O estresse que o pré-vestibulando enfrenta é intenso, mas o problema pode não acabar quando ele entra na faculdade. Muitos cursos de graduação apresentam uma alta taxa de alunos com distúrbios mentais (ansiedade e depressão, por exemplo), como o de Medicina.
Em uma entrevista para a Rádio USP, Eduardo Humes, psiquiatra e coordenador do Grupo de Assistência Psicológica ao Aluno da Faculdade de Medicina da USP (GRAPAL), e Arthur Danila, médico assistente do Laboratório de Transtorno da Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, comentaram sobre o assunto e apontaram uma grave preocupação: muitos estudantes não buscam tratamento por medo de preconceito.
A literatura internacional tem mostrado há anos que profissionais de saúde e estudantes, em especial os de medicina, lidam com desafios pessoais e emocionais, apesar de conseguirem manter um desempenho de nível elevado tanto na faculdade quanto no trabalho. Em outras palavras, eles sofrem, mas não demonstram isso no dia a dia.
Segundo os especialistas, o estresse da graduação não é o único culpado por esses transtornos nos futuros médicos. Características socioeconômicas, o ambiente onde residem e até um fator geracional também podem interferir. Casos mais graves podem levar ao suicídio, que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
“Algumas características sociais e geracionais recentes têm nos dado a impressão de um aumento de prevalência de transtornos mentais pela própria forma como a sociedade e essa geração mais jovem se configuram no cotidiano”, afirmou Danila.
Cada vez mais as pessoas falam sobre saúde mental, o que torna mais fácil a percepção do problema. Mas, algumas vezes, é necessário que alguém próximo aborde o assunto. “E esse alguém pode ser qualquer um que observe alguma mudança no comportamento da pessoa. Então todos podem funcionar como sentinelas”, afirma Humes. Entretanto, o especialista alerta: quando alguém próximo (familiar, amigo, professor) notar algo de errado, é importante tomar cuidado na abordagem, visto que o preconceito é muito comum.
“A questão principal, muitas vezes, é a pessoa conseguir lidar com o preconceito de buscar uma ajuda em saúde mental e o medo, o receio de admitir que precisa de uma ajuda psicoterápica ou farmacológica pra sair daquela fase”, afirmou Humes.
Um ponto que ambos destacaram foi a importância da prevenção. É essencial investir em ações que promovam a saúde e o bem estar físico e mental por meio da prática de esportes e atividades culturais. Além disso, a descoberta nos estágios iniciais da doença interfere diretamente na resposta do paciente. “Quanto mais precoce a busca ao tratamento, melhor costuma ser a resposta”, completa o psiquiatra.
Ouça a entrevista completa aqui.
(Autor(a): Julia Di Spagna)
(Fonte: guiadoestudante.abril.com.br)