Nós mulheres enfrentamos algumas fases difíceis na vida, nos casamos em nossa grande maioria, temos nossos filhos, penso que a menopausa seja a mais crítica, em que podemos sofrer alterações nítidas físicas e comportamentais.
Por exemplo, além de trabalharmos fora, nos dedicamos à família e à educação dos filhos, e neste momento de nossas vidas, podemos ter que lidar com os filhos crescidos, saindo de casa, e/ou a síndrome do ninho vazio. Não bastasse, a relação conjugal pode estar merecendo cuidados que exijam muitos diálogos. Toda esta demanda exigirá recursos internos e dependendo da personalidade, poderá ser elaborado de forma construtiva ou não as situações que estão se modificando em suas vidas.
Mulheres assim como eu, que já passaram ou que passam por essa experiência e as pessoas que convivem conosco, sabem que a depressão e a labilidade emocional podem andar conosco. Mesmo aquelas que aparentemente sofrem pequenas alterações comportamentais, ainda assim, se queixam da alteração repentina no humor e inexplicável vontade de chorar que as inunda vez ou outra.
Existem diversas fases desse período denominado genericamente de menopausa. Inicia com o climatério por volta dos 41 anos de idade, até mais ou menos os 65 anos marcados por alterações físicas e psicológicas. Dentro deste grande período de tempo, ocorre a menopausa, isto é, a contagem deste tempo dá-se da ocorrência da última menstruação e só pode ser determinada retrospectivamente depois que a mulher passar ao menos um ano em amenorreia (sem menstruar).
Dito isto, podemos avançar. É importante dizer também, que esta fase perigosa exige atenção; porque, há casos de transtornos psiquiátricos sérios que podem se manifestar em algumas mulheres. Muito embora exista muita desinformação a respeito do assunto, e muitas destas informações não passam de fantasias criadas pelo ideário popular. Tomando os devidos cuidados, a mulher menopausada pode usufruir de excelente qualidade de vida.
Importante esclarecer que quando falamos em menopausa, precisamos deixar bem claro que muitas variáveis influenciam o desenrolar desta fase. Não é apenas uma questão hormonal. Os fatores psicossociais influenciam preponderantemente, e podem ser os responsáveis inclusive pelo desencadeamento dos transtornos psíquicos.
CARACTERÍSTICAS DO CLIMATÉRIO
Há que subdividir a fase da menopausa, para entendermos as alterações psicológicas encontradas nas mulheres nesses períodos. Inicialmente temos a perimenopausa, há alterações hormonais importantes, especialmente nos níveis de estrogênio e progesterona. O risco ou vulnerabilidade feminina além dos sintomas físicos são os psíquicos a que está sujeita. Entre os físicos especial atenção aos fogachos (ondas de calor intenso) e, entre os psíquicos: tristeza, desânimo, irritabilidade e labilidade emocional, ou seja, intensa flutuação do humor. E ainda insônia e alterações da memória.
As queixas na perimenopausa, se referem a dispareunia, ou seja, dor na relação sexual, e a redução da libido. A dispareunia é resultado do epitélio mais fino e menos lubrificado por falta de estrogênio. A vagina seca aumenta o desconforto na relação sexual. A falta de desejo, gera aumento significativo na ansiedade. É a comparação de si mesma com o que sentia no passado.
ASPECTOS PSICOLÓGICOS
As alterações psicológicas estão diretamente ligadas ao histórico de vida de cada mulher e a forma de processa-los, vivenciá-los em suas dificuldades, estão por assim dizer, estão relacionados entre si. Por isso, em saúde mental, na hora de avaliar as mudanças que este período traz, não há que se admitir um corte transversal na vida da mulher. Levantar um histórico avaliativo, equivale a traçar um paralelo entre o que era e o que mudou em si mesma, e nas relações e interações com as pessoas de seu convívio familiar e social.
Por exemplo, há mulheres que eram entusiasmadas, engajadas e mudam drasticamente de comportamentos e atitudes, de extrovertida antes, passa à irritadiça, impaciente e desanimada. Tudo lhe aborrece. Conheci uma senhora que respondia a todas as solicitações de consulta que o usuário precisa ” – Não me deixa ser feliz”. Era visível que não elaborava de forma construtiva suas frustrações. Os lapsos de memória também são comuns nestas fases.
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Recomendo que ande com uma agenda, anote tudo que for importante e necessário. Datas dos aniversários etc…. Algumas pacientes pensam estar em um quadro demencial diante de tantas alterações de memória.
Outro fator de mudança hormonal é no que se refere a produção insuficiente de hormônios no padrão de sono, ora demorando para adormecer, ora despertando na madrugada, prejudicando a qualidade de sua vida, pode melhorar com a terapia de reposição hormonal (TRH). Que pressupõe cuidados com a saúde física e mental da mulher. Essas questões não podem estar dissociadas. Muitas vezes, os sintomas psíquicos melhoram em decorrência da melhora dos sintomas físicos.
O hormônio estrogênio , tem ação direta sobre o sistema nervoso central, afetando o humor e a memória, uma vez iniciada a reposição hormonal e se for precocemente, o surgimento dos sintomas diminui significativamente quando da menopausa. No entanto, existem vários tipos de reposição hormonal, variam as dosagens e vias de administração. Mulheres na perimenopausa ou na pós-menopausa? Com poucos sintomas ou com transtornos psiquiátricos? Que tipo de hormônio foi utilizado? Que tipo de progesterona? Discuta o assunto com seu ginecologista, ele saberá sanar suas dúvidas.
Na pós-menopausa, se a mulher não fez reposição hormonal profilática, com o fim específico de melhorar o humor e a memória, estudos questionam os benefícios da ação estrogênica em termos de sistema nervoso central.
Razão da importância em avaliar os níveis sintomatológicos e as alterações comportamentais e o período de vida em que se encontra a paciente visando à melhora da qualidade de vida. Infelizmente, há vários períodos críticos na vida das mulheres, ou que estamos mais vulneráveis a alterações psicológicas em razão das oscilações hormonais. Sejam eles depressivos ou ansiosos, pós-parto, pré-menstrual, perimenopausa e pode estender-se até um ano após a menopausa.
Verificou-se que mulheres com antecedentes de depressão pós-parto e de TPM (tensão pré-menstrual) são mais suscetíveis à manifestação de problemas psicológicos na perimenopausa. Elas são mais sintomáticas nessa fase.
Outro achado científico, realizado em Harvard, tanto sintomas psíquicos podem levar às alterações hormonais, e/ou alterações hormonais importantes podem provocar distúrbios psíquicos.
MULHERES COM QUARENTA ANOS
Nesta fase a mudança de hábitos de vida é essencial, envolve dizer mudanças comportamentais. É preciso fazer escolhas por atividades que lhe deem prazer, resgatem sua autoestima e a estimulem mentalmente. Aceitar novos desafios, também é importante, como cursinho de informática, ou frequentar uma faculdade, conviver com os amigos, participar de algum clube social, enfim estreitar vínculos, inclusive com as pessoas da família.
Atividade física é fundamental. Além de prevenir a osteoporose, melhora o humor e a memória. Ajudar na função metabólica também, porque nesse período há alterações do metabolismo, ajuda necessária para mulheres menopausadas controlar o peso.
Por isso, deve-se trabalhar tanto os aspectos psicológicos quanto os físicos, que afetam os psicológicos. Dietas, mudanças de comportamento, conscientização da família, é necessária uma intervenção bem abrangente, capaz de focalizar todo o contexto de vida da mulher. Caberá ao médico, seja ele ginecologista, psiquiatra, clínico geral, com visão multidisciplinar da gênese dos transtornos de humor e memória no período da menopausa.