A adolescência é a fase da vida que separa a infância da fase adulta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) começa aos 10 anos e termina aos 20 anos, contudo, não há uma rigidez quanto ao início e o fim, podendo haver variação de indivíduo para indivíduo. Esse período do desenvolvimento humano é marcado por profundas transformações físicas, biológicas, comportamentais e sociais.

É bastante comum os sentimentos de perplexidade, angústia e impotência de muitas famílias, principalmente dos pais, ao se depararem com as mudanças dos filhos ao despedirem-se da infância e ingressarem na adolescência. É como se, de uma hora para outra, os pais se dessem conta de que já não reconhecem mais o próprio filho. As mudanças são contundentes, especialmente no que diz respeito ao comportamento do adolescente.

Por trás dessa grande transformação está a ação dos hormônios que promovem mudanças significativas no corpo dos meninos e meninas. Não é tão simples despedir-se do corpo de criança e assumir um corpo totalmente diferente num espaço de tempo relativamente curto. Dentre as principais alterações estéticas e fisiológicas nas meninas estão: o crescimento das mamas, a primeira menstruação, o aumento dos quadris, acnes, pelos pubianos e nas axilas. Enquanto aos meninos são apresentados o engrossamento da voz, o aumento do pomo de Adão (popularmente chamado de gogó), a ejaculação, acnes, pelos pubianos e barbas etc.

Toda essa mudança física e estética requer um tempo para ser elaborada e, esse processo não obedece a uma padronização, ou seja, acontece de acordo com a individualidade de cada sujeito. Em função disso, é bastante comum muitos adolescentes se esconderem dentro de roupas muito largas, isso nada mais é do que uma forma de evitarem os olhares externos para a sua nova forma física, uma vez que nem eles próprios acostumaram-se à ela.

Os conflitos, no entanto, transcendem a perspectiva estética, acentuando-se, sobremaneira, nos aspectos relacionais. Paralelamente às tantas mudanças, o adolescente vivencia o processo de formação da própria identidade, processo que, no geral, compreende uma ruptura, total ou parcial, daquilo que ele aprendeu com a família nuclear como sendo certo ou inadequado. A ordem aqui é “pensar com a própria cabeça” e questionar a bagagem de valores que recebeu dos pais. Confrontar tudo e todos torna-se lugar comum para o adolescente, mostrar ao mundo que ele é dono de si e que não é mais uma criança tornam-se questões urgentes para ele.

Diante desse quadro, instala-se um verdadeiro caos no convívio familiar. De um lado, os pais que não sabem mais lidar com aquele filho, de outro, um filho que enxerga nos pais uma verdadeira farsa, uma vez que eles deixaram de ser os heróis da infância dele. O sentimento experimentado tanto pelos pais, quanto pelo filho, é de luto. É um luto que simboliza a “morte” da criança para os pais e, por outro lado, a morte dos “detentores de todo o saber” para o filho.

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O filho adolescente percebe que os pais não são aquele modelo de perfeição que eles tinham na infância, então há uma percepção dos genitores como pessoas que erram, falham, sentem medo, etc. e isso simboliza uma decepção para o adolescente que sente-se enganado por ter acreditado que os pais eram seres perfeitos e inquestionáveis nos tempos de criança.

Diante desse sentimento de luto, o adolescente vai em busca de outros referenciais para ele se apoiar, é quando ele busca inserir-se nos grupos, projetando neles a necessidade de ser aceito bem como a necessidade de conviver num ambiente no qual ele possa expressar-se com autonomia. Aqui há um paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que ele anseia afirmar a sua autonomia, ele “copia” tudo o que é vivenciado no grupo, pela necessidade de sentir-se acolhido. Em função disso, os adolescentes de um determinado grupo tendem a usar o mesmo estilo de vestimenta, falar as mesmas gírias, etc.

Esse é um momento de grande vulnerabilidade para os adolescentes, pois, na ânsia de serem aceitos e se auto afirmarem, eles poderão tornar-se alvos fáceis para os grupos vinculados à marginalidade e ilicitudes no geral. Cabe, nesse contexto, mais do que nunca, a atenção redobrada da família, buscando todas as formas possíveis de fazer com que esse adolescente sinta-se amado e acolhido no seio da família, apesar de todas as dificuldades comportamentais que ele apresenta.

Caso as dificuldades sejam muito complexas, vale a pena buscar ajuda profissional, afim de que os ajustes sejam feitos e esse jovem não seja atraído por contextos que possam levá-lo a sofrer consequências graves ou mesmo irreversíveis.

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Sou uma mulher apaixonada por tudo que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e Psicologia. Escrevo por qualquer motivação: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel. Sou colunista do site Fãs da Psicanálise.

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