O lendário compositor e guitarrista da banda britânica de rock Queen, Brian May, hoje com 71 anos, concedeu uma entrevista recentemente comentando seu desejo de ser lembrado não somente pelo seu grande trabalho à frente do Queen, ao lado de Freddie Mercury, mas pelo seu filantropismo e ativismo em defesa e dignidade dos animais, sejam silvestres ou domesticados.
May, um autêntico polímata (além de compositor e guitarrista, é formado em Astrofísica), transformou sua distante e silenciosa fazenda em Surrey – condado britânico no interior da Inglaterra, – em um incrível refúgio para a vida selvagem.
“Quando eu terminar, as pessoas não terão dúvida em lembrar de mim pelo Queen, mas eu gostaria de ser lembrado por ter lutado por mudanças na forma que tratamos outros animais”, disse o guitarrista ao jornal inglês The Sunday Times.
“Acredito que eu tenha vivido uma vida muito louca e assistindo programas que falam sobre a vida selvagem me trazem de volta e me deixam com uma sensação de tranquilidade”.
O pequeno paraíso da vida selvagem de Brian May já é habitado atualmente por quase quarenta porco-espinhos, sete filhotes de texugo, um par de corujas, cachorros e dezenas de outros animais.
Leia abaixo o artigo na íntegra escrita pelo guitarrista e publicado no The Sunday Times:
Alguém me perguntou recentemente como eu gostaria de ser lembrado. We Will Rock You? Tocando no Palácio de Buckingham? Eu disse, dada a escolha, que prefiro ser lembrado por acelerar o fim da crueldade contra os animais e por ter semeado as sementes de verdadeiro respeito em relação a maneira como tratamos todas as criaturas. Parece uma mudança radical de carreira para mim, não é?
Meu amor pela música é inabalável, juntamente com meu amor pela astrofísica, estereoscopia e Photoshop, mas o meu amor pelos animais me levou a deixar a minha guitarra em segundo plano para tentar dar voz aos animais. Então, diariamente, me torno impopular com várias pessoas, que ainda acreditam que os animais foram colocados na Terra para serem usados e abusados pelos seres humanos. Humano é o nome que damos a nós mesmos, e há um adjetivo derivado disso, implicando compaixão, sensibilidade e justiça: a palavra “humano”.
Ao longo da história, o homem tentou justificar o seu comportamento em relação a outros humanos e outros animais. Na Era do Iluminismo, ele justificou que mulheres eram queimadas por estarem possuídas pelo diabo. Ao escrever a Constituição dos Estados Unidos, ele justificou que os escravos deveriam ser mantidos porque “eles não eram iguais a nós”, e que a sociedade entraria em colapso sem a escravidão. Os homens justificaram tantos comportamentos terríveis: tortura de prisioneiros políticos, degradação das mulheres, abuso de crianças, vitimização das minorias e a quase erradicação dos povos nativos.
Esses abusos horríveis são vistos hoje de forma vergonhosa. Como poderíamos pensar que por um ser humano ter uma aparência diferente, ele não tem sentimentos, direito à liberdade, comida, respeito e igualdade de oportunidades? Outra revolução está acontecendo agora. Começamos a perceber que outras criaturas neste planeta têm tanto direito de viver, respirar e aproveitar o seu tempo quanto nós. Mas estamos no primitivo início dessa realização. Enquanto escrevo, milhões de animais estão sofrendo nas mãos dos seres humanos. A indústria animal (leia “Comer Animais”, de Jonathan Safran Foer) envolve o abuso de milhões de criaturas todos os dias, com sentimentos semelhantes aos nossos.
Ian Redmond, zoologista renomado mundialmente, diz que há uma geração atrás, qualquer biólogo que atribuísse “sentimentos e comportamento maternos” a uma macaca abraçando a sua prole seria acusado de antropomorfismo e jamais seria levado a sério novamente como cientista. Esse não é mais o caso. O mapeamento recente dos genomas revelou a surpreendente semelhança entre a composição humana com a dos primatas, e apenas um pouco menos semelhante a de mamíferos como ratos e camundongos. Agora não é mais aceitável a ideia de que os animais agem simplesmente por instinto enquanto os “seres humanos pensam e se comportam racionalmente”.
Em 2004, depois de 100 anos desde que pessoas iniciaram um trabalho de cuidados aos animais, o Hunting Act foi aprovado neste país [Inglaterra], proibindo o “esporte” covarde e desprezível da caça à raposa, juntamente com a caça às lebres e a caça aos cervos com matilhas. Recentemente, vimos a indignação do público em relação ao assassinato sem sentido de um magnífico veado, e banalmente por causa dos seus chifres. Mas esta é apenas a ponta do iceberg; milhões de criaturas altamente inteligentes, mais inteligentes do que cães e gatos que esta nação tanto ama, estão sendo abusadas na Grã-Bretanha neste momento.
Porcos, bois e cordeiros são criados puramente como mercadorias, prontos para o brutal matadouro. Frangos e galinhas são criados em gaiolas sem a indulgência de uma vida ou morte decente [natural]. Todos os animais de criação são agora espécies criadas pelo ser humano para atender a demanda por mais produtividade e mais e mais dinheiro sem qualquer preocupação com o seu bem-estar. Aqueles perus, que serão abatidos neste Natal, nunca irão andar [em referência ao fato de que muitos engordam tanto em pouco tempo que são incapazes de se locomover, além de sofrerem com as articulações fragilizadas].
Outras aves são criadas em gaiolas, e depois libertadas para viverem uma vida lamentavelmente curta que termina com tiros de espingarda, só por diversão. Milhões de primatas, que são nossos parentes mais próximos, são usados em experiências, mantidos em gaiolas em laboratórios, campos de concentração que chamamos de “humano” [Brian May faz uma crítica a banalização do termo ‘humane’, normalmente usado na tentativa de banalização do sofrimento animal. O termo humano traz embutida a ideia de que um animal é bem tratado antes de morrer, o que é uma contradição em essência, já que nenhuma criatura explorada morre feliz]. E temos um governo que quer trazer de volta a caça às raposas (alegando que isso é humano, pedindo “provas” de que as raposas sofrem).
Fonte: portaldoanimal.org
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