Cotidiano

E se meu filho fosse gay?

Um dos maiores presentes que um homem pode receber é a chance de ser (um bom) pai. Sou grato à vida por ter tido essa chance e sempre me esforcei para honrá-la da melhor forma possível.

Amo meu filho, que hoje já é um homem adulto e, graças a Deus, bem encaminhado. Sim, o amo muito, do jeito que ele é. Nunca tentei mudá-lo, pois reconheci ainda cedo a pessoa maravilhosa e completa que ele sempre foi.

Mudar então o que? Além do mais, quem quer mudar outra pessoa só atesta que não a aceita e respeita. E quem não aceita e respeita, não ama.

Se meu filho fosse gay, isso não faria para mim qualquer diferença. Mesmo porque não haveria nada de errado nisso.

Mas observo a discussão acirrada sobre a homossexualidade que está correndo atualmente, com gente tentando rotulá-la de transtorno que precisa ser curado. A intolerância cresce, os ataques também. De repente, nos vemos catapultados ao passado, com uma renascença de ideias primitivas e limitadas do que seria uma sexualidade saudável.

Tem até um certo homem que defende a tese estúpida de que homossexualidade se cura com porrada e que preferia ter um filho morto a um filho gay. E esse homem é hoje Presidente do Brasil.

“Para mim é a morte. Digo mais: prefiro que morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo” (Jair Bolsonaro)

Ao escutar esse sujeito afirmando que prefere ver um filho gay morto a aceitá-lo como é, ficou evidente que ele é pai, mas não é um bom pai. Se fosse, amaria seus filhos sem impor condições e os apoiaria para que, independentemente de sua sexualidade ou de qualquer outra coisa, fossem felizes.

E um homem que não é bom pai também não é boa gente, já que, se é incapaz de amar e respeitar verdadeiramente a “carne de sua carne”, como poderá respeitar outras pessoas?

Essa postura arcaica de Jair Bolsonaro e sua afirmação de que não aceitaria um filho gay seria, em minha opinião, motivo mais que suficiente para que esse homem não fosse eleito. E sabemos que não é tudo. Ele falou e continua falando muitas outras bobagens absurdas, ele discrimina não somente homossexuais, mas também mulheres, negros, pobres e qualquer um que ele não ache digno de ter sua dignidade respeitada.

Então, sr. Jair Bolsonaro, diferente de sua postura perversa em relação a seus próprios filhos, para mim nada mudaria se meu filho fosse gay. Sabe por que? Porque o amo. De verdade.

Gustl Rosenkranz

Blogueiro residente em Berlim. Apaixonado por palavras, viciado em escrever, sem luvas, tocando no assunto, porque gosta e porque precisa, sobre a vida e tudo que a toca. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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