Como seria mais fácil se a gente nascesse com um manual prático da vida pendurado no pulso, explicando o passo a passo da felicidade. Um manual em que a gente pudesse consultar no índice:
Parando de cometer os mesmos erros – Pág.28
Como superar o fim do relacionamento – Pág. 58.
Seria de grande ajuda diante de milhares de contradições de uma existência que o tempo todo se trai. Me perco, não entendo, sinto falto de um manual para seguir adiante.
Às vezes, escolho um caminho para avançar e aparecem milhares de obstáculos. Então, penso que faz parte da batalha da vida e sigo em frente. E logo percebo que eram apenas avisos para voltar enquanto era tempo, mas eu insisti e me dei mal. Entretanto, em outras ocasiões, abro mão e logo adiante me dou conta de que foi um erro e me arrependo de ter desistido. Sento e imploro por um manual da vida, por favor.
Às vezes, tenho sonhos gigantescos, de ir muito além, de mudar o mundo. Então, pergunto-me se eles existem para me moverem até o outro lado da vida como um incentivo do universo para que eu nunca desista da felicidade, ou se são apenas uma piada tola de humor negro que conto a mim mesmo para dar mais graça à vida. Sento e imploro por um manual da vida, por favor.
Às vezes, o destino me liga a pessoas difíceis, que apesar do vínculo forte, tornam-se um grande pesar em minha vida. Então, pergunto-me se devo aprender a conviver com elas como parte da missão nessa existência ou se o aprendizado se refere a superá-las e desapegar, deixando ir quem não me faz bem. Também não sei. Sento e imploro por um manual da vida, por favor.
Diante da derrota, da rejeição, das rasteiras que a gente leva pelo caminho, queria o manual para saber como sacudir a poeira, dar a volta por cima, virar a mesa, e encontrar a paz passo a passo. Um manual que me direcione para o que é certo, para aquilo que traz as melhores consequências na vida.
O amor também poderia vir bem explicadinho, porque quanto mais eu trato bem, mais as pessoas me desrespeitam, quanto mais desprezo mais elas querem me amar. Talvez, nem lendo o manual seria possível entender tamanha contradição, quem sabe um capítulo que explicasse os passos para deixar de amar essas pessoas que, certamente, estão seguindo o manual errado.
As pessoas detestam ouvir mentiras, mas mentem o tempo todo e, quando falamos a verdade, elas nos detestam. Podem ser malandras com os outros, ludibriar, manipular, mas nós devemos ser eternamente corretos com elas. Impossível entender, sem manual, uma pessoa que faz mal àqueles que ama, tem amizades com quem não gosta. Diz uma coisa, mas faz outra. Prega o bom caratismo, mas não presta. Fala que ama, mas não decepciona o tempo todo.
O manual também seria fundamental a nos ensinar como parar de fazer mal a nós mesmos e escolher errado. Evitaria que a gente abrisse mão daquilo que é mais importante e perdesse o medo de grudar no que nos faz bem. Imagina um manual antes de tomar decisões. Vê o assunto pelo índice e abre direto na página com a resposta para o nosso dilema. E que esse livreto nos mostrasse onde é o botão corrigir erros ou reiniciar, antes que a gente pegasse a vida e a estilhasse contra a parede.
Implorei: Deus, queria apenas um manual para que a gente conseguisse montar as peças da nossa vida para que ela funcionasse sem dar defeitos. Então, Deus me respondeu:
“Meu filho, sem tudo que você passou, jamais se tornaria quem é.”
Então, eu entendi e agradeci. Afinal, como diz Cervantes: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser quem se é.”