O mundo pode estar cada vez mais populoso, mas, nunca antes soubemos de tantas pessoas amargando profunda solidão! Quantas pessoas chegam até a velhice sem ninguém com quem conviver, ouvir suas histórias.
….” O corpo de uma idosa portuguesa foi encontrado, na cozinha de seu apartamento em uma vila a 25 km de Lisboa, quase 9 anos depois do registro de seu desaparecimento. A descoberta ocorreu na terça-feira (8), dia em que ela seria despejada por atrasar a prestação do imóvel. “…*
Quantos são os que investem o tempo de suas vidas em um relacionamento e que ao cabo deste restam solitários. O que anda acontecendo? Parece que as relações humanas, tidas como sólidas outrora, inclusive as institucionais, já não se sustentam mais. O que até então era duradouro e previsível tornara-se maleável e fluído.
Como nuvens escuras despontando no horizonte, invadindo um lindo dia de sol, cujo movimento está longe de ser calmo e pré-determinado.
Refletir sobre a tentativa de compreensão das atitudes instantâneas, imediatistas e fugazes que permeiam os novos estilos de relacionamento, podem nos remeter a análise feita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman a respeito da fragilidade que rege as relações humanas na modernidade líquida, dos relacionamentos desnutridos. Não nascem para durar.
Assim como a indústria alimenta o consumo, a oferta de sexo casual, a ausência de comprometimentos, nos parece tornar os comportamentos incipientes em quimeras. A exemplo das aquisições de plásticos às aquisições de carne, osso e sangue. Nos parece áspero, mas à luz de uma interação afetiva, nunca antes fora tão fácil estar com alguém sem ter o menor conhecimento ou afinidade por ela.
Relembrando, Guy Debord, crítico polêmico, da sociedade francesa dos anos 60, a despeito do fato que estamos vivendo, desde então, em uma sociedade do espetáculo. Pobre e fragmentária, onde as pessoas consomem passivamente o que lhes falta em suas existências subjetivas. Vivemos a primazia do prazer pelo prazer.
Assim, casamentos duram cada vez menos! Aliás, as pessoas se casam menos e as separações se intensificaram mais. As necessidades hoje, por uma vida financeiramente mais estável, torna instável a relação familiar, os pais ficam menos tempo com seus filhos, que por sua vez, vivem cada vez menos tempo em casa.
E nessa dinâmica frenética, ter um relacionamento, soa compromisso. Assim, o melhor mesmo é só ficar. Nas palavras de Zygmunt Bauman, em “Amor Líquido” a despeito dos relacionamentos na contemporaneidade, ”escorrem pelos vãos dos dedos”.
Em uma alusão aos relacionamentos voláteis Bauman traz uma significativa metáfora, comparando relacionamentos com um vaso de cristal, que quebra na primeira queda. As crises, assim, não são mais para serem superadas, mas apenas um motivo para o fim da relação.
Partindo destas premissas, fica fácil compreender que redes sociais como Facebook e Twitter sejam mananciais de supostas trocas de ideias, afetos, até maiores que reais, já que pela internet nos relacionamos com nossos iguais. E, se por acaso alguém ousar discordar, basta deletá-lo para deixar de existir, assim, no mundo virtual tornou-se um lugar confortável para se morar.
O que são às redes sociais, senão um reflexo da fragilidade das relações humanas? A esquizofrenia alucinada do mundo tem ditado o ritmo de nossas vidas. Impacientes, ninguém tem tempo para perder com nada: nem com o que é importante.
E quem nunca falou ao celular enquanto dirigia, ainda que com adaptador, que atire a primeira pedra!!! “Ah, mas era importante”. Claro que sim. Tudo se tornou importante. Até o que não deveria ser importante. Na atualidade, não há tempo a se perder, ou quase nada. Para que nos demorarmos em um dicionário? Há o Google para a dúvida. Já não ouviu quem o chamasse de Dr. Google??
O problema, porém, não é esse. É preciso, sobretudo refletir sobre o que está sendo feito com os relacionamentos. Em razão das enxurradas de opções tornou-se preciso abraçar a todas? A questão reside na ambiguidade inerente aos dias de hoje, onde ter acesso às coisas e às pessoas de forma tão pronta e aberta, transforma-as em “apropriações”, enquanto as existentes em residuais.
Considerações tão pertinentes apontadas por Bauman, cujas consequências provocadas pela busca frenética de liberdade, resulta na deterioração de laços humanos mais seguros e estáveis.
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