“Ten Meter Tower” é um projeto independente mostrado no Festival Sundance de Cinema de 2017, documentando 67 pessoas que foram captadas através de um anúncio online para subir em uma plataforma e ir até a beira de um trampolim a 10 metros de altura de uma piscina. A decisão de pular ou não pertencia completamente aos participantes e as câmeras e microfones estavam a postos para capturar o que quer que acontecesse a seguir.
Segundo os diretores, aproximadamente 70% das pessoas pularam, muitas pressionadas por amigos, parentes e cônjuges, ou pelo evento em si. A hesitação, a dúvida, o medo e a coragem, todos sentimentos espontâneos, eram o que os criadores queriam captar e transmitir para o vídeo. Alguns pularam imediatamente, outros pularam juntos, houve quem demorasse alguns minutos imóvel, convencendo a si mesmo ou ouvindo encorajamentos alheios, assim como quem quisesse pular mais de uma vez. Alguns desistiram. Ninguém agiu ou pulou da mesma maneira diante do fim da plataforma.
“É mais alto do que parece”, alguém diz em certo ponto do vídeo. Uma senhora de 70 anos fala para si mesma: “não tenho culhões para isso” e quase desiste, mas volta atrás. Se esse trampolim pudesse falar, ele diria que é só uma peça de concreto inofensiva, mas consegue meter medo em muita gente.
Quando você é jovem, mas já está há alguns anos se relacionando com outros seres humanos nativos desse mundo digital que cria outras formas de isolamento e traumas até então inéditas, indo de ghosting aos contatinhos de aplicativos e irresponsabilidade afetiva em geral, se apaixonar pode ser um tanto quanto desafiador.
Busque o termo “crush” em qualquer rede social e você terá sua tela inundada por memes diversos que disfarçam a solidão de uma modalidade de relacionamento muito atual, principalmente entre os, argh, jovens. Por baixo de todas as piadas e humor de self-hating, está o cultivo de um afeto geralmente unilateral, que só existe baseado em falta de reciprocidade, atenção oscilante ou até mesmo a plena ignorância do outro sobre o que você sente.
De fato, se metade dessas pessoas fossem honestas com a outra parte, a relação sairia do meio-termo, para o mal ou para o bem, e o problema seria resolvido. Mas aí perderia toda a graça, certo?
Porque quando o crush corresponde ao seu sentimento, o nosso primeiro impulso, como medrosos que nos tornamos, é sair correndo. Porque aí entram diversos outros fatores na conta, como de fato ter que desenvolver uma responsabilidade emocional por outro ser humano, fornecer atenção frequente, se deixar envolver e correr, é claro, o risco de se machucar gravemente.
Se você pular de mau jeito nessa piscina, os danos podem ser fatais. Já viu como é alto daqui de cima? Por isso é que tantas vezes preferimos a segurança de gostar profundamente de quem nem imagina que é gostado daquela maneira, ou até mesmo que existimos e estamos bem ali. Se a solidão apertar e a temperatura cair, ainda é possível recorrer aos milhares de aplicativos de encontros, mais rápido e impessoal do que pedir uma pizza.
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Para quem não gosta nem de ligar para o delivery, é viável sair com alguém que você nunca viu na vida e não faz ideia se é um assassino de gatinhos em segredo, se apaixonar profundamente, transar, dormir de conchinha e ir embora na manhã seguinte sem ter tido que perguntar o sobrenome do outro. Tudo isso com o mínimo de esforço mental ou afetivo.
É a versão risoto de microondas dos relacionamentos, quase parecida com uma alimentação normal, mas no fundo cheia de sódio e conservantes e com um leve sabor de papelão na sua boca. Boa para matar a fome, mas se você tem mais de vinte e cinco anos e consome com frequência, sabe que essa prática não vai cair bem a longo prazo. (Se funciona pra você, me ignore e continue!)
Em algum lugar entre as gerações X e Y (e logo depois Z), junto com nossos empregos que não nos permitem comprar casas próprias antes dos trinta anos, talvez tenhamos desenvolvido também uma hipersensibilidade protegida por uma casca fina feita de piadas e sarcasmo sobre falta de estrutura emocional que devem enganar qualquer predador à espreita.
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Nossos traumas parecem bichinhos de estimação de apartamento. Somos durões e frios, desapegados. Nos apaixonamos com facilidade, várias vezes, toda hora, sofremos com a mesma desenvoltura, mas não queremos pagar pra ver no que vai dar. O preço é alto demais, e você sabe, somos millennials e alphas falidos, muitos ainda morando com os pais.
Tenho amigos que se orgulham de nunca terem namorado, mas sempre reclamam sobre solidão. Ou pessoas que só namoraram uma vez, foram felizes por um tempo, mas o relacionamento acabou e desde então juraram nunca mais se envolver “nesse tipo de coisa’’, eu mesma incluída. Outro amigo declara não querer namorar, porque além das cobranças e responsabilidades, não gostaria de decepcionar os pais do namorado quando a relação viesse a terminar, pois todas terminam.
Relacionamentos são difíceis. Mas declarar imposto de renda, realizar canais nos dentes e levantar cedo para trabalhar numa manhã fria também não são tarefas fáceis e mesmo assim não nos esquivamos, não porque somos masoquistas, mas porque esses itens fazem parte da vida. Assim como se apaixonar e se relacionar com as pessoas. Se você está nesse mundo, vivendo, saindo por aí, respirando e conhecendo outros seres humanos, a menos que realmente não queira ou até mesmo assim, eventualmente desenvolverá sentimentos platônicos pelos seus parceiros de espécie. E tudo bem com isso.
Em “Ten Meter Tower”, um amigo pula da plataforma e torna a subir, molhado, para convencer o outro a pular também. Diz ele até desejar pular novamente e se oferece para segurar a mão do colega para saltarem juntos, ao que o interlocutor responde: pule de novo sozinho ou desça. A experiência não pode ser compartilhada. Cada um tem sua própria piscina e o próprio momento de joelhos fracos diante da beira do trampolim.
Guias, conselhos e autoridade para aconselhar os outros são ferramentas inúteis. Não existe uma alavanca capaz de remover o medo do outro contando o que aconteceu com você, porque para o seu amigo o final da história pode ser diferente, mesmo diante do mesmo desafio.
Eu mesma também estou tremendo diante da água azul enquanto a encaro lá de cima. Mas há algo que posso dizer para mim e para quem quer que esteja enfrentando situação parecida. Ficar sozinho é algo que você pode e deve fazer, sem problemas. Relacionar-se não é uma medida de validação para a vida ou algo para passar o tempo quando se sente sozinho no domingo à noite. Ter projetos, focar na carreira ou só gostar da própria companhia é essencial.
Mas se você quer estar com outra pessoa e não está o fazendo ainda, não deveria deixar o medo lhe impedir ou paralisar. Tome seu tempo. Analise as possibilidades, a altura, sua frequência cardíaca e a profundidade da piscina lá embaixo, se ela comportará com elegância seu salto. Mas não fique aí pra sempre. É só um maldito trampolim.
(Autora: Gabi Machado)
(Fonte: trendr)
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Olha, gosto muito das materias desse site mas voces escrevem seus textos de uma maneira muito cansativa e pouco atrativa visualmente. deem uma atençao maior na ediçao e voces vao atingir mais pessoas.