A vida cotidiana está apressada, intensa, todos possuem mais compromissos do que o tempo permite. As crianças muitas vezes nem conhecem as horas e já se dizem atrasadas para compromissos que seus pais estabeleceram. Nesse processo todo, nesta construção do tempo apressado, quem percebe o envelhecer?
O que significa envelhecer?
Emily de Souza Abrahão , questiona o conceito: “Envelhecimento é um termo emprestado da biologia. Caracteriza o processo de desgaste da energia vital ao longo do tempo, em consequência da passagem do tempo. Pode ser entendido também como o processo cronológico pelo qual um indivíduo se torna mais velho”. Porém todos sentem, independente da idade que possuem, que o envelhecimento traz alterações biológicas, psicológicas e sociais.
A questão é “como conviver com essas mudanças?”, Como olhar o envelhecer? Em ver-lhe ser?
Quando começarmos a falar, nos dizem que somos crianças e deixam de nos tratar como bebês. Ao concluirmos o ensino fundamental, não somos mais crianças e temos que agir como adolescentes. Ao ingressar na faculdade, a adolescência terminou e somos jovens. Ao ingressar no trabalho, somos adultos. Todas essas fases possuem um lugar específico a se estar e comportamentos socialmente esperados a se cumprir. Conforme o envelhecer, mudamos o lugar social que ocupamos.
Em 1915, no artigo “O Inconsciente”, Freud nos traz o conceito sobre a atemporalidade dos processos inconscientes, processos esses que podem ser apreendidos através da comunicação, da linguagem e suas inúmeras configurações que nos direcionando a um pensar sobre um outro tempo, um outro lugar que não o tempo cronológico, um tempo que não se conta conforme os anos passam, ou seja, algo que não envelhece, que não sofre alterações do tempo se compararmos ao corpo.
Se o inconsciente é atemporal e não envelhece, por que a disposição diminui?
Em 1969, FREUD, cita a questão da entropia psíquica, não se referindo à ausência de investimento libidinal, e sim ao desinvestimento libidinal em objetos externos e o retorno dessa libido para o Ego, como acontece no Narcisismo (etapa inicial do desenvolvimento humano, onde a libido está voltada para si). A entropia psíquica é a perda da plasticidade, considerada crescente à medida que se envelhece. Envelhecer pode ser pensado como uma fixação, uma resistência em determinados conceitos. Resistência a mudanças que muitas vezes é percebida como ansiedade.
Unindo esses dois pensamentos e aspectos da teoria freudiana, apesar do inconsciente não envelhecer, ser atemporal, conforme aumenta a idade, o ser humano tende a diminuir o investimento libidinal no externo, perdendo por vezes a plasticidade de mudar o lugar que se ocupa. Enquanto jovens e adultos mudam do lugar de filho para o lugar pai, ou para o lugar de profissional com muita facilidade, quem está envelhecendo parece ter dificuldades nesse aspecto. Por vezes até de forma automática, sem pensar, sem sentir, sem “em vê-lhe ser”.
Após a idade que a sociedade delimita como idoso, que lugar ocupar?
“Em ver-lhe ser”, “em olhar o ser” pode significar estar mais voltado a si próprio que ao externo, o que tendência a fixação de pensamentos, resistindo a mudar com tanta facilidade o lugar que se ocupa (de profissional para pai, de pai para avô, de pai ou avô para par afetivo) colocando-se somente no lugar de idoso.
Esses lugar de idoso, é o lugar do conceito de envelhecimento que a autora Emily de Souza Abrahão questiona.
Envelhecer, “em vê-lhe ser” significa um retorno aos conceitos freudianos, no qual o inconsciente é atemporal, não envelhece e a entropia psíquica a qual diminui a plasticidade, pode ser percebida como um sintoma a ser trabalhado e ressignificado.