A experiência da dor é comum a quaisquer seres humanos em algum momento da vida, assim não existe ser humano que não tenha, em algum momento, vivido tal experiência, em maior ou menor intensidade. Cada um a sente de modo único, assim “uma dor só tua”. Também se pode pensar no modo como essa dor é acolhida por ele e por quem o cerca, como a tratar e o que pensa sobre ela.
Por mais que a dor já tenha sido vivenciada da mesma forma e intensidade, ela sempre é única. Ninguém, senão aquele que a sente, pode descobrir e, finalmente, saber o que ela tem a lhe dizer. Nesse sentido, revelar a natureza da dor nem sempre é satisfatório ao paciente, afinal, pode ser que aquela não seja só física, mas que também tenha um cunho psíquico, o qual não é simples de resolver. São então pacientes resistentes a tratamentos e medicações.
Ao longo da vida, o ser humano cria uma série de registros sobre a dor, modo de lidar com ela, hipóteses sobre sua causa, angústias decorrentes e uma série de fantasias. Um ser o qual vive muitas angustias sem poder dão vazão a elas pela fala, acaba adoecendo de modo somático, que seria um adoecimento físico, em decorrência do psíquico.
Na vida adulta, uma doença física pode ser desencadeada por uma série de fatores relacionados ao dia-a-dia, hereditariedade, situações de perda e luto, problemas do lar ou momentos de impasse. Estar doente é estar limitado fisicamente em exercer as atividades cotidianas normais. Há então que se pensar sobre quem nega a doença e segue a rotina utilizando uma série de fármacos para fingir estar tudo bem, ou então quem se entrega e se sente profundamente debilitado.
Pessoas que vivem profunda dor psíquica tem dificuldade em lidar com ela, não conseguindo então lhe dar vazão, usam o corpo como veiculo de expressão, assim ocorre os adoecimentos somáticos. Também são doenças normais as quais devem ser tratadas com médicos, contudo o trabalho de analise pode ajudar bastante na melhora e diminuir as chances de reincidência. Uma das importantes aquisições do desenvolvimento psíquico é a capacidade de simbolização, então seria algo um pouco mais primitivo psiquicamente somatizar, pois denota que houve incapacidade em simbolizar aquela dor. Não houve então elaboração, assim como ocorre num frágil bebê o qual tudo sente em seu corpo, já que não possui linguagem estruturada, nem um eu.
A psicanálise escuta o sintoma do paciente como um furo de algo que não pode ser processado. Neste furo, há bordas, as quais são repletas de fantasias, modos de gozo, entre outros aspectos muito singulares. Na ausência do símbolo e da palavra, como no bebê, é então no corpo que as angustias se manifestarão e serão descarregadas como sintoma.
Estes afetos intoleráveis que originam o sintoma, ainda não podem ser expressos em palavras, então é mais tolerável ao psiquismo lidar com o sintoma do que a real informação que ele encobre, certamente ligada a algum tipo de trauma mais precoce. Lentamente, em analise, a partir do vinculo paciente e analista, ambos poderão trabalhar juntos formas de nomear sentimentos, angustias e indiretamente falar sobre o sintoma, até que um dia, ele se extinguira, pois não haverá mais utilidade para o psiquismo em mantê-lo. O trabalho então consiste em nomear, pensar, descarregar para fora tamanha angustia, seja durante as sessões, ou em sonhos.
O objetivo é de criar condições favoráveis e necessárias para ampliarmos o repertório psíquico do paciente, fortalecimento do ego e ampliação do modo de falar e pensar sobre si, por isso são comuns pacientes trazerem as sessões memórias, até então esquecidas. Há então uma expansão desse eu, maior vazão sobre a fala e nomeação das angustias, assim, cada vez menos o corpo se faz meio de expressão, se tornando desnecessário somatizar.
Pela análise, se pode colocar em palavras o que até então era inominável, sentido apenas no corpo como desconforto. Há então uma construção de capacidade simbólica, maior reflexão, ligações psíquicas e consequentemente fortalecimento do eu e melhora na qualidade de vida física e mental.