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“Eu quero descansar no teu peito o cansaço dessa vida…”

Tem um trecho de uma música da Canto Dos Malditos Na Terra Do Nunca que diz: “Eu quero descansar no teu peito o cansaço dessa vida e o peso de ter que ser alguém.”E não é isso que todos procuramos em um relacionamento? Além, é claro, de buscarmos alguém que seja nosso parceiro para enfrentar as durezas do dia a dia, que seja cúmplice e felicidade dobrada nos momentos de alegria, não estamos, na maioria das vezes, sedentos por uma fonte de acalento; por um peito que seja abrigo para o extravaso das dores que já não couberem no nosso?

Não é que a gente vá criar uma espécie de dependência e fazer do outro nossa única fonte de felicidade e calmaria: é preciso que saibamos que estas vêm, antes de tudo, de nós mesmos. Aqueles que caminham ao nosso lado assistem, auxiliam, bagunçam, potencializam, mas ninguém além de nós mesmos deveria ser o protagonista da nossa própria felicidade.

Porém, todos precisamos, em algum momento, de um lugar pra descansar. Todos precisamos de alguém que nos ajude a organizar mentalmente os pedacinhos dos nossos sonhos quando eles forem, mais uma vez, triturados pelo mundo. Todos precisamos de alguém que assuma o controle enquanto estivermos ocupados descobrindo como recuperar o nosso. Todos precisamos de uma presença que, ainda que silenciosa, nos distraia e alivie um pouco do sufoco que é ser alguém.

Somos todos cansados, macerados, sobrecarregados e precisamos, vez ou outra, abandonar a postura – e a certa frieza – que adotamos para sobreviver e fazer alguém cúmplice das nossas fraquezas. A gente para de se esforçar e deixa todo o cansaço da mesmice, a revolta com as injustiças, as saudades colecionadas e sufocadas, o medo do fracasso e o peso das responsabilidades vir à tona para depois seguir em frente, mais leves ou não, mas com a sanidade preservada pela vasão daquilo que nos afoga aos poucos.

Em um mundo que constantemente nos exaure das mais diversas formas, felizes daqueles capazes de manter cumplicidade e devoção suficientes para se fazerem fonte de abrigo e serenidade um do outro; felizes daqueles que encontraram seu descanso.

(Autora: Patrícia Pinheiro, escritora e revisora)

Patricia Pinheiro

É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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