Quando jovens e morando com os pais, sonhamos com a independência. Idealizamos o dia (fantástico) em que, com dinheiro no bolso, viveremos a nossa própria vida sem dar satisfação para ninguém. Aquele momento feliz em que estaremos finalmente livres de tudo que nos prende e limita! E assim seguimos: em longos e lindos devaneios, até que chegamos à fase adulta.
Então começa um período de luta, de conquistas… Trabalhamos, ralamos, muita gente casa, filhos nascem. A vida passa a acontecer a pleno vapor e seguimos com passos certeiros em busca da independência. Ah, a independência… Aquela sensação de ser o dono do próprio nariz! Liberdade! Breves pensamentos nos invadem enquanto as coisas seguem acontecendo em um ritmo frenético.
De repente, nos damos conta de que já faz tempo que estamos pagando as próprias contas e que temos uma vida complexa para administrar, porém, aquela tão almejada sensação de emancipação ainda não veio. Apesar das inúmeras conquistas continuamos nos sentindo… amarrados, dependentes! Já pararam para pensar no por quê?
Depois de muito quebrar a cabeça compreendi que a independência vai além de ganhar o próprio dinheiro. Na verdade, ser independente é uma utopia, pois sempre se depende de alguém para alguma coisa. Nem que seja do padeiro da esquina, pois se ele não for ao trabalho não teremos o pãozinho do café da manhã! Pessoal, a vida não é segmentada,
embora nós, seres humanos, teimemos em dizer que é. Exercitando aquela velha mania de tentar comandar o que não tem comando, dividimos a nossa existência em sub-vidas: profissional, pessoal, social, amorosa… E necessitamos loucamente ter êxito em todas elas para alcançarmos a tal felicidade proporcionada pela independência. Tudo ilusão! O que existe é uma coisa só: VIDA.
Portanto, a ideia de independência plena e irrestrita que costumamos idealizar na juventude é ilusória. Querem exemplos? Vamos lá: muitos pagam plenamente suas contas porém estão ligados emocionalmente a outra pessoa de forma abusiva e descontrolada: um cônjuge, um familiar, um filho… Tal vínculo é tamanho que a pessoa não consegue seguir seu caminho de forma autônoma, precisando desesperadamente estar, falar, olhar para o outro a cada instante.
Precisa da aprovação, do conselho, do toque, da presença constante e incessante! O outro é sua bengala. Ora, essa pessoa é dependente. Muito dependente. Doentiamente dependente! Outro exemplo: uma pessoa que não consegue ficar em casa sozinha. O famoso medo da solidão! O indivíduo não se basta e precisa estar no meio do tumulto o tempo todo. Precisa de gente, precisa estar entre amigos, precisa estar com a casa cheia. Sempre! Se fica só o pavor se instala. Não importa quem esteja por perto, bastando que não esteja sozinho.
Ora, pessoal, por mais que essa pessoa tenha recursos financeiros e pague suas contas, não se pode dizer que é independente. Então, vejam bem: todos nós dependemos de alguém ou de algo. Discorda? Então responda: Você saberia viver sem seu celular? Você deve saber que com um celular na mão você pode estar tudo, menos sozinho! Então imagine-se em uma ilha deserta sem comunicação com ninguém e com todo o dinheiro do mundo. Apenas você, seu dinheiro e a natureza. Poderíamos considerá-lo independente? Sim, com certeza. Agora responda: você seria feliz? Dificilmente. Então, minha gente, pode-se dizer que, ao contrário do que imaginamos na adolescência, a felicidade encontra-se na dependência.
Não naquela doentia, como a dos exemplos. Mas na dependência sadia, no equilíbrio das forças. Somos seres sociais e não vivemos só. De nada serve o dinheiro se são tivermos com quem partilhar. É preciso gostar de estar só, sem dúvidas! Mas é preciso também gostar de estar entre as pessoas que amamos. Uma boa dose de equilíbrio em tudo que se faz e se vive talvez seja o segredo da felicidade. Permita-se estar só e estar junto, ganhar dinheiro e dividi-lo, partir e deixar partir.
Divida, sim, momentos com quem você ama, mas aprecie, também, ir ao cinema sozinho. Pague um chopp para seu vizinho, mas deixe que, em outra ocasião, ele lhe retribua. Flexibilize sua mente e esqueça velhos conceitos! Lembre-se de que a vida não é fatiada, mas sim um todo. Um todo que só se vive uma vez!
Imagem: Crystal Shaw
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