“Olá, gente!
Eu vim aqui pra dizer que sou um eterno amante da liberdade! Não há nada que eu almeje mais do que isso.
Estamos numa época em que vários grupos estão reivindicando direitos, então entendo que, certamente, todos nós, os que queremos liberdade, estamos descobrindo que podemos sempre fazer o que bem entendermos!
Todos podem fazer o que querem. Afinal, o que seria liberdade se não isso? Era assim minha maneira de ver a vida…
Entretanto, hoje percebo que as coisas não são bem assim.
Tanto acreditei que liberdade era fazer o que se quer, que assim vivi. Sou casado há alguns anos, pai de um filho. Amo muito minha família, mas sempre tive vontade de trair minha mulher. Uma questão de “tesão” mesmo.
Via tantas mulheres atraentes por aí, e eu, me sentindo ainda jovem e bonito, quis muito vivenciar algum romance casual, viver outras experiências sexuais. Não poderia nem pensar em falar de algo assim com minha mulher, ela não aceitaria jamais.
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Bom, aí comecei a refletir sobre liberdade, sobre como fui criado com uma educação bastante rígida, e agora me sentia capaz de realizar algo assim. Não vacilei e fui. Afinal, se tenho vontade sou capaz, sou livre. Se sou capaz, posso realizar. Afinal, a vida é uma só. Depois vou me arrepender de não ter vivido aventuras interessantes… pensava eu.
Passei uns meses traindo minha mulher com diferentes amantes, sempre muito discretamente. Porém, com o passar do tempo elementos novos, com os quais não contava, surgiram em minha existência.
Passei a sentir menos desejo sexual por minha mulher, e me sentia mais inquieto em casa e ao tratar as questões familiares diversas que surgiam. Ela percebeu as mudanças em meus comportamentos, claro.
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Agora eu, que antes me sentia livre, me sentia preso, angustiado. O que fazer? Assumir tudo? Fingir que estava tudo bem e acabar de vez com a confiança que ela tinha em mim? Afinal, ela não acreditaria nisso. Fugir?
Poderia me separar de vez dela. Mas não, isso não era uma opção. Eu a amava, daria a vida por ela. Só não consegui ser fiel a ela. Tudo isso em nome de uma tal liberdade que acabou não me fazendo nada bem…
Por fim, tomei coragem e confessei tudo para ela. Pedindo perdão, chorando sinceramente. E, por incrível que pareça, ela me perdoou. Não merecia isso. Mas ela realmente me perdoou, as coisas melhoraram muito em nossa família.
Claro, minha admiração por ela cresceu absurdamente. Acho que aprendi a lição…
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Em minhas tarefas de família, em uma certa “monotonia monogâmica”, descobri uma outra liberdade. A liberdade de quem vive o que precisa viver, a liberdade de quem é fiel à própria consciência.
Amigos, esse breve depoimento, veio para, de alguma forma, ajudá-los na hora de perceber e construir suas vidas. Longe de me achar exemplo para ninguém, mas creio que experiências pessoais sempre podem tocar aos que tem sede de aprendizado.
Achava que liberdade era fazer o que queria, simplesmente. É isso sim, mas muito mais. Viver livremente é fazer o que quer, mas assumir integralmente as consequências que advierem das suas escolhas. Sem fugir.
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Nossas atitudes sempre terão consequências, efeitos, responsabilidades. Se sou capaz de assumir todos os danos causados em minha família (mulher magoada, filho confuso, dedicação à família comprometida, receios constantes de ser descoberto…), estaria agindo livremente.
Mas, não. Minhas atitudes não afetam só a mim. Não pude me imaginar como responsável por infelicidades das pessoas que mais amo nessa vida. Tomem atitudes, escolham, construam suas vidas, mas saibam que sua atitude jamais será SOMENTE sua. Ela afeta a outros. Invariavelmente. Quem entende isso, pode sim entender melhor o que é liberdade. Que sejamos livres, hoje e sempre. Por nós, e pelos outros.”
Rotiv Silva