Amor

Eu me perdi em você!

Por dentro do teu olhar era tão fácil se perder.

E eu me perdi.

Eu me perdi quando transformei a curva do teu pescoço num abrigo. Num cantinho só meu. Como se eu pudesse decretar que você era o meu lugar favorito no mundo. Tinha um cheiro só seu, uma textura só sua. Era digno de ser visitado várias e várias vezes.

Eu me perdi quando entrei no teu coração. É um labirinto e eu não achei a saída. Talvez seu coração só cumpre com a função de bombear sangue, sem precisar de muita cerimônia ou poesia. Oposto ao meu. Quando você me pedia calma e eu dava a alma. Te acertei a queima roupa. O amor realmente é muito frágil.

Eu me perdi na singularidade de toda a gentileza que me foi doada. Eu achava que era sorte. Mas era só você, sendo você. Sempre munido de boas intenções, palavras doces e um cavalheirismo que me fazia acreditar que você era um homem do século passado ou que eu era muito, muito especial.

Eu me perdi nas carícias despudoradas, quando você passeou em mim, e me fez arrepiar em lugares que eu nem sabia que era capaz de sentir sensações que afloravam a pele. Cada toque seu era um convite para desejos insaciáveis.

Eu me perdi no teu silêncio, que me grita todo dia. Vem carregado de “serás”. Será que ele tá bem? Será que está com outra pessoa? Será que ele pensa em mim? Será que ele se importa? Será? Será?! A tua ausência me visita todo dia. E isso tudo, as dúvidas, o silêncio, a ausência, a junção de todas as coisas que me fazem lembrar você, não vão me fazer te procurar. Você nunca me pediu para ficar.

Eu me perdi nas nossas entrelinhas, que deviam ter sido descobertas. Me precipitei com impulsos mesquinhos, não te dei sossego, te baguncei, quase te explodi. Logo eu, que sempre pedi leveza, te dei o peso. Só queria saber em qual demonstração de afeto meu você iria perceber que eu era sua.

Eu me perdi nos seus passos desajeitados e na sua dança diferente. No seu sorriso despretensioso e na sua voz grave. No seu mistério e nos seus problemas. Na falta de compromisso, revertido em tesão. Na saudade disfarçada de carência. Perdi o tempo, tive pressa. Quis ser alquimista, te levar pra outra constelação.

Eu me perdi em você porque você nunca foi meu. Se fosse, teria encontrado em você, o nós. E não há nada que reverta essa situação. Nem bússola, nem mapa, nem bola de cristal ou promessa pra São Longuinho.

E tá tudo bem. Tudo bem mesmo. Me perder em você foi a minha melhor confusão. E a mais bonita também.

Imagem: Brooke Cagle

Ana Carolina da Mata

Ela ama comer. Tem medo de apontar para uma estrela no céu e acordar com uma verruga no dedo. E também ama comer. Acredita que troca de olhares, às vezes, são mais bem dados que beijos de cinema. Não confia em pessoas que não gostam de animais. E ama comer. Tem medo do escuro e acha normal falar sozinha. Vive no mundo da lua e adora comer por lá também. É sagitariana, paulista, teimosa, devoradora de filmes, gulosa por livros e por comida também. Mas acha tolice tudo acabar em pizza, porque com ela, acaba em texto. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Ana Carolina da Mata

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