Muita gente vê esse entusiasmo todo quando um filme de Harry Potter é lançado e não entende como uma história infantil, com magias e bruxos, pode provocar tanto sucesso.
Toda a saga de Harry Potter, concluída nos livros e filmes, fez surgir uma massa de seguidores, encontros, discussões, festas, jogos no mundo todo. Até um parque temático foi construído para trazer um pouco do encanto e da magia do pequeno bruxo para o mundo real.
Mas, essa ligação da ficção com o real já começa no momento que nos dispomos a ler a história ou ver os filmes mais profundamente. Qualquer grande sucesso seja, através de livros, novelas, filmes ou músicas só acontece porque algo na história envolve o espectador, o captura e fala sobre sua vida, seus desafios e superações vividos.
Claro que existem outras influências para o sucesso, toda a atmosfera de Harry Potter encanta, com os bruxos, vassouras voadoras, feitiços, batalhas… Há também todo o aspecto comercial, de marketing, com uma divulgação no mundo todo. Porém, se a história não fosse tocante não provocaria o sucesso de forma tão arrebatadora.
E o que há em Harry Potter que toca os espectadores?
Do ponto de vista psicológico é possível perceber, nas passagens da história, claras metáforas em relação a vida real. Na narrativa composta por sete livros selecionei três conteúdos para uma rápida análise.
O abandono
O sentimento de abandono acompanha Harry Potter por toda a saga. Ele é órfão e não sabe que é bruxo. Vive com os tios e o primo que o tratam mal. É um garoto tímido, solitário e estranho. Sabe que os pais morreram, mas acha que foi em um acidente de carro quando ele era bebê e sofre por não ter sua própria família.
A história de um bebê órfão mexe com o imaginário das pessoas, todos alguma vez na vida já experimentaram a sensação de abandono, de esperar por um gesto de carinho e não receber, de se sentir sozinho para enfrentar um mundo tão fortemente cruel. Esse é um ponto inicial que sensibiliza o leitor e o aproxima do protagonista.
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Aos 11 anos Harry descobre que é bruxo e conhece seu verdadeiro passado, ou seja, que seus pais foram assassinados pelo terrível bruxo, Voldemort, que também queria matá-lo. Mas, Harry não morre e o feitiço lançado pelo inimigo se volta contra ele mesmo fazendo-o desaparecer. Isso faz com que ele se torne popular e seja conhecido no mundo dos bruxos por ser o menino que sobreviveu.
Essa é uma passagem fundamental no conto, Harry tem a oportunidade de deixar de ser o menino estranho e abandonado para começar uma nova fase, iniciando a sua verdadeira história, a qual ele realmente pertence.
O processo de tornar-se uma nova pessoa é repleto de desafios e escolhas, é necessário coragem, fé, ajuda, amor e outros tantos recursos para conseguir completar essa jornada com sucesso e é sobre isso que os livros da saga retratam.
Objetos estranhos
O mundo bruxo tem objetos muito interessantes que ajudam o desenrolar da jornada. Um desses objetos é o espelho que Harry Potter encontra e que tem o poder de revelar o mais verdadeiro desejo do coração. Ele então se vê refletido feliz ao lado dos pais que não conheceu e fica durante horas até que Dumbledore, o bruxo diretor da escola de Hogwarts, chega e o ajuda a deixar de lado a ilusão para seguir em frente. Isso nos conecta a situações reais quando ficamos presos ao passado e temos dificuldades de seguir adiante, muitas vezes não conseguimos sozinhos e precisamos da ajuda de alguém.
Outro objeto muito intrigante é a penseira, uma bacia onde é possível embarcar na memória de outra pessoa. Harry se utiliza desse objeto várias vezes para conhecer o passado e montar as peças que faltam, entendendo melhor a sua própria trama.
Geralmente é bom ouvir de outras pessoas a nossa própria história, novas interpretações sobre o passado surgem ampliando a percepção sobre nós mesmos gerando maior flexibilidade e bem estar.
Inimigo
Harry Potter representa o bem e Voldemort o mal. Porém, Harry tem uma estranha conexão com seu inimigo, por exemplo, em momentos de tensão ele consegue entrar na mente de Voldemort e ver o que está acontecendo. Ele não provoca essa situação, simplesmente se sente atraído e precisa se fechar mentalmente para não deixar que isso aconteça. Contudo, toda vez que não resiste e cede, abre mais o canal entre eles e experimenta as mesmas sensações do oponente, como raiva, ambição, vingança e outras tantas, o que o enfraquece e o deixa debilitado.
Fazendo uma relação psicológica Voldemort é o lado sombrio de Harry Potter. Todos nós temos uma parte a qual não queremos acessar, uma instância ameaçadora que contém aspectos vergonhosos e preferimos esconder de nós mesmos. A psicologia Junguiana chama isso de “sombra” e quanto mais a escondemos mais forte ela fica, exercendo uma poderosa atração sobre nós mesmo que é revelada, por exemplo, quando nos interessamos pela violência nos jornais e revistas. Porém, entrar em contato com a parte sombria, sem ter desenvolvido os recursos psicológicos necessários para isso, é perigoso e pode nos debilitar, por isso é preciso cautela e apoio para embarcar nesse encontro revelador.
(Autora: Marcela Pimenta Pavan)
(Fonte: acaminhodamudanca)
*Texto reproduzido com autorização da administração do site parceiro.
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