Vamos conversar um pouquinho sobre um evento cada vez mais comum nas famílias modernas, a opção por ter apenas um filho.
Nas famílias de nossos avós e até mesmo de nossos pais, a tradição era ter muitos filhos… talvez porque nossas avós, raríssimas exceções, foram educadas para serem “do lar”, para serem esposas e mães somente. Nossas mães, em quantidade significativa, são de uma geração onde as mulheres eram educadas para serem mães e esposas, mas os apelos de uma sociedade de consumo e a revolução feminina acabaram levando-as para o mercado de trabalho. A minha geração pensava em casar, ser mãe, porém sem abrir mão de uma carreira… A geração da minha irmã, que é anos mais nova que eu, queria ter uma produção independente e uma carreira sólida e para conciliar estes dois desejos, somente um filho era o ideal.
Certo, mudanças sociais provocam mudanças na nossa forma de pensar e conceber a vida, ou seja, os tempos mudam e mudam também nossos valores. Mas, apesar de tudo isso, o desafio da maternidade não muda. Ao ter filhos, não importa quantos, toda mãe deseja que eles sejam pessoas de bem, felizes e equilibradas, não é? Então, diante daquele olhar indefeso, algo que não sabemos explicar aflora dentro de nós e tudo que queremos é proteger aquele “serzinho” de tudo e de todos… e é aí que muitas mães se perdem e ao invés de criar filhos fortes e emocionalmente saudáveis, cria verdadeiros monstrinhos, seres que acreditam que o mundo existe para servi-los, com baixa tolerância ao sofrimento e à frustração.
Claro que isto não acontece somente em famílias que optaram por terem apenas um filho, mas é muito mais comum nesta organização familiar, gerando o que os especialistas chamam de “Síndrome do Filho Único”.
Esta síndrome se traduz em crianças que apresentam mau comportamento extremado, apresenta como sintomas mais comuns o egoísmo, a dificuldade de ouvir um não, a timidez excessiva, o apego excessivo aos pais e a crença de que ele é sempre o centro das atenções.
A responsabilidade é totalmente dos pais! A criança, embora tenha como todo ser humano, tendências inatas, se forma e reproduz comportamentos que são aprendidos em seu convívio com os familiares, com a escola, com a sociedade. Se ela for educada de modo a se achar o centro das atenções, acreditando que tem direito a tudo, chantageando se manipulando para conseguir o que quer e não valorizando nada do que tem, provavelmente desenvolverá a Síndrome do Filho único (mesmo que não seja filho único!). Em outras palavras, pais que não colocam limites, não educam pelos exemplos, se projetam em seus filhos, lhes privam de frustrações, não os ensinam a valorizar as pequenas conquistas, nem os ensinam a exercitar a responsabilidade podem gerar um filho desequilibrado emocionalmente.
Nossos filhos precisam entender que a vida não nos dá nada de mão beijada, que é preciso fazer sua parte, ser responsável, buscar conquistar o que se quer e isto precisa ser ensinado desde cedo. Como? Bem, crianças fazem manha, fazem birra, fazem a gente passar vergonha, são manipuladoras quando querem conquistar algo que lhes dê prazer e, geralmente, em nome de não “pagar mico”, cedemos, barganhamos e damos tudo que eles querem… Recebemos visitas, nossos filhos esparramam todas as mil caixas de brinquedos pelo quarto e quando a visita vai embora, você ou seu cônjuge vão guardar tudo sozinho, porque a “pessoinha” está cansada e se recusa a fazer a parte dele(a).
Você com peninha deixa pra lá, afinal ela é tão pequena e indefesa! Você trabalha muito e não tem pique quando chega em casa para brincar, brigar, cobrar, então vê as coisas “erradas” e deixa prá lá… Você se sente em débito com seu filho pois não tem tido muito tempo para conversar e acompanhar seu dia a dia, para minimizar sua culpa você gasta um dinheiro que não tem para dar a ele uma celular de última geração, que muitas vezes ele nem sabe bem como usar.
As pequenas mazelas não param por aí… você deve estar vendo um filme passando na sua cabeça nesse momento!
Quem ama educa, e quem educa diz não, dialoga, reflete com o filho as consequências das atitudes. Mais que sempre ouvir um sim e ter muitos bens materiais que nem sempre sabe valorizar, seu filho, único ou não, quer de você duas coisas que não custam nada e fazem milagres: querem amor e atenção! Se você não tem disposição para dar isso, precisa repensar seu papel como pai/mãe… Filhos não são brinquedos que podemos usar e jogar fora quando enjoamos… Filhos são para a vida toda.
Pensem nisso!
(Autor: Claudia Pedrozo, trabalha na Educação Pública de São Paulo há 26 anos.
Já foi professora, coordenadora pedagógica, diretora de escola e atualmente está na Supervisão de Ensino.
É Pedagoga de formação, pós graduada em Gestão Escolar pela Unicamp, em Psicopedagogia pelo CEUNSP e é Psicanalista.)