Um jeito de ser peculiar, ao mesmo tempo delicioso e sofrível. Atraente, hipnotizante, intenso e incorrigível: eis o romantismo.
Ser um romântico inveterado, nesses “tempos modernos”, é complexo e angustiante. Ter uma visão mais colorida da vida, das pessoas, do mundo e do amor (ao menos do que deveriam ser), pode render um tanto de frustração, de tristezas e de remendos.
Nostalgia. Reafirmações. Surpreendimento. Reinvenção. Carinho. Constância. Divagação. Sentimento. Expressão. Atenção a detalhes, datas, olhares e suspiros. É mais ou menos isso, apenas, o que aspiramos.
Quando somos adolescentes, é até legal. Ao ser romântico, você se sente diferente, sonhador, encantado. Isso dá um frio na barriga interessante, uma cabeça quase sempre nas nuvens, uma sensação gostosa de que, hora ou outra, a nossa ideia de “viver ideal” se materializará. E ainda acontece eventualmente um ou outro fato a indicar que “estamos no caminho certo”, que “é possível”. Ledo engano…
Daí, nos tornamos “gente grande” e a coisa começa a complicar. Percebemos que somos, tipo, beeem a exceção. Que as demais pessoas não tem essa doce imagem da vida, e nem quer ter. Que a perspectiva da maioria é outra, que as suas necessidades são bem diferentes das nossas. Chegamos até a constatar que há coisas mais práticas que possuem um peso relativamente relevante nos relacionamentos: companheirismo, lealdade, bom humor, cumplicidade. Então, vamos vendo que, talvez, era mesmo uma ilusão… Mas, e daí?!
Tentamos “cair na real”. Nos esforçamos para descolorir nossas aspirações. Nos dedicamos a criar, em nosso íntimo, um novo “modo de vida ideal” , a racionalizar, a tentar pensar como a maioria, a “ser devidamente adulto”. Lá pelas tantas, acreditamos até que deu certo. Estamos indo muito bem na nossa empreitada: sérios, práticos, objetivos, pragmáticos. Pensamos: agora, enfim, viveremos melhor, mais “em paz”.
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Mas tudo logo vem abaixo. Acontece um fato qualquer e o nosso coração desmancha. Sofremos. Percebemos que continuamos os mesmos, que é uma doença sem cura. Que desejamos muito mais do que o mundo (e as pessoas) podem nos oferecer. Então o coração aperta, tadinho. Angustiado, frustrado, culpado por ansiar por algo que vê ser impossível.
Então, passado o período mais crítico, aos poucos vamos voltando ao nosso modo “meio adaptado” de viver. Um meio termo entre o que gostaríamos e o que se apresenta, de fato. Claro que continuamos sofrendo, ora mais, ora menos. Claro que continuamos tentando mudar algumas coisas (melhorar, na nossa concepção). Mas é claro, também, que ninguém muda se não quiser. E um não-romântico-inveterado não vê fundamento nas nossas ideias, por não sentir o que sentimos, e por isso não se motiva a mudar. Mas, definitivamente, não entendemos como eles conseguem viver assim…
E entre cedências vamos sobrevivendo. Administrando nossa loucura apaixonante e sonhadora. Reprimindo-a até que extravase. E, quando extravasa, tentando consertar o estrago para que o resultado não seja ainda pior que a nossa complexa e, muitas vezes, angustiante forma de viver.