Classificação Internacional de Doenças (CID 10).
A autora faz um alerta a partir de sua experiência pessoal com a psicopatia nas empresas: “Durante esses trinta anos como executiva e até como empresária, vi grande inversão de valores; pessoas competentes, sérias e trabalhadoras perderam espaço para os psicopatas”.
Eles estão por toda parte, “escondidos”…
É importante frisar que eles não estão só em posições de chefia, apesar de “grandes líderes” famosos serem psicopatas, como Adolf Hitler (6 milhões de mortes), Mao Tsé Tung (70 milhões de mortes), Joseph Stálin (25 milhões de mortes), entre outros.
O termo psicopatia é amplo, mas algumas características são marcantes e destacá-las ajuda não só a informar o leitor, mas também a reforçar como o ambiente de trabalho pode ficar comprometido com a presença e atuação dos psicopatas.
Ainda que existam estudos que visem demonstrar o outro lado da psicopatia (como uma pesquisa da Universidade de Bonn, publicada neste ano e realizada com trabalhadores da Alemanha, que afirmou haver um tipo de psicopata que não prejudica os outros nem a empresa), a vida do indivíduo não psicopata pode ser afetada de forma considerável.
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Vale lembrar que a intenção aqui não é provocar ansiedade e estimular que cheguemos no trabalho fazendo diagnósticos, pois, obviamente, tal tarefa cabe a um profissional de saúde especializado. A ideia é apenas que você, leitor, redobre a atenção, fique mais perceptivo. Confiar cegamente nos outros é complicado e deve ser uma tarefa atribuída a poucos escolhidos. A dedo, inclusive.
Sobre o psicopata
Amalia aponta que 4% das pessoas no mundo sofrem de psicopatia.
“Charmoso, de personalidade marcante, cheio de encantos e inteligência, esse personagem, em geral, tem uma carreira de sucesso”, diz Sina. “O psicopata não apresenta sentimento de empatia ou misericórdia, portanto nunca ofenda um psicopata e também nunca confie em nenhum deles”.
Eles são mentirosos, manipuladores e com autoestima exacerbada. Vivem em uma realidade criada por eles mesmos e se fazem de vítima quando precisam se proteger.
Ana Beatriz Barros, psiquiatra e autora do livro “Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado”, explica que os psicopatas são eloquentes, envolventes e sedutores e, por isso, a suspeita do diagnóstico de psicopatia geralmente passa longe (depois dessa leitura, é bom ficar mais atento, né?)
Vários estudos já se debruçaram sobre a psicopatia. E muitos deles estudaram os psicopatas que cometeram crimes. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, por exemplo, encontraram alterações da estrutura cerebral associadas à psicopatia.
A pesquisa, que contou com 40 prisioneiros (20 diagnosticados como psicopatas e 20 sem o distúrbio), concluiu que duas estruturas do cérebro (parte do córtex pré-frontal e amígdala) têm conexões reduzidas.
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Ok, mas o que essas áreas têm a ver? Enquanto o córtex pré-frontal é responsável genericamente pelos sentimentos, a amígdala cerebral relaciona-se ao controle da ansiedade.
Traços marcantes da psicopatia
O psicopata geralmente:
Uma pesquisa realizada com estudantes universitários aponta: os alunos com traços elevados de psicopatia mentem melhor e mais rápido, se comparados àqueles com baixos níveis do distúrbio. Os pesquisadores, da Universidade de Hong Kong, testaram pessoas com altos traços de psicopatia (falsidade e manipulação) e indivíduos com poucos traços do distúrbio de acordo com questionário específico para o ambiente “não clínico”.
Em várias tarefas, os estudiosos observaram a atividade cerebral por meio do exame de ressonância magnética. Eles concluíram que os processos cerebrais envolvidos com o controle da mentira, tais como atenção e resolução de conflitos, eram menos eficientes nos “grandes psicopatas”.
Dimensões e estágios da psicopatia
Amalia, no livro sobre psicopatas corporativos, acredita que os psicopatas que não matam são tão perigosos quanto aqueles que o fazem. De alguma forma, eles desrespeitam as regras de maneira criminosa.
Segundo o livro “Psychopath: Understand the mind of a Psychopatich Person”, são três as dimensões da psicopatia: narcisismo patológico, maquiavelismo (ausência de empatia) e hostilidade interpessoal.
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Ana Beatriz Barros afirma que a psicopatia tem três estágios (leve, moderado e grave) e que todos deixam na vítima rastros de destruição. “A parte racional ou cognitiva é perfeita e íntegra, por isso sabem perfeitamente o que estão fazendo. Quanto aos sentimentos, porém, são absolutamente deficitários”.
Será que você trabalha com um psicopata?
Além de todas as características citadas anteriormente, os psicopatas, “ainda que cruéis, podem ser competentes”. Sim, por isso os traços patológicos podem ficar camuflados em meio à inteligência do psicopata. Neste caso, utilizada a favor do mal, com a intenção de destruir pessoas e conseguir o que quer que seja.
O psicopata tende a trabalhar muito e mostrar grande dedicação à empresa; está sempre disposto, chega cedo, fica bem mais que o horário. “Fala mal das pessoas quase o tempo todo, principalmente daquelas que não estão presentes. O objetivo é difamá-las, fazendo com que percam a credibilidade”, conta Amalia.
Psicopatia e bullying no trabalho
Um grupo de pesquisadores da Inglaterra associou o bullying no trabalho à psicopatia e constatou que o efeito dos chefes psicopatas vai além da infelicidade dos funcionários. Segundo o estudo, aqueles que trabalham para líderes com traços psicopáticos apresentaram não só um menor índice de satisfação no trabalho, mas se mostraram mais propensos a terem comportamentos e atitudes indesejáveis e não producentes no ambiente profissional.
A pesquisa concluiu que o assédio no trabalho cria um ambiente tóxico não só para a vítima, mas para todos que estão ao redor. Não restou dúvida: no local de trabalho onde o chefe é psicopata e narcisista, os funcionários não eram felizes nem satisfeitos.
Um artigo de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia aponta que o psicopata utiliza tanto de mecanismos mais sutis quanto diretos, como ameaças, insultos, críticas sem justificativa ao trabalho da vítima e outros, para assediá-la.
Outro artigo trata da psicopatia no trabalho e da ausência de compromisso do psicopata. “Nas relações de trabalho, a irresponsabilidade se reflete nas inconstantes ausências injustificadas, nas violações da política empresarial e no emprego indevido dos recursos da empresa”.
Mentes sãs, empresas sãs
Vale lembrar que foram citadas apenas as principais características do psicopata. A partir da leitura, já é possível, no entanto, trabalhar mais a percepção interpessoal, especialmente no ambiente de trabalho.
É essencial abrir os olhos para o comportamento de seus pares ou chefes. Claro que o diagnóstico correto só é feito pelo psicólogo ou psiquiatra, mas o psicopata corporativo precisa sim ser tema de discussão nas corporações; mesmo que isso provoque, em muitos casos, um certo desconforto.
Ainda que seja perturbador pensar que podemos ser nós as vítimas e que os psicopatas podem estar trabalhando ao lado, é importante tomar cuidado com os rótulos preconceituosos. Falar de psicopatia é coisa séria e não há espaço para conclusões precipitadas.
Até porque, como diz Ana Beatriz Barbosa, autoridade na área, “para os desavisados, reconhecê-los não é uma tarefa tão fácil quanto se imagina. Os psicopatas enganam e representam muitíssimo bem!”. É melhor se prevenir, nem que seja com um olhar mais vigilante e questionador.
“Os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns”.
Fontes:
Psicopata Corporativo: identifique-o e lide com ele – Amalia Sina
Top professional performance through psychopathy
Psychopaths are better at learning to lie, says researcher
Psychopaths´brains shows differences in structure and function
Toxic bosses are bad for your health and bad for your reputation
Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado
“Quem mais veste prada?” Psicopatas corporativos e assédio moral no trabalho
O psicopata que o direito penal desconhece
(Fonte: meucerebro)
*Texto publicado com autorização da administração da página original.
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