Na Psicologia Analítica o estudo dos mitos e dos contos de fadas possui uma importância capital no entendimento dos processos psíquicos que se desenvolvem no inconsciente coletivo.
Ambos apresentam uma realidade sobrenatural, fabulosa e mágica. Contudo, existem diferenças importantes entre eles.
Os mitos mostram como as coisas passaram a existir. Falam do gesto criador.
As forças da natureza – como a noite, a chuva, o sol – eram caracterizadas por um deus ou deusa, que teve sua criação descrita na Mitologia. O mesmo ocorre com coisas mais abstratas como o amor, a guerra, etc.
O mito trata então de uma ação criadora e de como o homem se relaciona com a criação, sendo ele mesmo também uma criação divina. No mito sobre a morte, por exemplo, vemos como nos tornamos mortais.
Eles, portanto, explicam a existência de algo no mundo, explicando fatos que eram desconhecidos da ciência.
Os contos de fadas mostram uma situação em que já há uma condição pré-existente. Neles há um problema que é coletivo, mas que não modifica – apenas afeta- a condição humana no mundo.
Os problemas narrados nos contos de fadas espelham ritos de iniciação e formas de como resolver os conflitos e os problemas. Tudo já existe e não há gesto criador.
Nos contos há um herói ou heroína que vive uma série de conflitos, onde seres mágicos o auxiliam ou o atrapalham.
No entanto, os mitos são freqüentemente misturados aos contos ou, então, aquilo que se reveste do prestígio de mito em uma tribo será apenas um simples conto na tribo vizinha (Eliade, 1972).
Além disso, os grandes mitos decaem com a civilização a que pertencem, mas os temas básicos podem sobreviver como temas de contos de fada, migrando ou então permanecendo no mesmo país (Von Franz, 2005)
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Para Von Franz (2005), os contos de fada são como o mar, e as sagas e os mitos são como ondas desse mar; um conto surge como um mito, e depois afunda novamente para ser um conto de fada.
Isso ocorre, pois, dentro da Mitologia temos as narrativas heróicas, que espelham os ritos de passagem e de amadurecimento, assim como os contos de fadas.
As civilizações antigas possuíam seus ritos iniciatórios que tinham como base essas narrativas heróicas.
Por isso, pode-se supor que os mitos possuíam essas duas funções: a de explicar o surgimento de algo no mundo e mostrar ritos de iniciação.
O mito de Eros e Psique é uma prova dessa imagem de rito de passagem, assim como os 12 Trabalhos de Hércules.
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O conto seria então uma espécie de “camuflagem” dos motivos e personagens míticos, sem deixar de perder suas características e sem ser menos importante.
Conforme Eliade (1972), se os Deuses não mais intervêm sob seus próprios nomes nos mitos, seus perfis ainda podem ser discernidos nas figuras dos protetores, dos adversários e companheiros do herói. Eles estão camuflados, mas continuam a cumprir sua função.
Outra informação importante é a diferença entre contos, lendas e fábulas.
As fábulas também possuem um aspecto mágico. Geralmente os protagonistas são animais, mas seu um caráter é didático e moralizante. A natureza – na forma de animais – possui características humanas, simbolizando comportamentos morais bons ou ruins.
Já as lendas tratam de uma história também fantástica, mas seu argumento é retirado da tradição do local. Os relatos das lendas misturam fantasia com realidade. Relatam de forma maravilhosa um acontecimento que suscitou estranhamento, surpresa ou até mesmo medo em uma determinada comunidade. Ou seja, um episódio real gerou um acontecimento imaginário.
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Para concluir o assunto, vemos nesse vasto material maravilhoso e fantasioso dos mitos, contos de fadas, lendas e fábulas, que a despeito das diferenças entre eles, eles continuam nos encantando, assombrando, trabalhando nossos medos, nos trazendo lições morais e éticas e nos auxiliando em nossas jornadas iniciatórias.
Que nós nunca percamos nossa capacidade de nos encantar e que permaneçamos abertos ao imaginário e ao mítico, para compreendermos que nossas vidas diárias não são insignificantes e que existe um mundo além desse material.
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