A necessidade psicológica de que a mãe entenda a criança como indivíduo e não como apêndice seu, encontra entre seus maiores inimigos a percepção de que a vida da criança é muito mais importante que a da mãe. Uma mitologia que insiste em permanecer diz que a mulher deve estar disposta a abdicar da própria sobrevivência em função de, a todo custo, salvar o filho. Essa seria a prova de amor definitiva entre uma mãe, uma boa mãe, e seu bebê. Poucas coisas são mais adoecedoras que esse mito.
É uma reclamação constante nos consultórios, vindo de mulheres, mães, o quanto foi difícil lidar com o período de gravidez e a constante sensação de que, uma vez grávidas, passaram a não serem mais entendidas como indivíduos, mas como uma espécie de invólucro que carrega a criança. Suas vontades, decisões ou intenções deveriam, quase todas, proporcionar a proteção e o cuidado do futuro ser nascente… independente de suas vontades reais.
Quando nascida a criança, permanece a exigência… todos têm propostas de como cuidar melhor do recém-nascido e as tentativas da mãe nunca são suficientes (isso é pior no caso das mães de primeira viagem). O valor da mulher é diretamente associado ao seu trabalho materno e a tarefa parece nunca satisfazer o crivo da família e agregados.
Como poderemos proporcionar à relação mãe-bebê o equilíbrio necessário entre cuidado e permissão para criação da individualidade da criança se roubamos a individualidade da mãe? Na melhor das hipóteses, com essa concepção do que é a maternidade, criamos na mulher um espírito de super proteção, na pior, criamos o sentimento de que aquela criatura é um parasita que suga sua identidade. Num contexto desses é um milagre que os consultórios de psiquiatria e psicologia não estejam mais lotados.
Na verdade… o motivo de não estarem mais cheios é econômico, mas esse é assunto para outro texto.