MasterChef é um reality show culinário consagrado em diversos países. Exibido originalmente no Reino Unido, também é produzido e exibido na TV aberta brasileira. Conta com versões em que os participantes são amadores, profissionais ou juniores, disputando semanalmente pelo prêmio de melhor cozinheiro.
O sucesso de seu formato televisivo é fruto da complexidade e originalidade de suas provas, assim como a espontaneidade da apresentadora, dos jurados e também dos próprios participantes, foco deste ensaio.
O MarterChef Brasil é uma conveniente oportunidade para observar o ser humano na relação com si mesmo e com o grupo, uma representação íntima do próprio viver. Um viver penoso quando se desdenha e ignora os próprios sintomas.
É interessante e instigante perceber que em todas as temporadas o pior inimigo de cada um dos participantes é sempre ele próprio. Às vezes, o terror em ser bom destrói qualquer possibilidade de sucesso. Já dizia Freud, “nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons”.
Outras vezes, ideal narcisista castra a possibilidade de aprender e crescer a partir dos próprios erros. Ou ainda, a não possibilidade em acolher de modo construtivo a inveja, o ciúme e o ódio inibe a gratidão e o processo criativo necessário para vencer.
Os participantes são destruídos por seus próprios medos, inseguranças, vaidades, seus próprios fantasmas, pois não conseguem percebê-los conscientemente, pelo contrário, negam em enxergar o próprio calcanhar de Aquiles. O preço a ser pago pela falta de autoconhecimento é a derrota.
Assim como no jogo culinário em questão, na vida somos constantemente revisitados por nossos traumas, medos, angústias, limitações, que causam sofrimento e impedem o crescimento emocional e profissional. São justamente esses fantasmas inconscientes que são convidados na clínica psicanalítica a emergir. O psicanalista ajuda seu paciente a enxergar e enfrentar suas assombrações no divã.
Para que as possibilidades de crescimento e vitória no jogo da vida não sejam suicidadas, como disse Freud, precisamos perceber que “não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais, somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos. Somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos ‘sem querer’”.
Em uma metáfora com o próprio viver, no final de cada temporada do MasterChef não é o melhor que vence, é o que melhor consegue se perceber no jogo e analisar a si mesmo para minimizar o auto-boicote. O vencedor é aquele que consegue exorcizar seus próprios fantasmas.
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