O corpo humano reage constantemente àquilo que se encontra à sua volta, os estímulos externos invadem sem cerimônia a nossa mente que capta e armazena tudo e, necessariamente, nem tudo teria uma qualidade que justificasse esse registro, mas é desse modo que o cérebro processa as imagens que capta.
Desse modo, mesmo contemplando belas imagens durante todo o dia, isso não impede que a nossa mente tenha fixado uma determinada cena desagradável que convive conosco durante muito tempo, causando suas impressões e desgastes, através de sonhos que contaminam a qualidade do sono e também em determinados comportamentos que passamos a adotar por reflexo e por imitação, principalmente em relação às imagens captadas e armazenadas nas mentes infantis.
Portanto, se com as crianças isso não é diferente, podemos nesse caso interferir de uma maneira mais favorável, desde que exista consciência e empenho para isso; atuando ao acesso de determinadas contaminações a que a criança se submete.
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Por exemplo, na manipulação de imagens e figuras que chegam até o seu alcance, sobretudo na forma de brinquedos, que convivem com a criança durante muito tempo, preenchendo sua vida anímica, impregnando e interferindo em sua observação do mundo de maneira direta e nem sempre inócua, ou seja, isso deveria ser impedido pelos adultos/condutores dessa possibilidade.
Afinal, qual seria o prejuízo que algumas imagens causam comparadas a outras que deveriam ser estimuladas?
Não se trata puramente de um conceito estético, mas da representação plástica em si, vamos imaginar uma criança que manipula e brinca com toda sorte de monstros e figuras caricatas, com expressões estáticas que demonstram sua personalidade, por exemplo, um super-herói ou uma boneca que emite algum som quando um determinado botão é acionado.
Pois bem, esses brinquedos sempre responderam da mesma forma, a expressão do boneco será sempre a mesma, assim como a boneca repetirá sempre a mesma frase, ou seja, não existe a possibilidade de criatividade porque já está prontamente fechada qualquer possibilidade para isso.
Portanto, esse é o problema quando a criança fica exposta a imagens desse tipo, além disso, esses personagens já vêm com um enredo embutido, que a criança assimila e imita muito bem, então o Homem Aranha que a criança brinca já traz na bagagem suas ações, seus poderes e sua programação pronta para ser copiada e sem intervenções.
Brinquedos que permitam ou estimulem algum processo criativo por sua vez proporcionam que a criança tenha capacidade de exercer a sua fantasia e isso é algo que fica praticamente engessado nas imagens estereotipadas das bonecas de plástico sorridentes e nos bonecos e carros que emitem sons e disparam armas.
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A fantasia deve ser estimulada na vida da criança, jogos eletrônicos podem exercitar a habilidade manual, mas na simples questão de tentativa e erro que a maioria deles propõe, não promovem uma alternativa, outra opção, em outras palavras, a criatividade pela qual o ser humano responde a novos desafios que surjam, deixa de ser estimulada e isso empobrece e limita muito o aprendizado e a própria observação de mundo dessa criança.
Uma dica interessante pode ser quando pensamos que o nosso tempo passou, pois muito dessa oferta tecnológica que os pais oferecem aos seus filhos é revestido da melhor intencionalidade possível, mas talvez inadequada ou, no mínimo, inoportuna, pois a criança poderia se satisfazer com muitíssimo menos estímulos.
Aqui cabe uma pergunta: – esses brinquedos contemplam a qual criança? E a resposta sincera seria que os pais tentam compensar a si mesmos e que agora, não tendo mais essa chance, experimentam essa oportunidade através de seus filhos.
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Embora a finalidade seja válida, seria realmente apropriada? Talvez não, porque a criança necessita de muito menos estímulos, e a expectativa é completamente outra, diferente de seus pais, pois tem menos recursos que os adultos e, na verdade, necessitam de coisas e estímulos muito básicos, nesse caso, o excesso traz mais malefícios que vantagens.
(Autor: José Carlos Neves Machado é Médico Escolar e Pediatra antroposófico)
(Fonte: mundowaldorf.com.br )
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