Terapia

Mesmo sofrendo, não consigo romper. Estou viciada(o) nesse relacionamento?

Segundo alguns dicionários, abstinência significa ação de abster, de se privar de alguma coisa.

Quando se fala de abstinência de drogas, estamos falando de se privar do consumo delas. Ao abster-se do consumo de uma droga viciante, o drogado passa a sofrer de Síndrome de Abstinência, ou seja, o conjunto de reações físicas e psíquicas que acometem o indivíduo em razão da suspensão brusca do consumo de algo tóxico.

Uma coisa muito semelhante acontece quando alguém tenta sair de uma relação tóxica. Talvez por isso tenha esse nome. Mas antes de entendermos o porquê dessa analogia, é preciso lembrar que sensações prazerosas levam à produção de potentes químicas cerebrais e isso ocorre em qualquer relação onde nos sentimos felizes.

Ocorre que tudo parece ser muito aumentado nas relações com pessoas tóxicas e com características do narcisista patológico devido ao fato que a boa fase das relações com esses tipos são sempre regadas de exagero, satisfação impecável das expectativas românticas do outro, intensidade, bombardeamento de amor e atenção irreais. Em outras palavras, é uma fase dourada comum no início das relações, só que potencializada e, por ser potencializada, é esperado que seus efeitos também o sejam. Analogicamente, é cocaína pura X cocaína misturada…

É por esta razão que, quando se rompe com essas relações, o efeito desse abster-se é tão forte e devastador e, por isso, confundido com amor e saudade de alguém que notadamente lhe faz mal.

A sensação é semelhante a que se tem quando se tenta deixar o vício por uma substância química que você sente que lhe dá prazer momentâneo, mas sabe que lhe fará definhar até a morte: você quer se livrar, mas não sabe como fazer… e sente falta!

Pensando nisso, os convido a fazer um exercício interessante: leiam essa descrição (retirada de um artigo sobre drogas) de como age a cocaína, por exemplo, no cérebro. Depois da leitura, releiam substituindo a palavra “droga” por “amor tóxico”.

“A cocaína bloqueia o efeito de recaptação dos neurotransmissores nas sinapses e, desta maneira, cria um excesso de neurotransmissores à disposição dos receptores pós-sinápticos. A consequência disso é uma sensação de magnificência, euforia, prazer e excitação sexual. Uma vez realizado esse bloqueio os neurotransmissores não são recaptados e ficam, portanto, livres no cérebro até que a cocaína deixe de estar circulante.

A presença mais prolongada da dopamina no cérebro parece ser a causa dos sentimentos de prazer associados com o uso da cocaína. O uso prolongado da cocaína faz com que o cérebro se adapte a ela. Se o indivíduo interromper o uso da cocaína, a dopamina existente não será suficiente para manter esses efeitos e ele experimentará sentimentos opostos ao prazer.

Quando se pensa que ocorrem cerca de trilhões de trocas neuroquímicas por minuto pode-se imaginar a dificuldade de abstinência da droga.

As principais manifestações clínicas da síndrome de abstinência da cocaína são: cansaço, aumento do apetite, irritabilidade, ansiedade, depressão, perda da capacidade de sentir prazer, distúrbios do sono para mais ou para menos, retardamento psicomotor e, às vezes, ideação suicida e ‘fissura; pela droga, manifestações que desaparecem em algumas semanas.

Os sintomas físicos ocasionados pela abstinência de cocaína são menos intensos do que os devidos à abstinência do álcool e da heroína, mas mesmo assim são bastante significativos. As reações psicológicas, por outro lado, podem ser mais devastadoras do que aquelas associadas a outras drogas e são importantes como causa de recaídas.”
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E então, fizeram o exercício de reler substituindo as palavras? Não é chocante perceber que na convivência com esses indivíduos as pessoas passam a se comportar como drogados? E você, se sente como um adicto?

O que podemos concluir com isso é que:
1. É preciso encarar sua decisão de “se limpar” dessa relação como algo sério como o abandono de um vício. Deverá ter muita força, decisão e precisará de ajuda;

Leia Mais: Como as pessoas inteligentes lidam com as pessoas tóxicas

2. É importante repetir-se que aquilo que está sentindo não é falta da pessoa ou amor e sim sintomas físicos e psíquicos de algo ruim que lhe viciou;

3. Somente com a interrupção COMPLETA e ABRUPTA dessa relação/vício, o apoio adequado da família, amigos, terapeutas e muita leitura para autoconhecimento é possível se libertar de uma das drogas mais devastadoras existentes: gente tóxica.

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Abaixo alguns sintomas relatados por quem tenta manter-se distante de um perverso, mas que também estão presentes naqueles em Síndrome de Abstinência de substâncias químicas:

– Fissura de procurar o abusador;

Negação/questionamento sobre a própria percepção da realidade: será que meu abusador é um perverso mesmo ou eu estou exagerando? Será que é realmente um transtornado mental ou eu que fiz algo errado que o deixou assim? Se eu der mais uma chance e tentar com mais esforços, talvez eu consiga ser feliz como no início;

– Dores inexplicáveis;

– Doenças reais ou psicossomáticas;

– Cansaço injustificado;

– Mudança para novos vícios (comida, entorpecentes, bebida, compras, etc.);

– Mudanças nos padrões de sono e alimentação;

– Desejo de não sair da cama durante o dia e noites em claro;

– Dúvidas generalizadas / alta insegurança;

Pânico/medo de tudo;

– Pensamentos suicidas ou homicidas;

– Sentimento de ser incompreendido ou injustiçado;

– Desejo de isolamento;

– Pensamentos obsessivos;

– Tristeza, depressão ou desespero;

– Sonhos/pesadelos envolvendo o abusador;

– Altos e baixos emocionais;

– Preocupação / fantasia;

– Negligência com o trabalho, casa, família;

– Negligência com a própria imagem/higiene;

– Confusão ou dificuldade de concentração;

– Incapacidade de dizer “não” ou resistir à aproximação da pessoa tóxica;

E aí, quantos desses sintomas você já sentiu ou sente nesse momento? Pense nisso!

Fonte: Relações Tóxicas – Que Amor é Esse?)

 

Lucy Rocha

Coach de relacionamento, administra a página Relações Tóxicas, na qual dá dicas e apoio a pessoas que vivem, viveram ou sobreviveram a uma relação abusiva. Como advogada, atua principalmente em questões de família. Seu maior prazer é escrever reflexões sobre a vida e sobre o ser humano. è colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Lucy Rocha
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